Os riscos de curto prazo apresentados pela Eneva estão ofuscando as boas perspectivas de longo prazo da companhia, um player importante no tema da transição energética, segundo o Banco Safra, que revisou suas projeções e expectativas para a empresa.
Em meio a riscos para suas operações no curto prazo e um valuation considerado esticado, os analistas Daniel Travitzky, Carolina Carneiro e Mario Wobeto decidiram rebaixar a recomendação das ações de compra para neutro. O preço-alvo também sofreu corte – de R$ 15,80 passou para R$ 13,90 (um upside de, aproximadamente, 18% sobre o preço de tela).
Para eles, o principal risco na tese da Eneva neste momento é a questão do leilão de reserva de capacidade, previsto para junho. Inicialmente, as regras do certame tinham prejudicado a companhia, por impossibilitar que dois de seus ativos participassem.
Após o ruído que as regras provocaram, derrubando as ações da Eneva em mais de 10% num único dia, o governo ajustou o edital, ampliando o universo das térmicas aptas para participar da concorrência, o que permitiu a participação da empresa.
Apesar das mudanças, os analistas do Safra ainda demonstram desconforto com o leilão e o papel que a Eneva pode exercer. Eles dizem que faltam informações dos parâmetros para garantir a competição entre as diversas fontes de energia e a disputa considera uma ampla gama de estimativas de demanda.
Esses pontos, de acordo com os analistas, geram incertezas em relação ao resultado num momento em que a Eneva precisa renovar os acordos do complexo de Parnaíba e das termelétricas recém adquiridas de Viana, Linhares e Povoação, que pertenciam ao BTG Pactual e foram incorporados após o follow on de R$ 4,2 bilhões ocorrido em julho do ano passado.
“A impossibilidade de renovar esses acordos, ou um acordo com termos piores do que o esperado, representam um risco ao implicar numa queda importante nas estimativas futuras de Ebitda (uma queda de 14% frente ao nosso cenário base)”, diz trecho do relatório.
“Se a Eneva não conseguir renovar os acordos, o impacto no nosso preço-alvo será significativo, podendo alcançar R$ 3,20 por ação”, complementa.
Os ativos adquiridos são um ponto sensível na tese de investimento da Eneva. Além de precisarem renovar os contratos de fornecimento, os analistas do Safra destacam que eles ainda precisam ser consolidados na companhia, para se obter ganhos de sinergia via ajustes de custos.
Esses riscos para a tese da Eneva vem num momento em que as ações estão com valuation esticado, segundo o Safra. Os analistas destacam que as ações da Eneva são negociadas com uma taxa interna de retorno (TIR) de 12,6%, patamar parecido com empresas que apresentam riscos bem menores, como Copel.
Por volta das 11h55, as ações da Eneva caíam 0,93%, a R$ 11,70. No ano, os papéis acumulam alta de 22,5%, levando o valor de mercado a R$ 22,6 bilhões.