Enquanto corria com os trâmites da sua deslistagem na Nasdaq, um caminho trilhado ao longo de 2023, a Arco Educação reservou tempo para outra agenda: a integração da isaac, startup dona de uma plataforma financeira e de gestão para escolas privadas de educação básica.

Primeiro investidor da empresa, fundada em 2020, o grupo cearense assumiu 100% da operação em outubro de 2022. O acordo avaliou a novata em US$ 142 milhões e se encaixou na tese de diversificação da Arco, conhecida por seus sistemas de ensino, com marcas como COC, SAS e Positivo, e extracurriculares.

Agora, a Arco começa a colher os resultados dessa lição de casa. A isaac vem ganhando relevância no balanço do grupo e, com esse status, está ampliando seu portfólio e acelerando suas ofertas em novos espaços. Em especial, na área de crédito.

“A isaac caiu como uma luva no portfólio da Arco”, afirma Ari de Sá Neto, fundador e CEO da Arco Educação, ao NeoFeed. “É a vertical que cresce mais aceleradamente. Hoje, ela já representa de 15% a 20% do nosso negócio.”

Na tradução dessa evolução em números, a startup, que faturou R$ 165 milhões em 2022, projeta uma receita de R$ 446 milhões neste ano. Na matemática da Arco, esse montante representaria uma fatia de 16,5% do faturamento previsto pelo grupo em 2024, de R$ 2,7 bilhões.

Da mesma forma, a isaac, que caminha para fechar o ano alcançando o break even, é um dos fatores que vai contribuir para a projeção da Arco de encerrar 2024 com um Ebitda de R$ 870 milhões.

A deslistagem é vista como essencial nesse cenário. No processo, concluído em dezembro, a General Atlantic e a Dragoneer, que já investiam na Arco, pagaram cerca de US$ 400 milhões por uma fatia de 43% no grupo. A família Sá Cavalcante manteve o controle com 88% do poder de voto.

“Em oito meses, aceleramos os novos produtos da isaac”, diz Neto. “Algo que, antes, como companhia aberta, era difícil de conciliar com os questionamentos a cada trimestre. Nós reequilibramos essa visão de curto prazo versus a de longo prazo.”

Sob essa perspectiva, uma das novidades no forno da isaac é uma linha de crédito de longo prazo, com opções acima de 24 meses e um tíquete médio – ainda não definido – mais elevado.

Hoje, em crédito, as ofertas da startup são voltadas a antecipações de recursos em períodos mais críticos para as escolas, como as férias e a época de pagamento de décimo terceiro. Essas concessões têm um prazo, em média, de 10 meses e um tíquete médio de R$ 80 mil.

Na nova linha, o plano é financiar compras de imóveis, ampliação de estrutura, reformas e M&As. A modalidade começa a ser testada esse ano. E uma das vias será a Ways, rede de franquias de escolas bilíngues que acaba de ser criada pela Arco, com a meta de chegar a 150 unidades em cinco anos.

“Esse franqueado já é cliente da Arco nos sistemas pedagógicos. Então, tenho mais tranquilidade para pensar nesse formato de crédito”, diz Paula Jorge, diretora-geral da isaac. Ela comanda um time de 550 pessoas, sendo que metade está centrada em tecnologia e desenvolvimento de produtos.

No médio prazo, há outras linhas em estudo. Entre elas, empréstimos para os pais e responsáveis dos alunos. E, mais à frente, o investimento em crédito consignado para professores e funcionários das escolas.

A isaac começou a atuar em crédito em 2022, quando originou R$ 15 milhões. Esse braço ganhou mais foco nesse ano. No primeiro semestre, os empréstimos somaram R$ 150 milhões e a previsão é dobrar esse volume até o fim de 2024.

Até aqui, a startup financia as operações com seu próprio balanço. Mas os planos de aceleração passam pela estruturação de um fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC). No fim de 2023, a issac levantou um primeiro FIDC de R$ 112,5 milhões, voltado, porém, a outra linha do seu portfólio.

Os recursos foram destinados ao receita garantida, produto por meio do qual a empresa assegura os valores a receber de mensalidades para as escolas. A fintech faz toda a gestão desse processo, da emissão de boletos à conciliação, e desconta uma taxa no repasse aos colégios, que varia em cada caso.

Com o apelo adicional de dar previsibilidade de receita, esse foi o primeiro produto da isaac e ainda é o carro-chefe da startup. Em 2022, a carteira era de R$ 1,5 bilhão e, para esse ano, a projeção é chegar a R$ 5,3 bilhões.

“Nós só concedemos empréstimos para clientes que usam a receita garantida”, explica Jorge. “Porque, dessa forma, tenho visibilidade de todo o fluxo financeiro da escola. Então, hoje, temos uma perda de praticamente zero na oferta de crédito.”

Marketplace?

Há novidades também na área de softwares e gestão, onde a isaac vem ampliando seu portfólio além das contas a receber. Um dos módulos recentes é o de analytics, que, entre outras funções, compila dados da escola e da concorrência em áreas como inadimplência, precificação e captação de alunos.

Já para as famílias, o próximo passo será a possibilidade de comprar os materiais pedagógicos produzidos pela Arco por meio do aplicativo Meu isaac. Atualmente, o app reúne recursos como pagamentos de mensalidades, agenda e comunicados dessas escolas.

A venda desses materiais já está sendo testada com uma base reduzida de colégios de uma das marcas da Arco, cujo nome não foi revelado. No médio prazo, a isaac não descarta plugar ofertas de outras empresas na plataforma, sob o conceito de marketplace.

Sob a orientação de consolidar esse modelo one stop shop para famílias e colégios, a isaac está de olho em um mercado total estimado em cerca de 40 mil escolas privadas de educação básica e aproximadamente 9 milhões de alunos.

Se a Arco tem na Vasta, da Cogna, uma das principais concorrentes em seu negócio tradicional, no caso da isaac, a competição ainda está mais restrita a concorrentes específicos em cada nicho da sua oferta.

Um exemplo é a Educbank, que oferece linhas de financiamento para escolas particulares. Há um ano, a empresa captou R$ 70 milhões com debêntures securitizadas em mensalidades de educação básica. Antes, já havia levantado R$ 200 milhões em uma rodada com investidores como a própria Vasta.

Com uma carteira de 1,8 mil escolas e a projeção de superar 2 mil no fim de 2024, a principal aposta da isaac nessa disputa está dentro de casa. O foco é investir nas vendas cruzadas junto aos cerca de 10 mil colégios e 3,4 milhões de alunos atendidos pela Arco. E ainda há pouca intersecção nessas duas bases.

“Das nossas escolas do negócio tradicional de sistemas de ensino, apenas 10% usam produtos da isaac”, diz Neto. Na isaac, o índice de clientes que também trabalham com a Arco é de 30%. “Já crescemos muito, mas ainda temos todo esse aquário para pescar. Estamos só no começo.”