A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana reforçou as preocupações sobre o impacto da alta dos juros nas empresas mais endividadas, um fator que tem guiado as preferências no mercado de ações. No setor de distribuição de combustíveis, esse movimento não é diferente.
Após a Vibra concluir a compra de 50% da Comerc, os bancos Santander e Goldman Sachs reforçaram uma postura cautelosa em relação à empresa, mantendo recomendação neutra para suas ações. Em contrapartida, destacaram que a menor alavancagem da Ultrapar pode favorecer seu desempenho ao longo do ano.
Os analistas do Santander projetam que a Vibra verá sua dívida líquida crescer de R$ 10,1 bilhões para R$ 18,86 bilhões até o fim de 2025. Caso as estimativas se confirmem, a relação dívida/Ebitda da companhia subirá de 1,8 vez para 2,6 vezes, atingindo um pico de 2,9 vezes no primeiro trimestre.
“Embora vejamos a empresa sendo negociada com um rendimento de fluxo de caixa livre (FCF) de aproximadamente 12%, acreditamos que é improvável que uma parte significativa dessa geração de caixa seja retornada aos acionistas, especialmente considerando sua alavancagem”, aponta o relatório do Santander.
O banco estima um dividend yield de apenas 4% para a Vibra – um patamar considerado pouco atrativo, na visão dos analistas. Com isso, revisou o preço-alvo das ações da companhia de R$ 24 para R$ 20,50.
“Acreditamos que uma desaceleração da atividade econômica ainda representa um risco para nossa estimativa operacional e projeção relativamente alta de Ebitda (15% abaixo do consenso). Um crescimento econômico mais fraco também pode resultar em uma expansão menor do lucro por ação”, alertam os analistas.
O Goldman Sachs, com um preço-alvo de R$ 19,50 para a Vibra e uma visão ainda mais pessimista, avalia que as ações da companhia deverão passar por uma intensa revisão de estimativas pelos analistas. O banco projeta um lucro de R$ 7 bilhões para este ano, 27% abaixo do consenso de mercado.
“Acreditamos que o consenso ainda não reflete completamente o impacto da alta dos juros e os efeitos negativos nos lucros devido à consolidação da recente aquisição da Comerc Energia”, ressalta o Goldman Sachs, que rebaixou as ações da companhia para neutra. A compra de 50% da Comerc, maior aquisição já feita pela Vibra, foi concluída em janeiro deste ano por R$ 7,05 bilhões.
O UBS acrescenta que a companhia deve priorizar a desalavancagem em 2025, o que pode desacelerar seus planos de expansão da rede de postos, considerando o aumento dos custos de capital. “A Vibra está avançando com cautela nesse aspecto”, destaca o banco, que tem um preço-alvo de R$ 17,50.
Ainda assim, a Vibra conta com oportunidades de ganhos de mercado, destacadas pelo Santander e UBS, além da expectativa de uma forte geração de caixa a partir de 2026. No entanto, o menor nível de endividamento tem levado os analistas a favorecerem a Ultrapar, dona dos postos Ipiranga.
“A empresa tem um balanço sólido, com alavancagem controlada”, apontam os analistas do Santander. O banco projeta que a dívida líquida da Ultrapar recuará de R$ 8,7 bilhões para R$ 7,9 bilhões ao longo de 2025, reduzindo a relação dívida/Ebitda de 1,6 vez para 1,4 vez.
Segundo o Goldman Sachs, essa menor alavancagem pode permitir à Ultrapar realizar movimentos estratégicos, como aquisições ou distribuição de dividendos mais elevados. Os analistas estimam que o retorno de capital aos acionistas, somando dividendos e recompra de ações, fique entre 7% e 9%.
“Vemos a empresa melhor posicionada do que a Vibra para enfrentar um cenário de incerteza macroeconômica no Brasil, devido ao seu balanço leve, forte geração de caixa e potencial de dividend yield elevado”, destaca o banco, que elevou sua recomendação para a Ultrapar de neutra para compra.
O Santander, por outro lado, alerta que a Ultrapar ainda pode enfrentar revisões negativas de lucros, ainda que em menor escala do que a Vibra, diante do ambiente de juros elevados. Além disso, o banco pondera que a visibilidade para as distribuidoras de combustíveis segue limitada, considerando o risco de que uma eventual queda na atividade econômica afete os resultados do setor.