No IPO do Patria Investimentos, em 2021, Alexandre Saigh, fundador e CEO global da gestora, avisou que chegaria a US$ 50 bilhões em ativos sob gestão até 2025. Mas, segundo o próprio, essa meta será atingida neste ano.

Atualmente, o Patria conta com US$ 43 bilhões sob gestão e, nos últimos três anos, passou a comprar outras gestoras e a incorporar teses de investimentos. Se antes eram duas, hoje são seis. Vão de private equity, passando por venture capital, crédito, real estate e mais.

O foco está em cinco países: Brasil, Colômbia, Peru, Chile e, segundo o CEO global e fundador do Patria, o México, onde a gestora se prepara para fincar bandeira. Sim, trata-se do próximo alvo da empresa de Saigh.

Em uma rara entrevista, Saigh, que vive em Londres, revelou ao NeoFeed que vai entrar no país e pode comprar uma gestora por lá, principalmente na área de fundos imobiliários. Há também planos de avançar na Europa, onde incorporou a operação da inglesa Abrdn, e nos Estados Unidos.

A meta agora é outra. “Dobrar nos próximos cinco anos acho que é uma meta razoável”, diz Saigh, que pediu para que sua foto não fosse publicada. Vendedor do Brasil para os investidores internacionais, ele foi agraciado com o prêmio “Personality of the Year 2024”, da Brazilian Chamber no Reino Unido.

Na conversa a seguir, Saigh fala do memorando de entendimentos assinado com a Arábia Saudita para trazer investimentos ao Brasil, a expansão do Patria e a estratégia que vai adotar, do “momento sui generis do Brasil nos últimos 30 anos” e mais. Acompanhe:

Qual é o momento do Patria?
Da abertura de capital para cá, saímos de US$ 14 bilhões sob gestão para US$ 43 bilhões hoje. Acabamos crescendo três vezes os ativos sob gestão. O IPO foi feito para a gente conseguir expandir nosso menu de produtos e nossa expansão geográfica dentro da América Latina. O nosso foco, naquele momento, era ativos alternativos dentro da América Latina. Na época, levantamos US$ 300 milhões e fomos atrás de comprar outras gestoras que agregassem mais produtos e uma expansão geográfica mais ampla dentro da América Latina. Conclusão disso, três anos depois, nós éramos uma empresa muito focada nas áreas de private equity e infraestrutura, que continuam sendo muito importantes, mas hoje temos áreas de crédito, imobiliária, ações listadas e de private equity solutions, que é fundo de fundos de private equity. Passamos de duas áreas para seis áreas.

E a geografia, o que mudou?
Éramos uma empresa focada muito na América do Sul, principalmente Brasil. Hoje temos uma expansão relevante no Chile, Peru e Colômbia e com a intenção de ir para o México. A gente ainda não está no México, mas a intenção nessa jornada de mais produtos e mais expansão geográfica dentro da América Latina. Para o nosso negócio, é México, Colômbia, Peru, Chile e Brasil. Não é nenhuma mágica, porque são os cinco países que compõem o MSCI, do Morgan Stanley. E a gente percebeu duas outras grandes tendências.

Quais?
Os clientes globais, de fora da América Latina, que representam 75% da nossa base sob gestão, investindo em ativos alternativos. Esse cliente precisa de um parceiro na região que ele desconhece. Ele precisa de um parceiro de confiança. Ele conhece a classe de ativos, mas não a região. Um exemplo disso é que assinamos um memorando de entendimento com a Arábia Saudita, na segunda-feira (3 de junho), para sermos um dos parceiros de confiança para eles investirem na América Latina. Nesses últimos anos, as economias locais dentro da América Latina começaram a se estabilizar, com queda da inflação e dos juros. Aí, os investidores institucionais locais latinos se viram precisando rentabilizar o portfólio. Porque, principalmente os fundos de pensão, que são os nossos grandes clientes, precisavam buscar ativos que rendem mais. Mas os produtos que eles procuravam eram um pouco diferente daquilo que nós estávamos vendendo.

"Os clientes globais, de fora da América Latina, que representam 75% da nossa base sob gestão, investindo em ativos alternativos"

Por quê?
Porque o nosso produto era o panregional, Latam, denominado em dólar. Isso é aquilo que fundos de pensão colombiano ou brasileiro dizem: ‘panregional, denominado em dólar? Não tem algo em pesos colombianos na Colômbia, para dar um primeiro passo?’ O desafio desses clientes não é a região, pois são da região, é a classe de ativos que eles desconhecem. ‘Olha, você vai investir num FIP que investe do México até a Argentina, denominado em dólar’. Um fundo de pensão brasileiro olha e diz: ‘Parece legal, mas é muito complexo’. Com isso, desenvolvemos uma gama de produtos estruturados para os investidores locais, os institucionais chilenos, os colombianos, os brasileiros e assim por diante. Temos mais de 30 produtos nesses diferentes países.

E qual foi a segunda tendência que vocês perceberam?
Identificamos uma vontade desses institucionais locais em investir em produtos estruturados ou alternativos fora da América Latina, principalmente os chilenos. Eles passaram a pedir e a gente vendia para eles produtos de terceiros, da KKR, da Blackstone, da Carlyle. Olhamos isso e pensamos: ‘por que a gente mesmo não faz e verticaliza?’ Foi aí que compramos o business da Abrdn, no Reino Unido, e agora temos produto nosso para vender para os latinos. O que veio junto com a Abrdn é que agora temos clientes ingleses e europeus que investem com a gente em fundos de private equity global.

O Patria mudou de patamar?
Mudou. Isso está totalmente vinculado com a minha vinda para cá, para Londres, há três anos, com a missão de internacionalizar o Pátria.

"O que veio junto com a Abrdn é que agora temos clientes ingleses e europeus que investem com a gente em fundos de private equity global"

Você disse que o Patria tem seis teses. Há outras para entrar?
Como uma nova tese, não. Mas, dentro dessas teses, tem vários outros produtos que ainda não temos. Por exemplo, dentro da vertical private equity tem o que compra empresas já consolidadas. Aí compramos uma empresa de venture capital, que é a Igah. E tem outras várias estratégias dentro de private equity. Dentro de infraestrutura, temos um fundo que faz infraestrutura, a gente constrói. Agora, temos uma que é mais madura. Tem um monte de coisas que podemos fazer em infraestrutura.

Então tem muito para crescer...
Tem muito. Só para você ter uma ideia, hoje temos 30 produtos e o plano é ter 60 dentro de três anos. É dobrar de tamanho.

E comprar outras gestoras, está nos planos?
Sim, continuamos mapeando para preencher esse menu de produtos. Estamos atrás de gestoras no Brasil e na América Latina. Por exemplo, acabamos de comprar os fundos imobiliários que eram do Credit Suisse no Brasil. No México, não temos nenhum. Poderíamos fazer do zero ou comprar uma gestora lá.

Com a visão de negócios e geográfica que você tem atualmente, quais são as maiores dificuldades de se fazer negócio na América Latina e Europa?
Acho que são características diferentes. Na Europa e nos Estados Unidos, os investidores conhecem a classe de ativos alternativos. Aqui, o desafio é convencê-los a investir na América Latina. Já na América Latina, o desafio é convencer a investir em ativos alternativos, com exceção dos fundos de pensão chilenos que são bem sofisticados.

Então você tem de convencer os investidores de fora a acreditarem na América Latina e os investidores latinos a investirem em altivos alternativos?
É exatamente isso. São duas missões difíceis.

No IPO, vocês definiram a meta de chegar a US$ 50 bilhões de ativos sob gestão até 2025. Vai chegar quando?
Acho que chegaremos neste ano.

E o que será o Patria em 5 anos?
Acho que a gente tem de continuar crescendo nesse ritmo. Crescer três vezes em quatro anos, não acho possível. Mas dobrar nos próximos cinco anos acho que é uma meta razoável. Em segundo lugar, estaremos bem-posicionados nos cinco países da América Latina que citei. Mais uma vez, desculpe ser redundante, mas é México, Colômbia, Peru, Chile e Brasil. Com um menu de produtos bem completinho, ainda temos buracos de produtos no nosso portfólio. Então, preencher a oferta nesses cinco países da América Latina. E com uma boa avenida de expansão para fora da América Latina, começando com Europa e Estados Unidos.

"Algumas questões que aconteceram, principalmente geopolíticas, favorecem muito a nossa região"

O que o memorando de entendimentos assinado com a Arábia Saudita representa para o Patria?
Buscamos estreitar o relacionamento não só com os sauditas, mas com outros emirados e países do Oriente Médio. Há muitos anos, eu, pessoalmente, lidero aqui essa área comercial de desenvolver esse tipo de relacionamento. O Fundo Soberano do Kwait investiu com a gente pela primeira vez em 1997. Há mais de 30 anos, a gente vem desenvolvendo relação e trazendo investimento internacional para o Brasil, no Oriente Médio, Europa, Estados Unidos. No ano passado, para te dar uma ideia, viajei 37 semanas das 54 semanas do ano. Tudo para visitar clientes e muitos que se tornaram amigos. Minha esposa reclama que toda cidade que vamos eu invento um jantar com algum amigo (risos). E, sobre os sauditas, temos vários investimentos em conjunto.

Esse memorando vai trazer mais captação para o Brasil?
Sim. Estou nessa estrada, vendendo o Brasil, há 30 anos. E estamos numa situação sui generis positiva de venda de Brasil. Algumas questões que aconteceram, principalmente geopolíticas, favorecem muito a nossa região. Primeiro, não temos conflitos religiosos sérios, não temos conflitos de fronteiras. Então, não tem nenhum tipo de conflito que pode gerar uma guerra. Nós temos problema, mas outro tipo de problema. Há duas horas daqui (Londres) tem guerra. No Oriente Médio, tem guerra. Tem a tensão na China e Taiwan. Então os investidores ficam muito assustados. Porque, uma coisa é você ter uma insegurança jurídica e outra coisa é uma guerra que você perde tudo de uma hora para outra.

Qual outro motivo favorece o Brasil?
A gente tem a energia limpa. Você sabe que a energia produzida no Brasil, mais de 80% vêm de fontes renováveis. Além disso, temos commodities, tanto os minérios como agrícolas verdes. Temos as florestas, que crescem seis vezes mais rápido do que na América do Norte. Se a gente conseguir passar mais segurança jurídica para o investidor... Sou crítico ao Brasil, mas sempre alguma força da sociedade se manifesta institucionalmente e o país volta aos trilhos. Ou o Congresso, ou a sociedade civil, ou o Supremo, ou o Executivo.

E se tivéssemos mais segurança jurídica?
Aí, meu Deus! Com todo o potencial que mencionei...