O Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA no primeiro trimestre, a Assembleia Geral Ordinária da Petrobras (AGO) e a apreciação pelo Congresso Nacional de vetos presidenciais a decisões parlamentares congestionam a agenda dos próximos dias. E uma coisa é certa: a diversidade e a relevância dos temas podem elevar a temperatura nos mercados global e local e ampliar a volatilidade dos ativos – o que recomenda cautela aos investidores.

Especialmente, àqueles que “trocaram o pé” nos últimos dias com apostas equivocadas em meio à escalada do juro e do dólar aos maiores níveis em meses, no embalo da revisão de metas fiscais pelo governo Lula e percepção de que os juros não cairão tão cedo nos EUA.

Quinta-feira, 25 de abril, promete ser um dia de elevada sensibilidade nos mercados. A divulgação da primeira estimativa do PIB dos EUA no primeiro trimestre de 2024, acompanhada de uma bateria de indicadores, colocará investidores e gestores globais de sobreaviso.

Apesar da força da economia americana, que freia a queda da inflação, analistas apontam que o PIB deve desacelerar de 3,3% anualizados no quarto período de 2023, para o patamar de 2% de janeiro a março deste ano.

Um resultado fora do esperado justificará nova rodada de revisões de apostas para o início do ciclo de redução da taxa básica pelo Federal Reserve (Fed) que já foi cogitada para março, depois para junho. E, nos últimos dias, foi empurrada para o fim do ano ou 2025.

Para a mesma quinta, 25 de abril, relevante para o mercado acionário e também para o governo, está prevista a AGO da Petrobras para eleger novo membro do Conselho de Administração que substituirá Marcelo Mesquita que sai por fim de mandato e decidir sobre a distribuição de R$ 43,9 bilhões de dividendos extraordinários. Assunto que já rendeu pano para manga e, por pouco, não derrubou o presidente da companhia.

Sessão do Congresso marcada para 19h da quarta-feira, 24 de abril, com chance de se estender ao dia 25, colocará em votação vetos do presidente Lula a uma miríade de decisões parlamentares. Entre os vetos a serem analisados estão o que abateu R$ 5,6 bilhões de emendas parlamentares de comissão previstas no Orçamento de 2024; os que envolvem a Lei das apostas esportivas; a flexibilização de uso dos agrotóxicos; e “saidinhas” de presos.

Ainda na quarta, 24, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado deve votar o projeto de recriação do DPVAT que também altera o arcabouço fiscal. Com chance de votação em plenário no mesmo dia, a aprovação do DPVAT antecipará cerca de R$ 15 bilhões para despesas do governo.

Na abertura da semana, segunda-feira, 22, o governo enviará ao Congresso projetos que regulamentam a Reforma Tributária sobre o consumo. Esse encaminhamento estava previsto para 18 de abril, mas foi adiado em função da ausência do ministro Fernando Haddad, que dedicou a semana a reuniões do G20, Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial, em Washington. Antecipando-se, porém, à Fazenda, a Coalizão de Frentes Parlamentares já protocolou 13 projetos de lei com o mesmo objetivo.

Expansão fiscal coloca BC em “corner”

A agenda lotada de temas que afetam interesses diversos e também o caixa do governo não deverá neutralizar, porém, a preocupação do mercado com os rumos das contas públicas do País – tema que, somado à tensão externa, elevou a aversão a risco, turbinou dólar e juro e abateu a bolsa.

O mercado esperava mudança na meta fiscal de 2025, que passou de 0,50% do PIB de superávit para zero, o que levaria à revisão de metas dos anos seguintes, como ocorreu. Entretanto, não contava com a possibilidade de a perspectiva de estabilização da dívida pública ser adiada para o próximo governo.

É fato que dólar e juros escalaram no mercado externo. Entretanto, internamente, a pressão sobre os ativos acionou alertas porque está em construção a expectativa de que, em breve, dólar e juro estarão expostos a maior pressão do governo sobre o BC por Selic mais baixa e a possível (quase certa) retomada de embates em torno da política monetária que poderão ser agravados pela perspectiva de sucessão de Campos Neto.

Haddad informou já ter apresentado ao presidente Lula sugestões de candidatos ao posto. Iniciativa que, segundo o ministro, é uma forma de garantir uma longa e tranquila transição como almeja o presidente do BC que já avisou não pretender deixar o cargo por antecipação.

A ver se a transição será de fato tranquila, uma vez que Campos Neto – tendo ao lado, ou não, seu sucessor – enfrentará um cenário de persistente expansão fiscal prescrita pelas novas metas fiscais.

Sinal de volatilidade contratada para ativos brasileiros, em evento promovido pela XP com investidores em Washington, na quarta-feira, 17 de abril, o presidente do BC não tergiversou. Afirmou que o cenário mudou por incerteza fiscal. A política de juros estará em revisão. Na prática, já está. O mercado financeiro dá como certo que a Selic não cairá na “banguela”.