A instabilidade do cenário externo vai exigir cautela para que o Banco Central conduza sua política monetária, que também tem olhos para a instabilidade fiscal e a dificuldade do País de cumprir a meta de inflação de 3%. A advertência é de Diogo Guillen, diretor de política monetária do Banco Central.
“Ninguém gosta de incerteza, o cenário é muito melhor quando as expectativas estão ancoradas”, disse Guillen, ao participar na quinta-feira, 9 de novembro, do Macro Vision Itau BBA, evento organizado pelo banco de investimentos do Itaú.
Segundo ele, três fatores levaram o Comitê de Política Econômica (Copom), do Banco Central, a alterar de “incerto” para “adverso” sua avaliação sobre o comportamento da economia global na última reunião, há dez dias: a resiliência dos núcleos de inflação no Primeiro Mundo, a tensão geopolítica e a elevação das taxas de juros dos títulos de longo prazo do Tesouro dos Estados Unidos.
Para Guillen, os fatores que no futuro poderão levar a uma desinflação nos países ricos, em especial os EUA, ainda não são claros. “Fala-se que a atividade está mais resiliente por estar mais insensíveis a juros, mas não acredito muito nisso”, disse. “No fim, ela é importante para entender o processo desinflacionário nos países desenvolvidos e consequentemente qual vai ser a postura dos BCs no Primeiro Mundo.”
A tensão geopolítica, de acordo com o diretor do BC, tem a ver com a questão humanitária e principalmente com o que vai acontecer com o preço do petróleo. “Neste cenário de incerteza, o leque se abriu”, afirmou.
Sobre o aumento dos juros dos títulos do Tesouro, Guillen reconheceu que os economistas têm dificuldade de entender o que gerou o processo, o que impede de fazer uma previsão sobre onde vai dar.
“Primeiro falaram que era efeito das férias de agosto, quando todos estavam desmobilizados, depois que era causado pelo fluxo de financiamento de curto prazo do Tesouro”, observou.
Ele citou ainda outras possíveis razões, como o efeito fiscal pós-pandemia em vários países, levando ao aumento do prêmio das curvas de juros. Ou a política monetária apertada por muito tempo ou ainda a taxa de juros neutra mais elevada.
“Há vários motivos para essa elevação, o que aumenta a incerteza de como a curva vai se comportar no futuro”, afirmou, acrescentando que o BC está atento ao efeito desse processo nos EUA aqui no Brasil.
“A projeção aqui passa por vários canais: via preço das commodities, pelo câmbio, redução de liquidez, realocação de portfólio”, disse. “Precisamos de cautela.”
Meta de inflação
Guillen chamou a atenção para o fato de a inflação brasileira, embora tenha tido uma queda consistente, ter estacionado em 3,5%, ainda fora da meta estabelecida de 3%.
“No começo do ano, as expectativas de inflação vinham mais altas por causa da discussão se o governo ia mexer na meta; houve queda, mas parou em 3,5%”, disse. “Esse índice incomoda, porque desancoragem gera custo”, emendou, lembrando que levar a inflação para o centro da meta vai exigir “uma política monetária mais contracionista”.
Guillen também falou sobre a política fiscal do atual governo e como isso impacta na política monetária do BC. “Ninguém gosta de incerteza, da mesma forma que a discussão da meta de inflação, a condução da política fiscal tem de ter credibilidade”, advertiu, acrescentando que o BC deve aguardar como o quadro vai evoluir.
“Nem sempre política fiscal expansionista gera crescimento”, afirmou, lembrando que políticas fiscais expansionistas, dependendo de como vai ser a reação financeira, podem levar à redução de atividade.
“Precisamos avaliar qual o impacto da política fiscal para prever a política monetária”, emendou – o que explica a decisão do Copom de decidir manter o ritmo de queda da Selic em 0,5 ponto percentual para as duas próximas reuniões.