Dona da Ipiranga, Ultragaz e Ultracargo, a Ultrapar divulgou seu balanço do primeiro trimestre na noite da quarta-feira, 8 de maio. E, entre outros indicadores, reportou um lucro líquido de R$ 455,4 milhões, alta anual de 66%, e um Ebitda ajustado de R$ 1,35 bilhão, 26% superior à cifra apurada um ano antes.
Esses saltos e os avanços em outras linhas poderiam sugerir uma reação favorável do mercado. Mas não foi o que se viu nesta quinta-feira, 9 de maio. Em um dia de quedas expressivas no Ibovespa, a empresa é um dos destaques negativos nas negociações da bolsa de valores brasileira.
As ações da Ultrapar (UGPA3) recuavam 7,09% por volta das 12h50 na B3, cotadas a R$ 24,90 e dando à empresa um valor de mercado de R$ 27,1 bilhões. Em 2024, os papéis acumulam uma desvalorização de 6%.
Quem parece concordar com essa resposta do mercado é o Santander. Ao analisar a “soma das partes” e as perspectivas dos negócios sob o guarda-chuva do grupo, o banco revisou, para baixo, a recomendação e o preço-alvo da ação da Ultrapar.
“Embora vejamos que a Ultrapar siga gerando valor e entregando resultados sólidos com seu portfólio diversificado, estamos rebaixando a recomendação da ação para neutra e o preço-alvo da UGPA3 para 2024, de R$ 34 para R$ 30”, escrevem os analistas Rodrigo Almeida e Eduardo Muniz.
Uma das razões citadas pela dupla são alguns números divulgados pelo grupo, que vieram levemente abaixo das projeções. Entre eles, o Ebitda ajustado recorrente de R$ 1,3 bilhão, 5% inferior às estimativas do Santander.
No pacote de pontos negativos, o banco também ressaltou o fluxo de caixa livre negativo, em função do capital de giro, o que levou a um aumento da dívida líquida para R$ 8,4 bilhões, ante R$ 6,5 bilhões no quarto trimestre de 2023.
A perspectiva é de que o fluxo de caixa livre melhore nos próximos trimestres, em função da dinâmica de capital de giro e da entrada de recursos provenientes da venda da Oxiteno. Entretanto, esses avanços devem ser parcialmente compensado pela compra recente de uma fatia adicional de 31% na Hidrovias.
No portfólio da Ultrapar, o grande ponto de atenção para os analistas é a Ipiranga, cujos resultados também vieram abaixo do esperado, sob o impacto de questões como irregularidades na mistura de biodiesel e distorções fiscais, além da demanda “pouco inspiradora” e dos altos estoques da indústria.
Olhando para frente, o relatório projeta que o ambiente de competição para a Ipiranga permaneça saudável, com a expectativa de que os principais players sigam focados na rentabilidade e não em ampliar suas participações no mercado. Mas há uma ressalva para a empresa nesse contexto.
“Nós acreditamos que a estratégia aprimorada de sourcing e de vendas da Ipiranga, que gerou retornos sólidos e permitiu que a empresa superasse seus pares recentemente, pode não se materializar no futuro”, ressalta outro trecho da análise.
Como justificativa para essa visão menos favorável de resultados “potencialmente mais fracos” para a Ipiranga, os analistas do Santander apontam questões como a menor disponibilidade do diesel russo e a falta de competitividade em relação aos preços da Petrobras.
No caso da Ultragaz, o banco destacou que a operação segue apresentando margens fortes e projeta uma estabilidade nesses indicadores nos próximos trimestres. As margens sólidas também foram ressaltadas na Ultracargo, cuja expectativa é continuar ampliando sua capacidade.
Em outro componente para as atualizações no papel, o Santander aponta, mais uma vez, o balanço sólido e a estratégia de alocação de capital. Mas entende que a ação está sendo negociada acima da sua média histórica e enxerga, nesse momento, a falta de “catalisadores” para justificar esses patamares.
A partir desse retrato, o banco também revisou algumas estimativas da Ultrapar para 2024. De um lucro líquido projetado anteriormente de R$ 2,1 bilhões no período, a expectativa aponta agora para R$ 1,96 bilhão. Já na receita, a redução foi de 2%, para R$ 127,3 bilhões.