A piora do cenário fiscal azedou de vez as expectativas do mercado em relação à trajetória da política monetária do País, com uma maioria relevante de economistas, estrategistas e gestores esperando que o Comitê de Política Monetária (Copom) interrompa o ciclo de cortes de juros na próxima reunião, marcada para começar amanhã, 18 de junho. Já as esperanças para reduções ao longo do ano são bem baixas.

Esta é a conclusão de uma pesquisa conduzida pelo BTG Pactual com 69 participantes do mercado financeiro entre os dias 11 de junho e 14 de junho. Cerca de 83% dos entrevistados acredita que o Copom manterá a taxa básica de juros (Selic) em 10,5% ao ano, contra apenas 17% que esperam um novo corte, com a maioria dos players acreditando que será uma decisão unânime.

Além da manutenção da Selic no patamar atual, mais da metade dos entrevistados acredita que o comunicado do Copom trará poucos sinais do que virá por aí. Para quase 56% dos participantes, o texto virá sem orientação futura, mas falando de "pausa" no ciclo. Já 54% acredita que a comunicação deve vir sem menção de "pausa" no ciclo.

A manutenção da Selic no atual patamar nas reuniões de julho e setembro também é esperada pela vasta maioria dos ouvidos (87% e 88%, respectivamente).

Embora a quantidade de pessoas esperando um corte de 0,25 ponto percentual nas reuniões de novembro e dezembro tenha subido em relação à pesquisa anterior, para mais de 20% e 25%, respectivamente, a maioria espera a manutenção da Selic nas duas últimas reuniões do ano – 70% e 75%, respectivamente. Um aumento em 2024 é um risco considerado “muito baixo” ou “baixo” para quase 88% dos entrevistados.

“Em relação ao nível da Selic em 2024, cerca de 58% dos pesquisados vê a Selic encerrando o ano em 10,5%”, diz trecho do levantamento, assinado pelo economista Claudio Ferraz. “Uma parcela de quase 32% vê a Selic encerrando 2024 entre 10% e 10,25%.”

Para 2025, a maioria dos participantes do levantamento do BTG Pactual (60%) vê a Selic encerrando o ano entre 9% e 9,75%, mas pouco mais de um terço projeta que a taxa básica de juros ficará acima de 10%.

A piora das condições fiscais do País nos últimos tempos é considerada como a principal causa para o mercado rever a trajetória da política monetária, com o governo federal encontrando dificuldades para elevar a arrecadação, enquanto realiza poucos movimentos do lado das despesas.

O levantamento revela que as expectativas não são de melhora nesta frente nos próximos meses – os participantes seguem crendo, em sua grande maioria, na alteração da meta do superávit primário de 2024, depois de o governo revisar a expectativa para 2025 e 2026.

Segundo o BTG Pactual, quase 18% dos entrevistados vê a alteração ocorrendo no próximo relatório bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias (RARDP), do Tesouro Nacional, de julho. A maioria (53%), por sua vez, antecipa alteração “posteriormente”.

Já a possibilidade de uma mudança de rota no processo de ajuste fiscal pelo Ministério da Fazenda está praticamente descartada pelo mercado. “A respeito da chance do governo apoiar e aprovar medidas de contenção de despesas, cerca de 74% acredita que a probabilidade é ‘muito baixa’ ou ‘baixa’”, diz trecho do levantamento.

A previsão de manutenção da Selic vem num momento em que a inflação do País está em níveis considerados controlados. Para a maioria dos entrevistados, cerca de 58%, o IPCA deve fechar o ano de em um intervalo 3,75% a 4,00%.

Em maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,46%, acumulando alta de 3,93%, ficando acima do centro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para 2024, de 3%, mas dentro da margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.

Já o dólar, que ganhou destaque nos últimos dias diante das declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a maioria dos pesquisados (38%) ainda vê o real voltando para o intervalo de R$5,00 a R$5,25 nos próximos 12 meses, mas 52% crê que a moeda ficará acima de R$5,25.

Por volta das 13h, o dólar subia 0,76%, a R$ 5,41. No ano, a moeda americana acumula alta de 11,5%.