Sob o olhar atento do mercado financeiro, votações de projetos e vetos presidenciais no Congresso devem ocorrer entre terça e quinta-feira, 7 a 9 de maio. E, enquanto parlamentares e governo buscam entendimento, o Banco Central decide na quarta, 8 de maio, se mantém ou reduz o corte do juro. O mercado aposta que a Selic cairá menos.
O posicionamento da classe política e do Copom catalisa a atenção de investidores, gestores e economistas porque, direta ou indiretamente, tem impacto no caixa da União e na formação de expectativas que atiçam o BC que estará, possivelmente, mais exposto a reações à sua próxima decisão.
O risco é concreto, sobretudo dentro do governo, se prevalecer a expectativa majoritária de queda da Selic em 0,25 ponto, de 10,75% para 10,50%. E não em 0,50 ponto, como aguardado até meados de abril, quando incertezas foram ampliadas com a mudança da meta fiscal de 2025 a 2028. Reprise de corte de 0,50 ponto não está descartada, mas é considerada improvável. E a melhora da perspectiva do risco de crédito do Brasil pela Moody’s não mudou o cenário.
O mercado, que não acreditava nas metas fiscais desde o lançamento do arcabouço em 2023, continua cético quanto aos objetivos anunciados com o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2025, inclusive, por ter sido surpreendido pela rapidez da revisão que imprimiu fragilidade à âncora fiscal.
E, somada à perspectiva de manutenção de juro elevado por mais tempo nos EUA, como indicou o Federal Reserve (Fed) na quarta-feira, 1º de maio, essa percepção de fragilidade fiscal justifica um Copom conservador. O dólar tende a seguir forte e capaz de comprometer a queda da inflação.
É fato que o cenário externo está mais claro, inclusive pela sinalização de Jerome Powell de que o juro americano chegou ao topo. Entretanto, o Copom de maio tem uma peculiaridade. Será o primeiro após Roberto Campos Neto indicar maior flexibilidade nas decisões do colegiado que deixa de se comprometer com determinado ritmo de redução futura da Selic.
Portanto, na quarta-feira, 8, o mercado estará atento à nova taxa básica, mas, sobretudo, ao comunicado do comitê e ao placar da decisão – se unânime ou não. A possibilidade de dissenso sempre esteve (e está) presente a cada reunião. Mas, dessa vez, é diferente porque eventual dissenso passou a ser considerado por antecipação. E, caso ocorra, poderá ser interpretado como sinal de confronto entre “antiga” e “nova” diretoria do BC.
A “antiga” diretoria sendo representada por dirigentes nomeados durante o governo Bolsonaro e a “nova” constituída por indicados pelo presidente Lula.
“Antiga” e “nova” diretoria no zero a zero
Contudo, tentar justificar eventual dissenso no placar do Copom por desequilíbrio no comando do banco não é tese que se sustenta neste momento ou em decisões recentes.
Em pronunciamentos e documentos, a diretoria, composta por oito diretores e o presidente, demonstra coesão. Com as substituições por fim de mandato determinadas pela Lei de Autonomia do BC, a diretoria “antiga” e a “nova” empatam, neste início de maio, em número de integrantes – quatro de “cada lado”, além de Campos Neto.
E é com essa formação que o Copom concluirá, em 8 de maio, a 42ª reunião sob a chefia de Campos Neto desde sua posse em fevereiro de 2019. Nesse longo período, em apenas dois de 41 encontros houve dissenso sem arranhar a credibilidade do órgão construída em quase 30 anos.
E a despeito de consenso ou dissenso na quarta-feira, o Copom não deve alterar sua principal mensagem: a tendência da taxa é de queda a ser calibrada, para mais ou para menos, levando em conta a perspectiva de entrega da inflação e expectativas na meta de 3%.
Por ora, a inflação corrente e as expectativas escapam dessa métrica. E o fôlego do mercado de trabalho, da renda e da inflação, destacadamente a de serviços, e o incerto cenário externo recomendam cautela no ajuste do juro, alerta o BC – dia sim e no outro também.
Sinal de que dissenso não traduz confronto entre membros do Copom, o primeiro dissenso da gestão de Campos Neto ocorreu em setembro de 2022, logo após o IPCA em 12 meses cair a um dígito, deixando para trás onze meses consecutivos de alta acumulada entre 10,07% e 12,13%.
Naquele momento, dos nove membros do comitê, todos indicados por Bolsonaro, sete votaram pela manutenção da Selic em 13,75% e dois por uma alta de 0,25 ponto – Fernanda Guardado e Renato Dias de Brito Gomes.
O segundo dissenso ocorreu em agosto de 2023, quando teve início o atual ciclo de queda. E dos nove integrantes do Copom, cinco votaram a favor do corte de 0,50 ponto, para 13,25%. Entre eles, Campos Neto e dois indicados por Lula: Gabriel Galípolo e Ailton de Aquino. Votaram por redução de 0,25 ponto, Diogo Guillen, Renato Dias de Brito Gomes, Fernanda Guardado e Maurício Moura.
Guardado e Moura já deixaram o BC e foram substituídos, em janeiro, por mais dois dirigentes escolhidos por Lula: Paulo Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira. Ambos participaram das decisões do Copom em janeiro e março com placar unânime por redução da Selic, respectivamente, em 0,50 ponto.