A Apple entrou na mira de Scott Galloway. Conhecido por dar previsões do mercado de tecnologia e professor na Stern School of Business da Universidade de Nova York, Galloway é visto como um dos gurus do Vale do Silício. Sua principal característica? Não ter papas na língua.
Durante participação na CEO Conference, evento realizado pelo BTG Pactual, o especialista criticou os esforços das companhias de tecnologia em relação aos headsets munidos de inteligência artificial e realidade aumentada.
Galloway diz que os headsets não funcionam e classificou a ideia como "idiota". “Vão existir aplicações de nicho, videogames e pornografia. Mas em termos de adoção em massa, não faz sentido”, disse Galloway. “Essas coisas vão ser um pouco mais bem-sucedidas do que uma pedra de estimação.”
A crítica é direcionada principalmente para a Apple, que recentemente começou a comercialização do Vision Pro, seu óculos de realidade virtual que chegou às lojas nos Estados Unidos custando a partir de US$ 3,5 mil. Por ora, não há previsão de quando o aparelho será lançado no Brasil.
O tempo dirá se a empresa da maçã vai conseguir vingar o seu novo produto. No curto prazo, o mercado deu uma resposta positiva para a companhia. A Apple chegou a recuperar o posto de companhia mais valiosa do mundo quando anunciou a pré-venda dos dispositivos, em janeiro deste ano. Posteriormente, porém, foi novamente ultrapassada pela Microsoft e agora está avaliada em US$ 2,91 trilhões.
Para o especialista, um dos principais problemas é a eliminação da visão periférica. “Pesquisas mostram que 40% das pessoas que utilizam esses headsets sentem sintomas de náusea em 20 minutos”, afirmou Galloway. “Essa é a definição de uma tecnologia que cria um problema.”
Galloway está também preocupado com o isolamento que a inteligência artificial pode causar. O "guru" prevê uma “epidemia de solidão” se nada for feito para mudar os hábitos de uma nova geração de pessoas, principalmente homens, que estão interagindo cada vez mais com ferramentas de IA.
O temor é de que as pessoas parem de dar importância para coisas como se vestir bem, ser charmoso ou cultivar um bom físico. Em vez disso, será mais frequente que as pessoas se escondam atrás de avatares virtuais. “Estamos evoluindo para um mundo com pessoas jovens muito solitárias”, disse.
A desinformação também é vista como um ponto crítico para o professor universitário. “Para (Vladimir) Putin é interessante que (Donald) Trump vença as eleições. Digamos que ele aloque dinheiro em engenheiros russos talentosos que vão espalhar notícias falsas sobre os adversários. Isso cria um tufão de desinformação”, afirmou.
Para resolver esse problema seria necessário que as plataformas que disponibilizam conteúdo, principalmente as redes sociais, adotem medidas mais rigorosas para moderar as publicações. “Eles não querem verificar fatos, querem sacar cheques”, disse, mas sem citar nenhuma plataforma em específico.
Já no que diz respeito ao temor de perda de emprego, Galloway não mostrou preocupação. “A IA vai criar mais empregos do que destruir”, diz. Ele cita como exemplo a robotização da indústria automotiva, que mudou a forma como as pessoas exerciam suas funções. “Colocaram capital humano em posições mais produtivas.”
Ainda assim, Galloway dá um conselho para quem está preocupado com a tecnologia: comece a usar. “A inteligência artificial não vai roubar o seu emprego, mas é a pessoa que entende sobre inteligência artificial quem vai faz isso”, alertou. “Eu recomendo que todos comecem a brincar com o ChatGPT.”
Pico de capitalização
Galloway explica que a inteligência artificial ainda poderá ser muito explorada pelas empresas, mas que há um exagero em relação ao mercado de capitais. “Chegamos em um pico de capitalização do mercado. Se você olhar o mercado de ações nos Estados Unidos, sete empresas dominam os ganhos da S&P”, disse ele.
Por outro lado, ele afirma que há benefícios em relação à adoção da tecnologia. “Os ganhos de produtividade vão ser excepcionais neste ano”, afirmou. “Estamos saindo do escritório para incorporar isso no dia a dia.”
O alerta para os investidores – e até para os usuários – fica para as empresas que dizem usar inteligência artificial, mas que utilizam o termo apenas para fins de marketing, o que tem sido chamado de "AI Washing".
“É semelhante ao que aconteceu com o pontocom. Dizem que possuem inteligência artificial, mas fazem isso só para aumentar o valor de suas ações”, diz Galloway.