Em meio a um profundo processo de reestruturação, o Bradesco divulgou na quinta-feira, 2 de maio, o primeiro balanço sob o comando de Marcelo Noronha. Os números apresentados mostram alguns resultados positivos, mas analistas destacam que ainda há chão pela frente.
O lucro líquido recorrente do banco totalizou R$ 4,2 bilhões, um aumento de 46,3% em relação ao quarto trimestre de 2023 e um recuo de 1,6% ante o mesmo período do ano passado. O valor ficou 9% acima da média das expectativas de analistas consultados pela Bloomberg.
O retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROAE) atingiu 10,2% no primeiro trimestre, um aumento de 3,3 pontos percentuais em base trimestral e recuo de 0,4 ponto percentual na comparação anual.
Entre os pontos destacados pelos analistas estão a melhora da qualidade da carteira de crédito do Bradesco, com a provisão para devedores duvidosos (PDD) expandida recuando 25,8% em base trimestral e 17,9% na anual, para R$ 7,8 bilhões.
A inadimplência abaixo de 90 dias atingiu 4,1%, queda de 0,5 ponto percentual em base anual e estável na trimestral. O indicador acima de 90 dias recuou 0,3 ponto percentual tanto na trimestral quanto na anual, para 4,8%.
O resultado veio da estratégia adotada pelo Bradesco de restringir a concessão de crédito, apostando em linhas consideradas mais seguras, caso de consignado e imobiliário, depois da escalada da inadimplência no período pós-pandemia. “As safras novas estão boas e bem controladas”, disse Noronha em entrevista coletiva.
Se melhorou a qualidade do balanço, os analistas destacam que a estratégia acabou pesando sobre a margem financeira, uma vez que estes produtos possuem spread menor. No primeiro trimestre, a margem financeira total alcançou R$ 15,2 bilhões, queda de 6,1% ante o quarto trimestre e 9% em relação ao mesmo período de 2023, também sentindo o efeito do menor volume de operações com micro e pequenas empresas.
No período, o banco voltou a crescer em crédito, depois da contração vista em 2023, mas em um ritmo considerado baixo. A carteira de crédito expandida do Bradesco fechou o primeiro trimestre em R$ 889,9 bilhões, aumento de 1,4% em base trimestral e 1,2% na anual.
Para os analistas do Goldman Sachs, o Bradesco corre o risco de não conseguir cumprir com o seu guidance – para a carteira expandida, a expectativa é de crescimento de 7% a 11%, enquanto para a margem financeira total, a projeção para o fim do ano é de expansão de 3% a 7%.
“Apesar de superar o consenso para o lucro, ainda vemos tendências fracas para o crescimento da receita, particularmente nas margens com clientes e o mercado, o que exigiria uma aceleração nos próximos trimestres para cumprir com o guidance, que foi reafirmado”, diz trecho do relatório.
Na entrevista coletiva, Noronha disse que a carteira de crédito atingiu um ponto de inflexão neste trimestre e que a produção média diária em carteira livre, excluindo cartões, teve um aumento total de 18% no primeiro trimestre, em base anual, com alta de 33% para pessoa física e 15% para a jurídica.
A expectativa é de que a produção de crédito vá acelerando ao longo do ano, apoiada na retomada da economia, com o Bradesco conseguindo cumprir as projeções. Dentro do processo de retomada, Noronha disse que primeiro deve vir a expansão do crédito e depois a margem.
“Quando olhamos para o guidance, precisamos olhar o ano inteiro, e não apenas um trimestre”, disse Noronha. “Nossa produção está mais acelerada do que estava, mas com apetite a risco bem sólido e com modelos e políticas adequadas.”
Em relação às despesas operacionais, um dos pontos do plano de transformação, o Bradesco registrou uma alta de 4,4% em relação ao primeiro trimestre de 2023, para R$ 13,4 bilhões. Apesar disso, Noronha afirmou que trata-se de um aumento baixo, menor que o intervalo do guidance, que prevê uma expansão de 5% a 9% no ano.
Ele destacou ainda que o banco está “em ritmo acelerado” no fechamento de agências tradicionais, ao mesmo tempo em que está otimizando o footprint do banco pelo País.
O banco vem apostando na inauguração de agências empresas, especializadas em pequenas e médias empresas com faturamento de até R$ 50 milhões, e na adição de mais correspondentes bancários. O Bradesco fechou o primeiro trimestre com um total 7,1 mil pontos de atendimento, queda de 13,7% em base anual.
Por volta do meio-dia, as ações preferenciais do Bradesco (BBDC4) caíam 1,2%, a R$ 13,83. No ano, elas acumulam queda de 15,7%, levando o valor de mercado a R$ 137,3 bilhões.