Após a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de apertar as regras para emissões de títulos incentivados com lastro em agronegócio e mercado imobiliário - os Certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) e do Agronegócio (CRAs), e as Letras de Crédito imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCA), os investidores estão esperando que, em poucos meses, falte papel para aplicar e estão se voltando para um título isento que estava esquecido: as debêntures de infraestrutura. E como consequência da maior demanda, os spreads estão caindo.
Segundo um levantamento da RB Asset com dados da plataforma ComDinheiro, a média dos spreads de crédito (custo do risco da emissão em relação aos títulos públicos) das 250 debêntures de infraestrutura mais líquidas do mercado estavam em cerca de 1% ao ano até janeiro, antes da resolução do CMN. Agora, a média está em 0,6%, menor nível desde agosto de 2022.
“Os investidores estão percebendo que precisam realocar os seus portfólios para um cenário de menor taxa de juros e com menos títulos isentos", diz Marcelo Michaluá, sócio da RB Asset, ao NeoFeed. "Como as debêntures de infraestrutura continuam isentas para a pessoa física e sem restrição de lastros, eles estão se voltando para ela e, ao aumentar a demanda, estão redefinindo a nova média de retorno desse mercado.”
Segundo a RB, o mercado de fundos de debêntures de infraestrutura captou R$ 6 bilhões apenas em fevereiro, chegando a R$ 89,5 bilhões. E ao que tudo indica, deve continuar se expandindo. Os fundos de infraestruturas da RB já estão sentindo essa demanda e cresceram mais de 50% neste ano, saltando para R$ 250 milhões sob gestão.
A redução do custo da dívida deve impulsionar novas emissões, que ficaram paradas por bastante tempo, devido à alta da inflação (principal indexador) e à incerteza sobre a taxa de juros futura, que são cruciais para precificar esses títulos de longo prazo, que têm prazo médio superior a 10 anos. Necessidade de capital para investimento em infraestrutura não faltam.
Segundo dados da Anbima, foram 81 ofertas de debêntures de infraestrutura em 2023, somando cerca de R$ 52 bilhões, 43% a menos que em 2022, e quase quatro vezes menor do que em 2019, antes da pandemia, quando foram ofertados R$ 192 bilhões.
“Estamos esperando um pipeline bem maior de novas emissões para este ano, em que já temos inflação controlada e uma expectativa para a trajetória de juros, além de recentes marcos regulatórios importantes para a infraestrutura”, afirma Michaluá. “E, agora, com uma maior demanda do mercado, e possibilidade de captar mais barato, as empresas devem aproveitar para tirar projetos do papel."
Se o grande volume de oferta de CRI e CRA impulsionaram o setor de fundos imobiliários e o Fiagro, e ofuscaram os fundos de debêntures incentivadas, agora, as gestoras estão correndo para divulgar os seus fundos de debêntures ou mesmo abrindo a estratégia. Como é o caso da Trígono Capital e da Tenax Capital, que lançaram fundos nas últimas semanas.
“É natural que novos entrantes apareçam neste cenário, mas é preciso entender que esse mercado é específico, é necessário entender os riscos de longo prazo dos projetos", afirma Michaluá. "Não é um mercado para negociar apenas na mesa da Faria Lima. É preciso ver o que está acontecendo com cada projeto.”