A AgroGalaxy, grupo que possui uma das maiores redes de distribuição de insumos do País, sacudiu o mercado de Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais, os Fiagros. A empresa controlada pela gestora Aqua Capital entrou com pedido de recuperação judicial na quarta-feira, 18 de setembro, e os fundos expostos aos títulos da rede de revendas agrícolas foram impactados.

O fundo XPCA11, da XP, acumula 10,14% de desvalorização em cinco dias, até 24 de setembro. E o JGPX11, da JGP, acumula queda de 15,8% no mesmo período. A boa notícia para o investidor é que o problema foi pontual. E os Fiagros, que hoje somam mais de R$ 40 bilhões sob gestão, continuam sendo importantes na diversificação de ativos e na atração de investidores de varejo e grandes fortunas pela isenção de imposto de renda em seus dividendos.

Criados em 2021, há três tipos de Fiagros disponíveis: os do tipo FIDCs, que investem em direitos creditórios do Agronegócio, os FIPs (Fundo de Investimento em Participações), que investem diretamente em empresas, e os mais comuns, os Fiagro-FII, cuja legislação e funcionamento vem dos fundos imobiliários.

A diferença é que os lastros dos Fiagros estão sempre ligados ao agronegócio. Há Fiagros FIIs voltados para a compra de títulos de dívida, como Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs). E há os que investem em ‘equity’, comprando terras ou imóveis relacionados ao setor agrícola em busca da valorização desses ativos, assim como os seus rendimentos.

“A CVM foi muito eficaz em regular esse novo instrumento por outros que ela já tinha para dar celeridade e deixar o mercado se desenvolver, sendo um instrumento importante de funding para o agronegócio”, afirma Bruno Lund, diretor da Ecoagro, ao Wealth Point, programa do NeoFeed que tem o apoio do Banco Master.

Está prevista, no entanto, uma nova regulamentação dos Fiagros que sedimentará de vez essa nova classe de ativos e trará um novo segmento, o de multimercados, que poderá investir em diferentes ativos relacionados ao agronegócio. A expectativa é que saia ainda este ano.

O mercado financeiro espera que isso traga mais flexibilidade para os gestores alocarem e fomente ainda mais a indústria de Fiagros, que tem um potencial gigantesco. O agronegócio movimenta cerca de 25% do PIB do País, necessitando de cerca de R$ 1 trilhão por ano para se financiar.

“Essa é a vocação do Brasil, ser o celeiro do mundo. Não faz sentido viver aqui e não estar exposto ao que tem de melhor da economia do país”, diz Vitor Duarte, CIO da Suno Asset.

Apesar da euforia, o investidor vem levando alguns sustos com o aumento dos pedidos de recuperação judicial no agronegócio. Isso foi ocasionado por quebras de safras e de uma falta de maturidade de alguns produtores empresários em lidar com esse perfil de crédito. Mas o número de casos é muito pequeno frente ao mercado, representando cerca de 1%. E não faltam estratégias para os gestores se protegerem.

“Há diversas formas de se expor ao agronegócio. De fato, estratégias voltadas a financiar diretamente o produtor rural possuem mais o risco climático do negócio que outras cadeias produtivas não têm. Mas é possível exigir garantias e outros instrumentos”, afirma Lund.

Ambos os gestores acreditam que os Fiagros podem, nos próximos anos, ultrapassar os fundos imobiliários, classe de investimento criada em 1993 e que hoje detém R$ 330 bilhões sob gestão - cerca de oito vezes mais patrimônio.

“Os Fiagros podem estar andando em uma estrada já pavimentada, mas estão correndo muito mais rápido que os fundos imobiliários, mostrando o interesse tanto das empresas como dos investidores por esse instrumento”, diz Duarte.