O Carrefour Brasil divulgou na quinta-feira à noite, 31 de outubro, os resultados do terceiro trimestre, com um lucro líquido superando a média das estimativas do mercado, de acordo com a média das estimativas coletadas pela consultoria LSEG – a companhia registrou ganho de R$ 221 milhões, alta de 67,4% em base anual, acima da expectativa de R$ 181,4 milhões.

Mesmo assim, analistas que acompanham a companhia fizeram algumas ponderações a respeito do desempenho, com temas como o capital de giro e a dinâmica da rentabilidade da companhia sendo destaques da teleconferência de resultados que ocorreu na sexta-feira, 1º de novembro.

A julgar pelo desempenho das ações, o resultado e as perspectivas apresentadas pelos executivos do Carrefour para o quarto trimestre agradaram os investidores, com os papéis ficando entre as maiores altas do Ibovespa do dia. Por volta das 13h30, a ação da varejista registrava alta de 5,34%, a R$ 7,89.

Um dos pontos mais comentados foi o aumento do capital de giro, com o BTG Pactual destacando em relatório que a situação pesou sobre o fluxo de caixa da companhia. Nos últimos 12 meses encerrados em setembro, o fluxo de caixa livre desalavancado foi de R$ 2,7 bilhões, um recuo de 48% em base anual.

Na call, o CFO do Carrefour, Eric Alencar, afirmou que o aumento do capital de giro não é algo estrutural, com o terceiro trimestre tendo uma dinâmica específica. Segundo ele, em setembro, houve um forte aumento das vendas no Atacadão, gerando recebíveis – a companhia passou a adotar neste ano o parcelamento em até três vezes das compras na bandeira de atacarejo.

A expectativa é de normalização da situação no quarto trimestre. “Quando a gente teve esse aumento de recebíveis, foi por uma venda mais forte”, disse Alencar. “Nós compramos adiantado e sabíamos que poderíamos fazer um trimestre forte, mas isso é pontual.”

O CEO do Carrefour, Stéphane Maquaire, destacou que a estratégia de parcelamento é um apoio da companhia aos clientes no momento de juros em alta e inflação alimentar.

Outro ponto foi a questão das margens da companhia, que ficaram praticamente estáveis no trimestre. A margem Ebitda consolidada permaneceu em 5,7% e a margem bruta recuou 0,9 ponto percentual, em base anual, para 19,2%. No Atacadão, a dinâmica foi parecida, com a margem Ebitda estabilizada em 6,7% e a margem bruta caindo 0,2 ponto percentual, para 15,5%.

Segundo Maquaire, os investimentos feitos nas lojas do Atacadão para atender o público B2C, como os serviços de padarias, açougues e frios, acabou pesando, além da maior participação do público B2B, algo que deve se dissipar ao longo do tempo. “Isso [investimentos em B2C] traz um pouco mais de esforço momentâneo na margem do Atacadão”, diz.

A questão dos investimentos também foi levantada quando se tratou do Sam’s Club, formato que o Carrefour vem acelerando e que, por consequência, reduziu a margem Ebitda em 3,7 pontos percentuais, para 0,2%. “Foi uma decisão nossa de ir mais pesado na educação nesses novos clubes, para atingir um público mais alto e chegar mais rapidamente à maturidade nessas lojas”, disse.

Para o fim do ano, Maquaire destacou que depois de uma deflação alimentar em julho e agosto, a inflação alimentar voltou em setembro e a expectativa é da possibilidade de aceleração das vendas até dezembro, ao mesmo tempo em que vai trabalhando para ajustar as despesas operacionais.

“Isso obviamente apoia as dinâmicas das nossas vendas”, afirmou Maquaire. “Isso nos dá uma sensação de um quarto trimestre positivo.”

No terceiro trimestre, a receita total do Carrefour subiu 5,1%, para R$ 28,3 bilhões, enquanto o Ebitda ajustado avançou 5%, para R$ 1,5 bilhão. A dívida líquida subiu 30,4%, para R$ 17 bilhões, com a alavancagem financeira avançando de 2,27 vezes para 2,64 vezes.

No acumulado do ano, as ações do Carrefour caem 34,3%, levando o valor de mercado a R$ 16,6 bilhões.