Depois do boom durante a pandemia, as empresas de tecnologia listadas em bolsas de valores estão sofrendo em 2022. Mas esse mau momento vai além da leva de startups que abriram capital nos últimos anos e inclui aquelas que ainda estão longe de suas ofertas públicas iniciais.

Plataformas privadas que atuam no mercado secundário com a venda de participações de fundos e de fundadores em startups relataram ao site britânico Financial Times uma queda na demanda por ações das jovens empresas de tecnologia. Sem compradores dispostos a pagarem o preço nesse cenário mais restrito, os valores dessas cotas estão despencando.

Uma dessas plataformas é a Forge Global. Avaliada em US$ 2,4 bilhões, a companhia americana opera com um marketplace que permite que funcionários vendam suas participações de empresas antes de seus respectivos IPOs. Em fevereiro e março deste ano, o valor das ações listadas na plataforma caiu 19,9% na comparação com o quarto trimestre de 2021.

Os resultados podem atrapalhar a própria Forge na bolsa de valores. A companhia passou a ter suas ações listadas na Bolsa de Nova York no fim de março, por meio de uma SPAC (Special Purpose Acquisition Company). Desde então, seus papéis chegaram a quadruplicar de valor em um determinado momento, mas recuaram. A alta desde a estreia é de 31%.

Em situação semelhante está a Zanbato, que também opera com a comercialização de ações de empresas privadas. Um índice montado pela companhia e que acompanha mais de 100 das empresas privadas mais buscadas pelos investidores mostra que o valor das cotas diminuiu 1% no primeiro trimestre deste ano.

Pode não parecer uma queda tão grande, mas a última vez que o índice registrou percentuais negativos foi no começo de 2020, quando o mercado mostrou apreensão com o cenário de pandemia que se instalava no mundo.

De acordo com Nico Sand, presidente executivo da Zanbato, a diferença nos preços buscados por vendedores e compradores aumentou durante os primeiros dois meses desse ano. O motivo seria uma maior volatilidade do mercado, que teria deixado os investidores mais cautelosos.

Entre as empresas que estão sofrendo com o cenário de desaceleração está a Stripe. A fintech chegou a ser avaliada em US$ 95 bilhões em março de 2021, tornando-se a startup mais valiosa dos Estados Unidos. Neste ano, porém, o valor das cotas negociadas na Zanbato caiu 4% durante os primeiro trimestre.

Já entre os exemplos de operações de menor porte, mas ainda com um valor de mercado bastante relevante, está a britânica Hopin. A empresa que atua com uma plataforma para conferências digitais viu o valor das ações negociadas no mercado secundário despencar 40% no primeiro trimestre. Em agosto do ano passado, a empresa chegou a ser avaliada em US$ 7,8 bilhões.

Fundada em setembro do ano passado por Edouard de Montmort e Carlos Naupari e turbinada com um investimento de US$ 200 milhões recebido em fevereiro, a Velvet também atua com esse mercado secundário com a compra e a revenda de ações de startups com capital fechado.

De olho nas oscilações do mercado, a companhia mudou o foco do investimento. Em vez de startups em momento pré-IPO para empresas, o plano passou a ser olhar para empresas em estágios mais avançados de valorização e que poderiam não sofrer tanto com o momento atual do mercado.

“A gente tomou essa decisão quando vimos a volatilidade de janeiro e fevereiro. Essa categoria [de startups em estágio pré-IPO] estava muito aquecida no ano passado, mas o mercado esfriou”, diz Naupari ao NeoFeed. “As empresas estão tendo problemas e não estão conseguindo captar dinheiro tão rapidamente como antes.”

Depois de fechar negócios para a compra de ações de startups como Credjusto (do México), Open (da Índia), Nuvemshop e QuintoAndar, a Velvet está com cinco projetos piloto de empresas cuja valorização é de até US$ 2 bilhões e que ainda buscam aportes no mercado privado. “É um estágio no qual o investidor tem mais paciência”, diz Naupari.

Ainda que as estratégias de cada plataforma sejam diferentes, o consenso é de alerta, já que o desempenho das startups com ações negociadas no mercado secundário segue o que está ocorrendo no mercado aberto. O índice Nasdaq Composite acumula queda superior a 15% neste ano. Já o Nyse Composite, das ações listadas na Bolsa de Nova York, acumula queda de 4%.