O debate sobre se o aquecimento global está tendo consequências para as empresas e suas teses de negócios ganha cada vez mais força diante da intensificação de fenômenos climáticos pelo mundo. Por aqui, quem foi trazida para as discussões foi a Hidrovias do Brasil.

Dois anos após enfrentar a pior seca em 100 anos no Sul do País, a companhia de transportes hidroviários volta a lidar com dificuldades de navegação na região, diante da forte estiagem no corredor que conecta Brasil, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Argentina e por onde são transportados grãos, fertilizantes, minério de ferro e celulose.

Por conta disso, os analistas do Bank of America (BofA) anunciaram a redução do preço-alvo das ações da empresa de R$ 5,30 para R$ 4,50. A recomendação foi mantida em compra.

“Nós reduzimos o preço-alvo uma vez que reduzimos as expectativas para as margens de curto prazo para incorporar as condições mais desafiadoras para a navegação e assumimos uma margem menor no Corredor Sul para refletir os riscos crescentes da seca”, diz trecho do relatório assinado pelos analistas Rogério Araújo e Gabriel Frazão.

Eles revisaram para baixo a projeção da margem Ebitda no período de 2024 a 2025 de 50% para 43%. Os valores estão em linha com a margem média registrada entre 2020 e 2022, quando a Hidrovias do Brasil enfrentou cenário semelhante.

A situação na região Sul não é o único problema que a companhia enfrenta. No Norte, por onde ocorre o escoamento da produção de grãos da região Centro-Oeste, a Hidrovias do Brasil também está tendo que lidar com um regime de chuvas bastante intermitente, prejudicando a navegação.

Esse ponto, combinado com a deterioração no Sul, fez com que as ações da Hidrovias do Brasil acumulassem queda de 23% desde o pico registrado em setembro.

Apesar dos prejuízos para as expectativas operacionais do quarto trimestre e dos três primeiros meses de 2024, os analistas do BofA mantém a recomendação de compra diante do valuation bastante descontado, citando a taxa interna de retorno (TIR) de 14,3% implícita nos papéis.

O momento enfrentado pela Hidrovias do Brasil mostra o quanto algumas empresas podem ser prejudicadas pelos efeitos do aquecimento global.

Em relação à Hidrovias, o BofA alerta que a companhia pode ter que lidar com margens menores, por conta das incertezas relacionadas ao regime de chuvas e seus efeitos sobre a navegação de rios, causados pelo aquecimento do planeta.

“Notamos que a Hidrovias do Brasil tem um potencial de alta significativo em condições normais, mas o seu valor justo cai consideravelmente se reduzimos os pressupostos para as margens no longo prazo”, diz trecho do relatório.

O resultado pode prejudicar aqueles que estão apostando na companhia, como é o caso do Grupo Ultra. Conforme o NeoFeed revelou em outubro, o dono de Ipiranga, Ultragaz e Ultracargo montou uma posição de cerca de 4% na companhia construída do zero pelo Pátria Investimentos a partir de 2010.

A justificativa, conforme as fontes ouvidas pelo NeoFeed na ocasião, foi aumentar a exposição ao agronegócio, segmento que também deve ser prejudicado pelas mudanças climáticas que acometem o planeta.

Por volta das 12h45, as ações da Hidrovias do Brasil subiam 0,55%, a R$ 3,65. No ano, elas acumulam alta de 61,5%, levando o valor de mercado a R$ 2,7 bilhões.