O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, justificou nesta terça-feira, 13 de agosto, durante sabatina das comissões de Desenvolvimento Econômico e de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, por que o BC não interveio recentemente no mercado de câmbio para contar a alta do dólar diante da reação do mercado financeiro a falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Campos Neto explicou que o BC só intervém no câmbio diante do que chamou de “disfuncionalidades” - como preços dos produtos saindo da normalidade -, o que não ocorreu durante o período de alta da moeda americana.

O presidente do BC explicou que o fato de o Brasil adotar câmbio flutuante serve justamente para situações como essa. Segundo ele, o colegiado da autarquia discutiu o caso, enfatizando a participação de diretores nomeados pelo governo Lula, e, em comum acordo, descartou uma intervenção.

“Entendemos que naquele momento não tinha uma disfuncionalidade grande em relação a outros mercados, o que tinha era a percepção de piora de risco do Brasil”, afirmou Campos Neto, acrescentando que nessas situações, os investidores correm para o dólar como forma de proteção. Por isso, não faria sentido o BC intervir, pois com uma eventual queda da cotação com essa intervenção, "os investidores buscariam outros ativos como opção".

Bastante pressionado por deputados do governo, Campos Neto mostrou-se paciente e defendeu sua gestão à frente da autoridade monetária. Disse que o BC tem conseguido conduzir um processo de desinflação com baixo custo em termos de redução da atividade.

“Estamos com uma inflação que vem convergindo para a meta ao longo do tempo, apesar de alguns ciclos de alta”, afirmou, enfatizando o que o custo da alimentação a domicílio tem puxado a inflação. “A inflação implícita começou a subir, mas recentemente parece que está se estabilizando.”

Muitos deputados cobraram uma queda da Selic, sob argumento que a inflação está baixa e sob controle. Na véspera, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo - indicado pelo governo e cotado para substituir Campos Neto no final do ano - disse que houve entendimento errado da última ata do Copom e advertiu que a possibilidade de alta na taxa Selic está, sim, sobre a mesa do Comitê de Política Monetária (Copom).

Cauteloso, Campos Neto evitou abordar essa possibilidade. Admitiu que os juros no país “são absurdamente altos”, mas lembrou que ajustá-los artificialmente aumenta o prêmio de risco e traz efeito inverso do que o esperado.

“Ainda é verdade que as taxas de juros no Brasil são absurdamente altas, mas a gente quer mostrar que ao longo do tempo a gente tem conseguido trabalhar com taxas de juros mais baixas”, afirmou. “Se observarmos o período mais recente, de 2019 e 2024, tivemos a menor inflação no período com a menor taxa de juros.”

Campos Neto desmentiu um deputado, que havia afirmado que os bancos lucram alto com juros elevados. Segundo ele, essa máxima não faz mais sentido, porque a Selic em elevação provoca uma retração no crédito, que hoje é o principal negócio do sistema financeiro.

“No passado talvez isso fosse verdade em algum momento, mas hoje em dia, como a carteira de crédito vale muito mais do que a carteira própria dos bancos, quando os juros sobem muito, a inadimplência sobe, então você perde muito mais no crédito do que ganha na carteira própria”, afirmou.