Desde o início do ano, o mercado financeiro aguarda ansiosamente a terceira semana de março. O momento será marcado por decisões fiscais e monetárias cruciais para projetar o ano e com potencial de elevar prêmios de risco e a volatilidade dos ativos – a depender do posicionamento do governo quanto à meta fiscal de 2024 e do Banco Central (BC) quanto ao futuro da taxa de juro.

Especialistas aguardam respostas para três perguntas. Haverá contingenciamento de despesas no orçamento e de quanto? A meta fiscal deste ano será mantida em zero? O Copom vai alterar sua comunicação e deixar de sinalizar cortes na Selic para duas reuniões à frente?

Essas questões vêm dominando relatórios de atualização de cenários dos maiores bancos e consultorias. Portanto, se bem-sucedidos, os ministérios da Fazenda, do Planejamento e o BC vão colaborar, em muito, para a precificação mais positiva de variáveis com impacto em cadeia na avaliação da economia.

Em 20 de março, mais uma Superquarta, o Comitê de Política Monetária (Copom) deverá reduzir a Selic em 0,50 ponto, para 10,75%, ao mesmo tempo em que o Federal Reserve (Fed) deverá manter sua taxa básica entre 5,25% e 5,50%. Os resultados são favas contadas. As sinalizações nem tanto.

Além do foco no discurso mais ou menos conservador do Fed e nova rodada de projeções de membros do Copom americano para indicadores econômicos em prazos mais longos, o ponto alto da Superquarta para mercado local é a possível mudança na indicação de futuros cortes de juro pelo BC.

Desde agosto, a instituição prevê reduções para duas reuniões à frente. Dessa vez, pode ser diferente. E o Copom pode se livrar de amarras para perseguir uma sequência de decisões que, em breve, levarão a Selic a um dígito. Mudar a linguagem seria o mesmo que puxar o freio de mão no ritmo de cortes.

Mantida a comunicação atual, a Selic chegaria a 9,75% em junho. “Um nível considerado seguro a ponto de englobar uma inflação maior no Brasil e/ou o corte de juros pelo Fed mais tarde”, pontuam os economistas do Santander que consideram provável que o Copom antecipe – na reunião da quarta-feira – que a sinalização futura deverá ser abandonada em maio.

O banco, que trabalha com Selic terminal de 8,5% em 2024, observa que o mercado preparado pelo comitê para a mudança na sinalização reduziria a volatilidade dos ativos e abriria espaço para observar os dados posteriormente e, assim, dosar o grau de flexibilização que considera adequado para a convergência da inflação à meta – de 3% a partir deste ano.

Spoiler bem-vindo

O BTG Pactual, que também aponta a comunicação como a grande dúvida sobre o próximo Copom, vê vantagens no ajuste da linguagem, mas observa que o BC não tem emitido sinais conclusivos quanto a mudanças.

“Assim, por ora, esperamos cortes de 0,50 ponto ao longo do primeiro semestre e redução final de 0,25 ponto em julho, o que nos leva a manter nossa projeção para a taxa terminal de 2024 em 9,5%”, diz a instituição.

Dois dias depois da decisão do Copom, na sexta, 22 de março, o Ministério do Planejamento deverá apresentar o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas. Caberá ao documento bimestral revelar se as contas apuradas em janeiro e fevereiro estão em linha com o previsto.

Na ocasião o governo deverá confirmar (ou não) a manutenção da meta fiscal zero para o ano. E, a depender do balanço, os questionamentos serão transferidos para maio, quando nova edição do Relatório vem a público.

Favorece o adiamento de alteração na meta, a arrecadação de janeiro, de R$ 280 bilhões, e a estimativa favorável para fevereiro, mês em que a arrecadação deve ter avançado 11,6%, ante um ano antes, para R$ 185 bilhões, segundo a XP. A Receita Federal divulgará os dados de fevereiro durante a semana.

Apesar das dúvidas quanto à arrecadação nos próximos meses, a expectativa, mais pública do que privada, quanto a robusto ingresso de dinheiro no caixa da União diminui a inquietação do mercado quanto à necessidade de um elevado contingenciamento de despesas.

Nesse sentido, impacto positivo teve o spoiler dado pela ministra Simone Tebet, no início de março, de que o bloqueio de gastos será menor do que o esperado. A dica reforçou projeções de contingenciamento da ordem de R$ 25 bilhões.

Cifra a ser acomodada na banda de 0,25% do PIB de déficit ou superávit prevista no arcabouço fiscal – condição que, se confirmada, dispensará alteração da meta fiscal programada para o ano.

Embora atento a incertezas quanto à arrecadação futura, o Itaú Unibanco reduziu sua projeção de déficit fiscal de 0,80% para 0,70% do PIB em 2024 e mantém a defesa de contingenciamento de ao menos R$ 25 bilhões.

A instituição avalia que esse contingenciamento propiciaria uma melhora nas projeções fiscais, no mínimo adiando a incerteza sobre a execução da trajetória prometida, reforçando a credibilidade do governo com a busca do equilíbrio fiscal e auxiliando na redução da percepção de risco do país.

Sem dúvida, bons argumentos a favor da clareza de objetivos da equipe econômica que serão colocados à prova nos próximos dias.