Neto de Mauricio de Sousa e filho da Mônica, Marcos Saraiva é quem conduz no audiovisual o legado de mais de 400 personagens dos quadrinhos, que há 60 anos encantam gerações no Brasil.
Aos 37 anos, formado em publicidade, como diretor executivo da Mauricio de Sousa Produções (MSP), Saraiva é responsável pelo “boom” de filmes, séries e animações da marca Turma da Mônica, indo além do óbvio.
“Em 2016, pouco depois de eu assumir o posto, pensamos em mais de 30 projetos audiovisuais, com tudo o que podíamos imaginar dentro do nosso universo”, conta Saraiva, ao NeoFeed. “A partir daí, apresentamos as ideias ao mercado, para sentir a temperatura e descobrir as famílias de personagens com maior potencial.”
Foi assim que nasceu o longa de live-action infanto-juvenil “Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo”, que acaba de estrear no país.
O filme leva para as telas, pela primeira vez, os personagens do Bairro do Limoeiro na fase adolescente. E, no rastro dele, estão programadas novas adaptações audiovisuais das criações de Mauricio de Sousa.
Entre elas, o filme “Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa”, com o menino caipira e travesso em carne e osso; a série de animação adulta com o herói espacial da marca, “Astronauta: Propulsão”, e a série em live-action “Franjinha e Milena em Busca da Ciência”.
Até a Turma do Penadinho, formada por monstros e assombrações, vai ganhar as telas, entre outras produções em andamento.
De 2 para 13 produções
“Nossa estratégia é a diversificação de família de personagens e também de faixa etária, o que nos levou a segmentar as histórias com os personagens principais”, afirma Saraiva, referindo-se à dupla Mônica e Cebolinha, criados em 1963 e em 1960, respectivamente.
“Trabalhar com os dois é sempre mais fácil, por ser o nosso produto mais em evidência. Mas passamos a criar conteúdos específicos para cada faixa etária, com parceiros diferentes”, conta ele.
Além das tramas clássicas da Turma da Mônica em animação, que hoje são uma colaboração com a Warner Bros Discovery, a série “Vamos Brincar”, também animada, foi lançada em 2022, com os personagens na fase pré-escolar, em parceria com o Gloobinho e o Globoplay.
“Até 2019, o departamento tinha apenas duas produções audiovisuais”, diz o diretor, citando a série de animação clássica da Turma da Mônica, exibida pela primeira vez em 1976, e a série “Mônica Toy”, lançada no YouTube em 2013.
“Saímos de duas para 13 produções, o que já demonstra quanto o audiovisual está impactando financeiramente a MSP”, conta Saraiva, sem dar detalhes de investimento ou de faturamento da empresa no setor.
O que também encorajou a companhia a seguir com a aposta no audiovisual foi a recepção dos dois longas com Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali crianças, em live-action. “Turma da Mônica: Laços” (2019) arrecadou mais R$ 30 milhões, com um público de mais de 2 milhões de pessoas.
Em seguida veio “Turma da Mônica: Lições” (2021), responsável pela bilheteria de R$ 13,5 milhões e visto por mais de 820 mil espectadores. O resultado inspirou uma série (em parceria com o Globoplay), que foi ao ar em 2022, com o mesmo elenco dos filmes.
Como cresce o número de produções, com personagens em fases distintas, trata-se de quase um “Monicaverso” – para usar o nome do aplicativo da MSP.
“Mas nossa situação é diferente de uma Marvel, por exemplo. Por pertencer à Disney, eles produzem e distribuem o próprio conteúdo", explica Saraiva. "Para nós, é mais complicado cruzarmos os nossos conteúdos por trabalharmos com parceiros diferentes. Nossos produtos conversam entre si mais pela filosofia da empresa e por serem todos baseados no universo da Turma da Mônica.”
O convite
Mauricio convidou o neto para assumir o audiovisual depois que Saraiva alavancou, a partir de 2011, núcleo digital da MSP, setor ainda sob sua direção. Hoje o perfil da Turma da Mônica no Instagram tem 1,4 milhão de seguidores.
“Fui eu que comecei o nosso departamento digital. Até então não tínhamos redes sociais ou canal oficial no YouTube. Não tínhamos contato direto com o público, a não ser pelas cartinhas enviadas à empresa”, lembra o diretor.
A primeira função de Saraiva na MSP, onde ingressou em 2009, foi a de assistente do avô. Mais tarde, ele passou a trabalhar com a mãe, Mônica Sousa (a inspiração para a personagem dentuça e briguenta), responsável pelo departamento comercial.
Um avô à frente de seu tempo
“Meu avô, que continua muito ativo [aos 88 anos], sempre nos encoraja a ousar e a buscar novidades. Por estar à frente do seu tempo, ele nunca torceu o nariz para as mudanças, o que facilitou a investida da MSP no digital e no audiovisual”, diz Saraiva.
E qual a maior vantagem ter crescido praticamente na empresa? “Isso facilita muito. Ninguém nunca precisou me dizer o que é a MSP, qual a filosofia da marca ou como Mauricio pensa”, conta. “Conseguiríamos encontrar alguém no mercado com a minha competência técnica. Mas é vantajoso ter alguém da própria família no cargo, alguém que prioriza a empresa e não o interesse próprio.”
Ainda que tenha entrado na MSP há 15 anos, ele não costuma fazer a conta conforme o registro na carteira de trabalho. “Brinco que estou na empresa há 37 anos”, diz, rindo.
“Inicialmente, eu vivia o aspecto lúdico. E só na vida adulta fui entender o legado e o peso da marca e de Mauricio para o Brasil”, afirma, referindo-se à nostalgia que a Turma da Mônica desperta, com tantas gerações que cresceram lendo os gibis. “As pessoas sempre se emocionam quando digo que sou filho da Mônica.”