O mercado secundário de ações de startups está atraindo a atenção de empresas de investimento. Companhias como Lexington Partners, Pinegrove Capital Partners e StepStone estão entre as gestoras que estão levantando bilhões de dólares para comprar participação com preços descontados em empresas de tecnologia através de ofertas secundárias.
A venda de ações por uma oferta secundária acontece quando investidores e empregadores decidem vender as participações que adquiriram ou ganharam das empresas que ainda têm capital privado.
A gestora americana Lexington Partners anunciou nessa semana que está criando um novo fundo. A empresa de capital de risco busca US$ 23 bilhões para comprar ações de investidores de larga escala de startups no mercado secundário, conforme reportado pelo Financial Times.
O alvo atual é 50% maior do que o pensado inicialmente, que era de US$ 15 bilhões. O ajuste ocorreu devido a demanda dos investidores por este ativo. De acordo com a Lexington Capital, a intenção é comprar ações vendidas por gestoras de private equity e dedicar US$ 5 bilhões para compras no venture capital.
Pinegrove Capital Partners, uma joint venture de investimento criada pelas gestoras Brookfield Asset Management, Sequoia Heritage e StepStone, são outras firmas que estão levantando capital para investimento no mercado secundário. Um fundo de US$ 1,25 bilhão já foi levantado para este objetivo.
O interesse dessas gestoras no mercado secundário tem relação direta com o fato de que este mecanismo se tornou uma válvula de escape para funcionários de startups. Muitos empregados remunerados com ações dos negócios não querem esperar ou não enxergam perspectiva para um IPO – principalmente com o mercado menos aquecido.
As gestoras também estão de olho em empresas de grande porte que de tempos em tempos realizam campanhas para a venda de ações de seus funcionários. Companhias como OpenAI e SpaceX já se movimentaram dessa forma no passado.
O aquecimento do mercado secundário também tem relação direta com a oferta de investimentos para as startups. Em 2021, por exemplo, a venda de ações de funcionários estagnou devido ao alto volume de dinheiro despejado em venture capital. A partir de 2022, com um maior rigor dos investidores, a venda de secundárias voltou a ser atrativa.
A captação de dinheiro por startups caiu no último ano. Nos Estados Unidos, de acordo com dados do PitchBook, investidores americanos injetaram US$ 170 bilhões em empresas de tecnologia em 2023. O valor é 30% menor do que o registrado em 2022 e menos da metade da cifra de 2021.
Dados da Forge Global, uma bolsa secundária de capital aberto para ações privadas, apontam que houve um aumento de 50% nos volumes de negociação de ações secundárias de empresas privadas no terceiro trimestre de 2023 ante o mesmo período de 2022.
A tendência é de que esses números continuem subindo. Segundo a empresa, as vendas de ações tiveram um desconto de cerca de 50% em relação ao preço de cada ação na última captação de cada empresa.
Nem tudo, porém, são flores. O mercado secundário ainda carece de uma regulamentação mais eficaz e é muito menos líquido do que os mercados públicos. Ao Financial Times, um investidor descreveu as secundárias como “um mercado atrasado, confuso e dominado por corretores”.
Um caso recente envolvendo problemas nas negociações deste tipo aconteceu com a Carta, empresa de software avaliada em US$ 7,4 bilhões que tem entre seus investidores Goldman Sachs, Andreessen Horowitz e Silver Lake. A companhia vai encerrar sua plataforma de venda de ações dos funcionários após alegações que a startup estava tentando negociar as ações sem o consentimento dos empregados.
No Brasil, a Velvet, fundada em 2021 por Edouard de Montmort e Carlos Naupari, mudou sua estratégia para olhar para empresas em estágios mais avançados do que companhias em momento "pré-IPO".