O mundo do juro próximo de zero nas economias desenvolvidas, realidade pós -crise de 2008, pode ter acabado. O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) só dará início ao ciclo de cortes no segundo semestre de 2024, mas a nova taxa de equilíbrio seria de 3,75% ao ano, segundo a Franklin Templeton, gestora americana com US$ 1,4 trilhão sob gestão. E isso representa um novo paradigma para o investidor global nos próximos 10 anos.

Atualmente, os juros americanos estão em torno de 5% ao ano para conter a inflação e desacelerar a economia. Os títulos dos EUA ficaram mais atraentes do que a renda variável neste cenário, que deve se inverter em 2024.

A expectativa é que o Fed corte juros no final de 2024, mas a Europa, que já mostra sinais mais recessivos em sua economia, deve iniciar o processo antes. No entanto, essa taxa não retonará a zero como nos últimos anos.

“O processo de desinflação está acontecendo, mas em geral essa etapa final é mais desafiadora. E também esperamos uma inflação, e assim juros, acima do que vimos nos últimos anos”, afirma Daniel Popovich, portfólio manager da Franklin Templeton.

Esse é bom cenário para as ações no longo prazo, sendo esperada a volta gradual dos lucros das empresas. As projeções da Franklin Templeton para os próximos 10 anos apontam para um retorno médio das ações globais na ordem de 8,6% ao ano em dólar, enquanto os bonds das economias mais desenvolvidas devem ter um retorno médio de 4,8% em dólar.

O mercado acionário mundial tende a se beneficiar desse processo. Em termos de regiões, o maior retorno anualizado esperado é no Japão, em torno 10,2%, enquanto nos Estados Unidos seria de 8,2%. E os mercados emergentes são uma das grandes apostas, com retorno médio esperado de 9,6% para os próximos 10 anos.

Esse cenário aponta para uma necessidade maior de diversificação na carteira de investimentos, equilibrando renda fixa e variável de diferentes regiões.

No entanto, a China deve ter um crescimento bem menos importante do que teve nas últimas décadas. E a desglobalização, com as economias diminuindo a dependência que tem da expansão chinesa, será um grande tema para investimentos nos próximos anos em infraestrutura e tecnologia, como a de semicondutores.

Já os países desenvolvidos viverão uma queda demográfica que poderá impactar a produtividade. Mas é esperado que a tecnologia, principalmente a inteligência artificial, compensem esse efeito, sendo um outro grande tema de investimentos para os próximos anos.

Outro grande efeito da normalização das políticas monetárias pelo mundo será a desvalorização do dólar frente a uma cesta de moedas desenvolvidas.

“O dólar ficou esticado em termos de valuation com as grandes incertezas globais. Mas o mundo está se definindo e as outras moedas fortes tendem a ganhar força ao longo dos anos”, diz Popovich.