Toda regra tem sua exceção e no mundo dos investimentos ela atende por um nome e sobrenome: Ray Dalio. Fundador do maior fundo hedge do planeta, o Bridgewater, o bilionário novaiorquino de 70 anos ganhou fama por suas estratégias ousadas e retornos generosos – em 2010, eles batiam na casa dos 45%.
Nos últimos oito anos, contudo, seus clientes têm visto uma média de 3,8% de retorno de seus aportes – um desempenho mediano para alguns, decepcionante para outros. Apesar disso, quase que inexplicavelmente, Dalio segue como um verdadeiro fenômeno – dentro e fora de Wall Street.
Parte de sua fama inabalável recai sobre a trajetória escrita nos moldes do sonho americano: um jovem batalhador que, em 1975, aos 26 anos, inaugurou seu próprio fundo de investimentos num apartamento de dois quartos, em Nova York. Em 2005, seu fundo Bridgewater foi reconhecido como o maior fundo hedge do mundo e, hoje, opera US$ 160 bilhões em ações.
Atuando como co-chefe de investimentos e co-chairman, Dalio e sua Bridgwater empregam cerca de 200 pessoas – uma para cada 1,7 investidor. Além de atuar como um consultor de análise de risco de portfólio, o fundo hedge criado pelo magnata também publica relatórios diários sobre o mercado, munindo seus investidores de argumentos e fatos valiosos.
Embora o relacionamento com seus clientes siga impecável, desde 2012, a performance da empresa tem sido questionada por seu retorno mediano de 3,8%, mesmo com um ganho de 15% no ano passado. Os números colocam a Bridgewater atrás de outros fundos respeitados, como o Element, que no mesmo período tem retornado em média 12,23%; o Tudor, com 5,39%; e o Caxton, com 4,11%.
Verdade seja dita, investidores têm declarado que, de uns anos para cá, tem sido cada vez mais difícil conquistar grandes lucros negociando títulos do governo, moedas, commodities e ações.
Este ano, especialistas dizem que as perdas de 2% da Bridgewater foram puxadas pelas apostas de baixa nas taxas de juros globais, particularmente na Europa e no Reino Unido.
O curioso é que, embora esteja distante, em cifras e números, da liderança do setor, a Bridgewater de Ray Dalio segue sendo um norte para muitos. Seu fundo Pure Alpha II, por exemplo, está fechado para novos investidores, mas conta com uma lista de espera de cerca de US$ 5 bilhões, segundo reportagem do site Business Insider.
O trunfo para essa equação inusitada, de pouco retorno e muita procura, é, de novo, Dalio – famoso por não comentar com ninguém, além de seus clientes, sobre o posicionamento de seu portfólio.
Dono de uma fortuna estimada em US$ 18,9 bilhões, o magnata credita seu sucesso aos 200 princípios que estabeleceu, dos quais o mais importante é conhecido como "transparência radical".
Sob essa máxima, os funcionários são encorajados a usarem a mais brutal honestidade uns com os outros. Tanto que todas as reuniões são gravadas e arquivadas, para que sejam estudadas e discutidas no futuro.
Pouco ortodoxos, esses princípios foram condensados no livro Principles: Life & Work, lançado em 2017 pela Simon & Schuster. Ao todo, 2,2 milhões de cópias desta obra foram vendidas, o que deu ao título a pole position dos best-sellers do New York Times e Amazon.
Em um artigo publicado no site da rede americana CNBC, Dalio diz que os três aprendizados mais valiosos de seu livro são, respectivamente, pensar por si, mesmo estando aberto a novas ideias; sonhar com os pés no chão e ter muita determinação; e que o progresso é uma combinação de dor e reflexão.
"Meu maior fracasso aconteceu em 1982, quando eu apostei tudo em uma crise que nunca aconteceu", disse o empresário. "Minha situação era tão desesperadora que eu precisei pegar US$ 4 mil emprestado com o meu pai para quitar contas familiares. Tive de demitir uma equipe inteira, cheia de gente que eu adorava."
Dalio usa seu próprio erro como exemplo para provar seu último ponto, que o sofrimento e a resiliência levam, inevitavelmente, ao progresso. "Olhando para trás, percebo que aquela falha foi uma das melhores coisas que me aconteceu, porque me deu a humildade para aprender a balancear minha agressividade e mudar meu pensamento de 'eu estou certo', para 'como eu sei que estou certo?'", conta.
Hoje, sabemos que Dalio esteve certo por tantas vezes porque ele foi listado, em 2012, como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista TIME. No mesmo ano, o magnata também entrou para o ranking dos 50 maiores influenciadores da Bloomberg Markets.
Com um status de celebridade, o investidor têm tração exemplar nas redes sociais, onde é seguido por 325 mil usuários no Instagram, 1,3 milhão no Linkedin e 119 mil no Facebook.
O investidor aproveita suas redes sociais para promover seu livro, que lhe rendeu mais de 9 mil menções desde sua publicação, e responder as dúvidas de seus seguidores, sempre relacionadas a empreendedorismo e negócios.
Em novembro, Dalio fez um longo post no seu LinkedIn dizendo que "o mundo enlouqueceu e o sistema está quebrado." Sua tese é de que os bancos centrais estão inundando o mercado com dinheiro para gerar crescimento e inflação, mas que os recursos só estão disponíveis para quem não precisa.
Ao mesmo tempo, os fundos de pensão estão trabalhando com taxas irrealística de retornos. Conclusão: vai faltar dinheiro para pagar pensões aos aposentados.
Aparentemente, quando o assunto é Dalio, sua voz fala mais alto que seus números recentes em Wall Street.
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