Pergunte aos praticantes de qualquer atividade física. A resposta, invariavelmente, será a mesma: ter companheiros de treino é uma das chaves para superar limites e agilizar a conquista de resultados. Essa parece ser também uma das motivações da brasileira Gympass, plataforma de benefícios corporativos que dá acesso a milhares de academias e estúdios.

Fundada em 2012, a startup ganhou fôlego ao atrair sócios como o General Atlantic e o Valor Capital. O maior incentivo, no entanto, veio em junho deste ano. Com um aporte de US$ 300 milhões liderado pelo fundo japonês Softbank, a empresa alcançou o status de unicórnio, como são chamadas as empresas que valem mais de US$ 1 bilhão. E agora entende que está em ótima forma para acelerar sua estratégias de crescimento.

“Precisamos achar maneiras mais inteligentes de escalar o negócio”, diz Leandro Caldeira, CEO da Gympass no Brasil. “E com o aporte, uma série de planos para os quais não tínhamos todos os recursos necessários começou a sair do papel.” Nesse novo circuito, o investimento na abertura de um Tech Hub em Nova York é um dos destinos do cheque milionário. Ainda em fase de estruturação, a unidade está em operação desde setembro e será focada em vertentes como inteligência artificial e ciência de dados.

A escolha da Big Apple para sediar o projeto foi motivada por dois fatores em especial. A Gympass transferiu sua sede para a cidade há dois anos, quando decidiu entrar no mercado americano. A empresa também entende que a metrópole facilita o acesso a um perfil de profissional que, além de caro, ainda é escasso em outras geografias.

Ao lado dos cientistas de dados, o Tech Hub vai reunir equipes multidisciplinares, compostas por designers e engenheiros de machine learning, entre outros especialistas. Com uma bagagem de mais de 15 anos nessas áreas, Kiril Tsemekhman é um dos primeiros contratados e atuará como vice-presidente de Ciência de Dados.

Apesar dessas premissas, a seleção está aberta a profissionais de qualquer país, incluindo o Brasil. A Gympass não definiu um número de vagas para a divisão. “Não temos um envelope fechado. O que vai ditar esse volume é a demanda de projetos”, afirma Caldeira.

A força dos dados

Com o Tech Hub e a exploração de conceitos como inteligência artificial, os dados coletados pela Gympass ganham peso na estratégia e no relacionamento com os públicos da companhia: usuários, empresas clientes e academias e estúdios parceiros.

A prioridade inicial da unidade serão as aplicações voltadas aos usuários da plataforma. “A ideia é melhorar a captação, o engajamento e a retenção dessas pessoas”, diz Caldeira.

Hoje, entre as 2 mil companhias clientes da Gympass em todo o mundo, a média de usuários ativos está na faixa de um terço dos funcionários. No Brasil, a carteira inclui nomes como Grupo Pão de Açúcar, Santander e SAP.

A abordagem para ampliar e aprimorar esses índices vai se basear em informações como profissão, local de trabalho e residência, gênero, pesquisas realizadas na plataforma e uso do aplicativo.

Leandro Caldeira, CEO da Gympass no Brasil

Em uma estratégia semelhante a de plataformas e serviços como Netflix, Spotify e YouTube, o plano é oferecer recomendações personalizadas de academias, modalidades e outros recursos a partir desses dados. “Queremos proporcionar o mesmo nível de experiência dos melhores aplicativos”, afirma Caldeira. “Hoje, estamos um pouco atrás nesse quesito.”

A iniciativa começou a ganhar corpo por meio de um projeto piloto no Brasil, liderado por Rodrigo Rodrigues, CTO da Gympass. “Nós conseguimos provar o modelo e decidimos dar escala a essa frente”, diz o executivo. Ele descarta, no entanto, o investimento em novos hubs no médio prazo.

Em breve, porém, o Brasil pode ser uma das primeiras operações no radar de outras aplicações desenvolvidas pelo Tech Hub, mais voltadas às empresas clientes da Gympass.

Com uma carteira mais centrada em companhias com mais de mil funcionários, a startup começa a ampliar o seu leque para empresas de menor porte. E nesse roteiro, um dos planos é digitalizar todo o relacionamento com os clientes desse perfil, da captação até a gestão da operação.

“Nosso ciclo de vendas é longo, em média, de um ano”, diz Caldeira. “É inviável adotar nosso modelo padrão de vendas para esse público.” Com uma divisão criada recentemente dedicada às pequenas e médias empresas, o Brasil é a ponta de lança dessa estratégia que será, pouco a pouco, estendida aos outros 13 países nos quais a Gympass já opera.

Sob esse cenário, um dos esforços no radar é recorrer aos serviços do Tech Hub para aprimorar o diálogo com essas PMEs, por meio de recursos como chatbots. “O foco é agilizar o atendimento a esses clientes, eliminando o máximo possível de interações não digitais”, afirma Rodrigues.

A velocidade é também o tema de outro projeto piloto em curso. A Gympass está usando a inteligência artificial no processo de validação dos contratos. “Nesse caso, o modelo acessa o nosso histórico de contratos para definir os termos e acelerar o acesso dos novos clientes aos serviços.”, diz o CTO.

Expansão

O Brasil é também um dos destinos de outra linha de investimento relacionada ao aporte de US$ 300 milhões: o reforço e a expansão da presença da Gympass. Globalmente, uma das prioridades é consolidar a atuação nos Estados Unidos. A entrada na Ásia é outro plano, ainda em fase inicial de avaliação.

No mercado brasileiro, por sua vez, o roteiro já está mais definido. Hoje, a startup tem cerca de 22 mil academias cadastradas em todo o País, dentro de uma rede global que inclui quase 52 mil parceiras. Já entre as empresas clientes, boa parte tem sede em São Paulo.

Para expandir esse mapa, a Gympass está investindo na montagem de equipes dedicadas a captar clientes e parceiros em outros mercados. Esse caminho inclui, em primeiro plano, capitais das regiões Nordeste e Norte, como Salvador, Fortaleza, Recife e Manaus. A estratégia passa ainda por outros grandes centros do País, como Goiânia, Brasília, Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba.

Em alguns pontos desse percurso, a startup provavelmente encontrará uma nova concorrente. Fundada em 2013, presente em 24 países e avaliada em mais de US$ 600 milhões, a americana ClassPass acaba de desembarcar no Brasil, trazendo na bagagem um histórico de mais de US$ 240 milhões em aportes, com a participação de fundos como Temasek e L Catterton.

A chegada da rival parece, no entanto, não preocupar a startup brasileira. “Diferentemente da nossa proposta, o modelo deles é mais voltado ao B2C e aos estúdios”, diz Caldeira. “E, além do mais, ainda há muita oportunidade no mercado. Nosso grande concorrente ainda é o sofá. E o sedentarismo.”

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