Desde o início de dezembro de 2024, a AgroGalaxy, com dívidas de R$ 4,1 bilhões, está em compasso de espera para a aprovação do seu plano de recuperação judicial. Como parte desse processo, essa terça-feira, 21 de janeiro, marca o último dia para que os credores apresentem alguma objeção ao que foi apresentado pela companhia.

Em paralelo a esse calendário, que aponta para a previsão da aprovação do plano em assembleia em meados de abril, a varejista de insumos agrícolas vem cumprindo, porém, outra agenda, para além do esperado sinal verde dos credores.

Nessa direção, a empresa retomou na semana passada a operação de descontos de recebíveis por meio do fundo de investimentos em direitos creditórios (FIDC) Terra Magna. E, hoje, anunciou um memorando de entendimentos para a potencial venda de uma carteira de créditos de cerca de R$ 760 milhões.

“Temos bons indicativos com a retomada do FIDC e a parcela da carteira vendida, com recursos para fecharmos negócios à vista”, afirmou Eron Martins, CEO da AgroGalaxy, em teleconferência com analistas na manhã dessa terça-feira.

“Começamos a receber silos no Sul nesta semana, com grãos de produtores”, prosseguiu o executivo. “Pra nós, esse é um certificado de retomada de confiança. Começamos a rodar esses grãos e vamos aumentar a visitas nas lojas. Estamos voltando ao eixo normal.”

Com essas movimentações, a AgroGalaxy encerrou um período de quase quatro meses sem compra de insumos. Desde que protocolou seu pedido de recuperação judicial, em 18 de setembro de 2024, a empresa interrompeu as negociações e ficou restrita ao estoque que mantinha dentro de casa.

A companhia não revelou com qual instituição está negociando a potencial venda de parte da sua carteira de dívidas vencidas e não judicializadas anunciada hoje. O destino do montante gerado no acordo, no entanto, já está definido.

“O uso desses recursos será basicamente para a compra de produtos e constituição de estoque, com a vantagem de que compras à vista trazem margens mais competitivas”, disse Luiz Conrado Sundfeld, CFO da empresa.

O executivo ressaltou que, nesse momento, em função do plano de recuperação judicial ainda não aprovado, a AgroGalaxy não pode liquidar obrigações com qualquer fornecedor do quadro geral de credores. “Então, qualquer liquidez agora será direcionada para fomentar o negócio”, afirmou.

Segundo o executivo, a empresa já tem tratativas para a venda da parcela restante dessa carteira que inclui dívidas vencidas e não judicializadas com prazos acima de 180 dias, com o objetivo de seguir reforçando seu caixa.

Nesse contexto, a companhia divulgou uma provisão de R$ 768,8 milhões referente à projeção de perda em deságios nessas eventuais negociações, descontados das provisões de inadimplência que já integravam essa carteira e dos prêmios a serem recebidos nessas vendas.

Outras iniciativas

Há outra safra de medidas em curso além dessas iniciativas. A começar pelo portfólio, frente em que a AgroGalaxy decidiu se focar em produtos de maior valor agregado – sementes, defensivos e especialidades -, em detrimento dos fertilizantes.

“Estamos tirando o pé de fertilizantes, que trazem 8%, 9% de margem e priorizando sementes e defensivos, que entregam mais de 30%”, afirmou Martins. “Isso não quer dizer que vamos deixar de vender fertilizantes, mas só faremos isso dentro de um pacote completo.”

Em outro campo, a empresa também reduziu seu parque de lojas – foram mais de 70 unidades fechadas desde o pedido de recuperação judicial – para o número atual de 73 pontos-de-venda. Segundo Martins, não há previsão de encerrar outras operações.

Dentro do que o CEO chamou de dever de casa, a companhia também enxugou sua estrutura e reduziu as “camadas hierárquicas”, além de seguir revisitando seus contratos e buscando novas alternativas de financiamento, enquanto o mercado bancário continua “reticente” com o agronegócio e o varejo.

“Junto com essa simplificação de estrutura, não abrimos mão de adequar os estoques”, observou ele. O executivo ressaltou, porém, que a empresa vai continuar mantendo níveis saudáveis para se proteger da volatilidade do mercado.

“O importante aqui é o crescimento pé no chão, com margens muito focadas na melhoria de mix e sem abrir mão de ter um nível de despesa que não saia do controle”, afirmou. “O dimensionamento que temos hoje nos permite entregar o plano para 2025.”

Para o ano, uma das projeções da companhia apontam para uma receita líquida de R$ 2,15 bilhões. Já no que diz respeito ao lucro bruto e ao SG&A (despesas gerais e administrativas), as estimativas indicam, respectivamente, R$ 220 milhões e R$ 232 milhões.

Balanço atrasado

Esses números acompanharam o balanço do terceiro trimestre de 2024, cuja divulgação foi adiada por duas vezes e só foi consumada na noite de ontem. A AgroGalaxy encerrou período com um prejuízo líquido ajustado de R$ 1,57 bilhões, contra uma perda de R$ 88,7 milhões, um ano antes.

Entre julho e setembro do ano passado, a companhia apurou uma receita líquida de R$ 1,21 bilhão, o que representou uma queda anual de 48,6%. A receita de insumo recuou 43,8%, para R$ 733,1 milhões, enquanto a receita de grãos caiu 54,4%, para R$ 485,7 milhões.

Já o Ebitda ajustado ficou negativo em R$ 1,23 bilhão, contra o número positivo reportado um ano antes de R$ 74,4 milhões. A margem Ebitda ajustada, por sua vez, foi de -129,5%, na comparação com o índice de -3,7% do terceiro trimestre de 2023.

As despesas com vendas administrativas e gerais registraram um salto de 420,6% nesse intervalo, para R$ 1,11 bilhão. Já a dívida líquida teve um pequeno recuo de 2,6%, para R$ 1,7 bilhão.

Na B3, as ações da companhia registravam forte queda de 9,59% por volta das 13h, cotadas a R$ 0,66. Nos últimos doze meses, os papéis têm uma desvalorização acumulada de 77,5%. A empresa está avaliada em R$ 165,7 milhões.