Não seria exagero definir os micróbios como um dos maiores aliados da humanidade graças aos avanços da fermentação de precisão. As bactérias e os fungos, em especial, podem ajudar a aliviar a pressão sobre o planeta, provocada por uma série de processos industriais.

Com a genética e a biotecnologia, é possível hoje programar esses microrganismos para que funcionem como fábricas de insumos para os mais diversos setores econômicos. Do agrícola ao automotivo; do alimentício ao energético.

Como segundo maior poluente do planeta, atrás apenas dos combustíveis fósseis, a moda é um dos segmentos que mais tem se beneficiado dessas minifábricas, invisíveis ao olho nu. Algumas startups do ecossistema de inovação fashion usam os micróbios para produzir tecidos sustentáveis. Outras, corantes.

Fundada em 2018, em Nova York, nos Estados Unidos, a Werewool faz os dois ao mesmo tempo. A bactéria usada é a Escherichia coli, comum nos intestinos, em desequilíbrio, pode levar a quadros de infecção urinária, diarreia e colite, entre outras doenças.

Na fashiontech americana, os micróbios são projetados para expressar proteínas encontradas em organismos inerentemente coloridos, como os corais. Os microrganismos são então combinados com biopolímeros para criar tecidos de diversas tonalidades. Chui-Lian Lee e Valentina Gomez, fundadoras da Werewool, já produzem oito cores diferentes.

“O que é realmente legal e que nos deixa tão entusiasmadas é a química das cores. Conseguimos combinar uma proteína azul com uma proteína verde fluorescente para criar uma maçã verde, por exemplo”, diz Chui-Lian, em entrevista à plataforma AgFunder News. “Podemos criar variações de tonalidade e profundidade dependendo da concentração [da proteína projetada] usada em nossa composição de fibra.”

O tingimento têxtil é um dos grandes entraves da indústria da moda. As cenas das águas contaminadas pela tinta usada em fábricas têxteis são aterradoras, sobretudo na Índia. Para pintar uma tonelada de tecido, gasta-se, em média, 200 mil litros de água.

No início, Valentina e Chui-Lian procuravam um jeito de produzir lã em laboratório, mas se encantaram com a biotecnologia na criação de corantes têxteis (Crédito: Werewool)

Para pintar uma tonelada de tecido, gasta-se, em média, 200 toneladas de água. “E a maior parte dessa água é devolvida à natureza como lixo tóxico, contento corantes residuais e produtos químicos perigosos”, lê-se no relatório The true cost of colour: The impact of textile dyes on water systems, da ONG Fashion Revolution. "A eliminação de águas residuais raramente é regulamentada, respeitada ou policiada, o que significa que as grandes marcas, e os próprios proprietários das fábricas ficam sem prestar contas.”

A Werewool nasceu de um desafio proposto, em 2018, pela estilista inglesa Stella McCartney, a voz mais potente do movimento pela moda consciente, havia proposto um desafio aos inovadores fashiontech: o desenvolvimento de uma lã, sem a necessidade das ovelhas.

Colegas do Fashion Institute of Technology (FIT), Chui-Lian e Valentina toparam. Ao longo do processo, conheceram a biotecnologia, a força dos micróbios e se lançaram em uma outra investigação: como fabricar o tecido já colorido.

A Werewool já captou pouco mais US$ 4 milhões e atualmente as sócias buscam uma uma extensão inicial de mais US$ 6 milhões. Entre os investidores estão Material Impact e Sofinnova Partners.