A recente desvalorização do dólar frente ao real caminha para o sétimo pregão consecutivo nesta terça-feira, 28, com a moeda em vias de fechar abaixo de R$ 5,90 pela primeira vez desde o fim de novembro. Contudo, este pode ser um momento excepcional para a taxa de câmbio brasileira, segundo avaliação do UBS, que projeta uma forte depreciação do real ao longo deste ano.

De acordo com o banco suíço, o dólar deve oscilar entre R$ 6,20 e R$ 6,40 até o final de 2025. Alejo Czerwonko, CIO de mercados emergentes americanos do Wealth Management do UBS, acredita que o câmbio refletirá a tendência de fortalecimento global do dólar, com o movimento amplificado por fragilidades locais.

“Para nós, não há dúvidas de que o fiscal é o principal calcanhar de aquiles da economia brasileira. Nos últimos dez anos, houve um acúmulo adicional de dívida pública equivalente a 20 pontos percentuais do PIB. O mercado discute muito sobre dominância fiscal, porque a inflação e o crescimento derivam do fiscal. Tudo começa com ele”, destacou Czerwonko durante um evento do UBS realizado nesta terça-feira, 28.

Na visão de Czerwonko, o governo brasileiro não tem demonstrado consciência sobre a gravidade da situação fiscal. “Novembro foi apenas um lembrete de que o governo atual não está disposto a emitir um sinal claro e contundente em direção à responsabilidade fiscal. Se não fizeram isso naquela ocasião [de depreciação do real], vemos poucos motivos para acreditar que farão agora ou em 2026, ano de eleições presidenciais.”

Diante da ausência de perspectivas para um ajuste fiscal, o CIO não vê gatilhos de médio prazo para a recuperação dos ativos brasileiros, mesmo com sua atratividade relativa. “As bolsas emergentes estão com um desconto de 40% em relação ao preço/lucro das ações americanas, enquanto a bolsa brasileira apresenta um desconto adicional de 40% em relação às emergentes.”

Apesar dos preços atrativos, Czerwonko observa baixa disposição de investidores em alocar recursos no país. “Acredito que este é um bom ponto de entrada, desde que o investidor esteja disposto a fechar os olhos e esperar por mais de dois anos. Quantos estão dispostos a fazer isso hoje em dia? Alguns, talvez. A maioria, não.”

O CIO também destacou o risco de o próximo governo não abordar os problemas fiscais de forma adequada. “Ainda é cedo para a maioria dos investidores. A visibilidade é baixa, e não há garantias de que quem assumir o comando do país no futuro terá uma abordagem significativamente diferente da atual.” Esse cenário, acrescenta, se agrava diante do elevado custo de oportunidade oferecido pelos altos rendimentos dos títulos americanos.

A fragilidade fiscal do Brasil também aumenta sua vulnerabilidade em um contexto de mudanças políticas bruscas nos Estados Unidos. “Como qualquer mercado emergente, o Brasil depende fortemente de fatores externos, como cortes ou aumentos nas taxas do Fed, movimentos nos rendimentos dos Treasuries americanos e o apetite global por risco. Devido à sua situação fiscal, o Brasil está mais exposto a esses fatores do que outros países emergentes.”

Arend Kapteyn, economista-chefe do UBS, também ponderou que ainda é cedo para avaliar os impactos econômicos das políticas de Donald Trump. Ele destacou que a decisão do presidente americano de não impor tarifas globais no início do mandato ajudou a aliviar pressões sobre as taxas de juros nos EUA, embora as políticas de deportação em massa possam ter impactos significativos sobre a inflação.

“Trump ameaça impor tarifas por questões que vão além do comércio, como foi o caso da Colômbia. No entanto, as nomeações mostram que a política de imigração será muito mais agressiva do que a ala econômica, que aparenta ser mais moderada”, afirmou Kapteyn.

Uma das principais incógnitas, segundo o economista, é a dimensão das deportações, que se intensificaram nos primeiros dias do governo Trump. “Durante a campanha, os números mencionavam a deportação de 7 a 11 milhões de imigrantes. Isso equivale entre 4% e 5% da força de trabalho. É algo logisticamente impossível. O mercado está tentando entender qual será o número real, pois isso determinará o impacto inflacionário e os efeitos sobre o crescimento econômico.”