No momento em que a renda fixa vive um dos melhores períodos da história, com as emissões de dívida de empresas batendo recorde em 2024, o Banco BS2 vê uma oportunidade de trazer mais empresas de médio porte ao mercado de capitais, além de diversificar sua fonte de receitas.

Para isso, a instituição financeira da família Pentagna Guimarães está lançando sua área de debt capital markets (DCM), com planos de fazer um volume de R$ 800 milhões em operações logo em seu primeiro ano de existência.

“Entendíamos que faltava a estruturação de uma área que atendesse empresas que são do high middle market, que muitas vezes ainda não tem o porte de uma empresa de mercado de capitais”, diz Juliana Pentagna Guimarães, diretora executiva da parte de corporate development e relações com investidores do BS2, ao NeoFeed.

Esse high middle market que o BS2 pretende atender com sua área de DCM compreende empresas cujo faturamento anual começa a partir de R$ 150 milhões. Dos cerca de 120 mil clientes que o banco possui, cerca de 1,2 mil companhias estão neste segmento. Mas a ideia é também oferecer a área para empresas do chamado corporate, com faturamento acima de R$ 200 milhões.

A divisão de DCM pretende realizar emissões de títulos como Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), notas comerciais e debêntures, com tíquete a partir de R$ 30 milhões. Grandes operações devem ser realizadas de forma sindicalizada, com outras instituições financeiras.

A nova área do BS2 será dirigida por Márcio Paiva, executivo com mais de 30 anos de experiência, que atuou em bancos como Santander e Bozano e teve passagens pelo “outro lado do balcão” - em uma delas foi gerente financeiro e de relacionamento com investidores da WTorre. Ele chegou ao BS2 em agosto do ano passado para ajudar na estruturação da área.

Além de Paiva, o banco conta com outras três pessoas, mas existem planos de ampliar a equipe ainda neste ano, que pretende engajar diversos setores da economia, especialmente infraestrutura e imobiliário. O banco também quer aproveitar oportunidades no agronegócio, segmento que passou a explorar em 2023. A ideia é também trazer novos clientes para a instituição.

“Temos mais 50 bankers dentro do banco nas quatro plataformas que temos: em São Paulo, Centro-Oeste, no Sul do País e em Minas Gerais. E temos um time comercial robusto para prospectar oportunidades”, diz Rodrigo Pentagna Guimarães, diretor executivo comercial do BS2, área em que a parte de DCM está subordinada.

Segundo ele, a área de estruturação de dívidas vem para complementar a oferta de serviços para o segmento de clientes com maior nível de faturamento, abrindo novas fontes de financiamento além do crédito e de ofertas de capital de giro e cessão de contrato.

Essa prateleira de serviços é vista como um diferencial competitivo do BS2 para avançar no mundo do DCM para empresas do middle market. Nos últimos anos, essa faixa de mercado viu uma profusão na oferta de instituições com áreas de originação, estruturação e distribuição. Nomes como Galapagos Capital e RGS Partners são apenas alguns exemplos de gestoras e boutiques que passaram a atuar com invesment banking para esse tipo de empresa.

A criação da área de DCM representa o segundo movimento do BS2 na parte de emissão de títulos de dívida. Empresas menores, ou com operações menores, já contam com acesso ao mercado de capitais graças ao investimento que o BS2 fez em maio do ano passado no Grupo Bloxs, conforme noticiou o NeoFeed.

A parceria abriu o mercado de capitais para empresas com faturamento anual de R$ 1 milhão a R$ 150 milhões, além de retomar a agenda de M&As do banco e servir de canal para obter novos clientes, vindos da plataforma, que podem ter suas demandas supridas por produtos bancários. “A questão da emissão de dívida é uma sementinha que vínhamos plantando dentro de casa”, diz Juliana.

O DCM é mais um passo do plano de reestruturação que o BS2 promoveu a partir de 2021, de centrar sua atuação em pessoas jurídicas (PJ) e deixar de ter ofertas para pessoas físicas (PF). O banco não contava com essa área até então, mas os avanços do turnaround permitiram o banco agregar um braço de estruturação de dívida.

Com o DCM, o Banco BS2 cria mais uma fonte de receita no momento em que o cenário para crédito começa a ficar nebuloso por conta da alta dos juros, agregando mais um fee business à instituição, que já conta com ofertas de meios de pagamento, câmbio e seguros.

No ano passado, a carteira de crédito do banco cresceu 12% em relação a 2022, para R$ 6,2 bilhões, enquanto as receitas com intermediação financeira subiram 25,3%, a R$ 905,4 milhões – os números de 2024 ainda não foram fechados. “Estamos caminhando para ter uma diversificação de receita, entre crédito e serviços, de 50%-50%”, diz Juliana.

O lançamento da área de DCM do BS2 vem num momento muito profícuo no mercado de dívida. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), as empresas captaram o valor recorde de R$ 783,4 bilhões no mercado de capitais em 2024, aumento de 66,7%. Debêntures, notas comerciais e CRIs bateram recorde no ano, contribuindo para que a renda fixa alcançasse a marca inédita de R$ 709,2 bilhões.

A expectativa é de que este cenário permaneça, diante das perspectivas de manutenção da migração de recursos para a renda fixa, ajudando no timing do BS2. “A alta da Selic vai trazer um certo conservadorismo aos bancos, diminuindo a oferta de crédito. Então, DCM passa a ser uma ótima saída”, diz Paiva. “Entendemos que teremos uma série de oportunidades.”