A fotobiologia é, hoje, um dos saberes mais importantes no campo. Entender como o a luminosidade impacta as plantas dá aos fazendeiros controle (quase) total sobre a lavoura. Com os avanços das novas tecnologias de iluminação, a eles é permitido fazer as vezes até do sol. E, em muitos aspectos, um "sol" ainda mais eficiente do que o sol de verdade.
O “sol” da agricultura de precisão brilha dia e noite. Sob medida, pode ser ajustado às necessidades de cada cultura e às demandas de cada estágio do ciclo de vida de uma mesma espécie. Nas fazendas mais modernas, as plantações são “irrigadas” com luz –artificial.
Hoje é possível controlar os comprimentos das ondas luminosas para turbinar a fotossíntese, acelerar a floração, elevar a concentração de nutrientes dos vegetais, tornar as plantas mais resistentes ao ataque de doenças e pragas, garantir a saúde do solo... e, consequentemente, aumentar a produção de alimentos. Tudo isso com economia de recursos financeiros e ambientais.
Com a certeza de que “não existe uma receita de iluminação universal e fixa” e que “a gestão contínua da intensidade e do espectro de luz é essencial para maximizar a eficiência”, a agtech francesa RED Horticulure tem atraído parceiros de peso, como a alemã Bayer, a chinesa Syngenta e a francesa Savéol.
Fundada em 2018, na cidade de Lyon, pelos engenheiros Yassine El Qomri, atual presidente e diretor técnico, e Louis Golaz, CEO, a startup está em alta também entre os venture capital. A empresa acaba de levantar € 17 milhões.
A rodada contou com a participação do Fundo Europeu de Bioeconomia Circular (ECBF, na sigla em inglês), das empresas de VC francesas Demeter IM e Unigrains. Na primeira arrecadação, em 2012, a RED Horticulture arrecadou € 2,6 milhões.
A tecnologia da agtech prevê quatro níveis de potência de luz. Sensores instalados na plantação fornecem informações detalhadas sobre a entrada de luminosidade, temperatura, umidade e concentrações de gás carbônico na estufa.
Conectados em rede, os dados podem ser acessados, em tempo real, pelo agricultor via computador e celular. E, de onde ele estiver, pode fazer os ajustes que julgar necessários. É luz certa, na hora correta, nas quantidades ideais.
Nas experiências realizadas em estufas espalhadas pela Europa, as lavouras de tomate renderam 25% mais do que as frutas cultivadas pelos métodos convencionais.
Além disso, a produção atingiu seu pico três semanas depois da primeira colheita, em comparação com as cinco semanas habituais –o que permitiu aos agricultores obter melhores preços com as frutas.
Nas plantações de morango, os rendimentos aumentaram 35% e o tempo entre a semeadura e a colheita reduziu 20%. Em geral, segundo dados da agtech, o sistema propicia uma economia de energia da ordem de 60%.
A luz sob medida não está apenas na agricultura indoor. As lâmpadas foram levadas também para campo aberto. E, nessa área, o Brasil se destaca.
A cidade Monte Carmelo, no Triângulo Mineiro, é sede de uma das maiores experiências de fotobiologia do mundo.
Conduzido pelo grupo Fienile, o efeito da iluminação artificial está sendo avaliado em 18 culturas, como soja, milho, trigo, sorgo, feijão e cana, entre outras.
Batizada Irriluce, a tecnologia consiste na fixação da iluminação em pivôs centrais de irrigação. As luzes são acesas à noite e em dias nublados.
Em 40 dias, depois de 480 horas de claridade artificial, a soja rendeu 66% mais do que o grão cultivado pelos métodos tradicionais –o que representa 45 sacas a mais do alimento por hectare.
Além de seus efeitos sobre a fisiologia das plantas, nos períodos de escuridão, a luz afastou os chamados insetos sugadores. Com isso, foi possível reduzir sobremaneira o uso de defensivos agrícolas.
Inovações em torno da fotobiologia só são possíveis com os avanços nas tecnologias de iluminação LED. Sigla em inglês para “diodo emissor de luz”, esse componente eletrônico converte eletricidade em energia luminosa.
Mais econômico do que as lâmpadas incandescentes tradicionais, tem um leque enorme de aplicações –da iluminação caseira e produtos de microeletrônicos a sinais de trânsito e telões em produções de cinema.
A luz emitida não é monocromática. Conforme o cristal usado em sua fabricação, o LED pode projetar luz vermelha, amarela, verde, azul e violeta. Os modelos conhecidos como RGB são formados por três chips – “R” de rede, vermelho; “G”, de green e “B”, de azul. As cores nada mais são do que os comprimentos da onda de luz. E cada um deles produz um efeito na lavoura.
Dada à redução de custos, versatilidade e durabilidade do LED, os vários usos o mercado global está em ascensão. Mas, ano a ano, o uso da tecnologia na agricultura avança em ritmo mais acelerado –17% contra os 8,2%, de todas outras aplicações.
Avaliado em US$ 16,9 bilhões, em 2020, informa a consultoria Stratview Research, o setor de LED agrícola deve atingir US$ 43 bilhões, em 2026.
Como os inovadores do ecossistema agtech costumam dizer, nas fazendas 4.0, a luz não é apenas fonte de claridade. A luz alimenta, protege e fortalece as plantações.