Os fundos de direitos creditórios, os FIDCs, mais que dobraram o seu total sob gestão nos últimos cinco anos e hoje já somam mais de R$ 500 bilhões. E o crescimento pode ser ainda mais acelerado nos próximos anos devido à busca dos investidores por renda fixa estruturada e a sua abertura ao público em geral.

Os FIDCs compram recebíveis, ou seja, contratos de compromisso de compra e venda à prazo, com desconto. O portador do crédito recebe o dinheiro à vista e o fundo ganha com a gestão desse desconto e do crédito ao longo do tempo.

Os retornos desses fundos superam bastante o do CDI por serem investimentos em créditos a valores na média que mercado toma, com taxas entre CDI + 3% a CDI + 6% ao ano. Há muitos lastros para esse tipo de crédito, sendo os mais comuns os multicedentes e os multisacados, com créditos de pequenas e médias empresas, e de crédito consignado.

Apesar de ser um lastro por vezes muito arriscado, os FIDCs possuem boa governança e sistemas de proteção com as cotas subordinadas, que carregam os riscos de inadimplência, e cotas seniores, que estão à margem de grande parte desses riscos. Outro fator que mitiga os riscos é a gama pulverizada de papeis.

Os fundos foram abertos ao público em geral pela CVM 175 em outubro do ano passado, desde que invistam apenas em cotas seniores, tenham rating de crédito e liquidez. Na análise de Cristiano Greve, sócio e head de estruturação da Integral Investimentos, a conquista é muito importante e é preciso mostrar aos investidores a relação risco-retorno desse investimento.

“Ao investir em cotas seniores, o investidor tem retornos acima do CDI com riscos muitas vezes menores do que o de uma debênture privada, em que se toma o risco de crédito de apenas uma empresa. No FIDC, ele é pulverizado e, por vezes, com grandes estruturas de garantias geridas por gestores profissionais”, diz Greve, em entrevista ao programa Wealth Point, do NeoFeed.

A entrada do investidor de varejo tende a fomentar ainda mais esse mercado já aquecido. Mas as grandes fortunas também ficaram ainda mais interessadas nesse instrumento após a tributação de fundos exclusivos com os come-cotas. Os FIDCs, assim como os fundos de ações, ficaram isentos desse imposto, dando uma vantagem em relação a outros.

Com o maior interesse do mercado para essa classe de ativos espera-se um barateamento do custo para o pequeno e médio empresário que tem nesse instrumento uma grande fonte de crédito, e assim uma maior desconcentração bancária. E com uma maior oferta e demanda pelo produto, novas classes podem surgir.

“Todo crédito é 'fidicável'. Então, poderemos evoluir para ter FIDCs de antecipação dos direitos de transmissão de jogos de futebol, de fluxo de pagamento de show, de consórcios, qualquer coisa. Ainda temos muito a evoluir”, afirmou Ricardo Binelli, sócio-diretor da Solis Investimentos.

Ambos os gestores veem os FIDCs ganhando espaço no portfólio dos investidores nos próximos cinco anos e assim na indústria de fundos. Greve acredita que a classe pode saltar de R$ 500 bilhões para R$ 2 trilhões. Binelli ressalta que isso significa passar dos atuais cerca de 2% da indústria de fundos para 5%.