Com dificuldades operacionais e apresentando uma alavancagem financeira bastante elevada, acima de 6 vezes, a Hidrovias do Brasil está trabalhando para colocar a casa em ordem. Para isso, aposta em desinvestimentos, com a venda da sua operação de cabotagem, e o plano de realizar um aumento de capital de até R$ 1,2 bilhão.
Mas para a agência de classificação de riscos Fitch Ratings, a estratégia pode não ser suficiente para melhorar o perfil de alavancagem, com os ratings devendo ficar sob pressão. Atualmente, a companhia tem a nota “BB-” na escala global e “AA-(bra)”, e ambas estão em observação negativa.
Para a Fitch, a grande questão é a re-ratificação feita na proposta de aumento de capital. Na quarta-feira, 5 de março, o conselho de administração da Hidrovias do Brasil – que conta com a Ultrapar como acionista de referência, com uma participação de 40,4% no capital social – revisou a proposta de aumento de capital aprovado no fim de fevereiro.
O ajuste prevê que o aumento de capital poderá ser de, no mínimo, R$ 800 milhões, e, no máximo, de R$ 1,2 bilhão. Na versão anterior, a previsão era de um aumento de capital de R$ 1,2 bilhão.
Em fato relevante, a Hidrovias do Brasil informou que a mudança ocorreu “única e exclusivamente para prever a possibilidade de homologação parcial do aumento de capital, com a inclusão de hipóteses de subscrição mínima e máxima, mantendo os demais termos e condições originalmente aprovados na reunião do conselho de administração de 28 de fevereiro”.
Para a Fitch, se o aumento de capital for de R$ 800 milhões, a Hidrovias do Brasil permaneceria com uma relação entre dívida líquida e Ebitda, em termos pro-forma, ainda acima de 4,5 vezes em 2025, mesmo levando em consideração a venda de ativos, podendo recuar a partir de 2026. A companhia fechou 2024 com uma alavancagem de 6,6 vezes.
“Uma redução no valor da injeção de capital atrasaria os esforços de desalavancagem da empresa, mesmo em um cenário de venda de ativos non-core”, diz trecho do comentário. “O cenário anterior, de aumento de capital de R$ 1,2 bilhão, resultava em uma tendência de desalavancagem líquida mais rápida em 2025, já em direção a 4,5 vezes, o que é mais condizente com a projeção anterior da Fitch e com os atuais ratings.”
A diminuição da alavancagem é uma questão crítica para a Hidrovias do Brasil. A alta do dólar e a estiagem em alguns corredores hídricos do Brasil pressionaram a companhia no ano passado, que registrou um prejuízo líquido de R$ 622 milhões, revertendo o lucro de R$ 18 milhões apurado em 2023.
A companhia fechou dezembro com uma dívida líquida de R$ 3,75 bilhões, aumento de 17%, com o dólar pesando significativamente. Do endividamento total, cerca de 79% está atrelado à moeda americana.
A Fitch afirmou ainda que a venda da operação de cabotagem deve melhorar o perfil de liquidez da companhia, ao injetar R$ 195 milhões no caixa. A agência considerou que o movimento faz sentido, diante da pouca sinergia da operação com sua atuação principal.
No entanto, a Fitch classificou a transação como neutra para o rating, por remover R$ 250 milhões da receita da Hidrovias do Brasil, cerca de 15% do total, e R$ 120 milhões do Ebitda (em torno de 17% do consolidado), mantendo as projeções de alavancagem inalteradas.
A Fitch destaca que os ratings podem ser retirados de observação negativa se a Hidrovias do Brasil apresentar uma recuperação operacional consistente, além do aumento de capital de R$ 1,2 bilhão.
Procurada pelo NeoFeed, a Hidrovias do Brasil não quis comentar.
Por volta das 17h17, as ações da companhia subiam 5,88%, a R$ 2,34. No ano, acumulam queda de 14,3%, levando o valor de mercado a R$ 2,8 bilhões.