O mercado financeiro foi pego de surpresa quando a DeepSeek surgiu, no fim de janeiro, desafiando o domínio das big techs americanas em inteligência artificial. O fenômeno chinês, que no dia do lançamento chegou a superar o número de downloads do ChatGPT, provocou um terremoto em Wall Street: a Nvidia viu seu valor de mercado encolher US$ 600 bilhões em um único dia, enquanto a Nasdaq tombou mais de 3%.
Apesar da concentração da indústria – e dos próprios índices – nas ações mais afetadas, Michael Burry, mais uma vez, parece ter saído ileso. E ainda se aproveitou do movimento. Burry, que ganhou notoriedade por antecipar a crise do subprime, não vinha carregando posições nas big techs americanas. Ao contrário.
De acordo com o último arquivamento de seu portfólio na SEC, suas maiores apostas estavam nas chinesas Alibaba, JD e Baidu, que somavam 42,4% da Scion Asset Management. Embora essas posições estejam na carteira há anos, Burry aumentou a aposta no último trimestre, vendendo as opções de venda que mantinha como hedge.
A estratégia se mostrou acertada. O DeepSeek reacendeu os holofotes sobre o mercado de tecnologia chinês e, desde o início do ano, o índice Hang Seng, de Hong Kong, tem sido um dos destaques globais, acumulando alta de 14,4% em 2025 e de 41,2% em 12 meses.
O Alibaba tem puxado a recuperação, disparando 48,4% no ano. A empresa, que está desenvolvendo seu próprio modelo de linguagem, é vista como uma das potenciais potências da IA na China. Recentemente, anunciou uma parceria com a Apple para incluir seu modelo, o Qwen, no lançamento do Apple Intelligence no mercado chinês.
A valorização do Alibaba tem sido um dos motores do desempenho da Scion, que terminou 2024 com a companhia como sua maior posição, representando 16,4% do fundo. Já Baidu e JD, que acumulam altas de 4,4% e 13% no ano, respondiam por 13,6% e 13,4% da carteira, respectivamente.
Outro acerto da Scion foi a entrada no capital da Pinduoduo no último trimestre. As ADRs da empresa, uma das gigantes do e-commerce chinês, dispararam 29% nos quase dois primeiros meses do ano. A holding vem registrando forte crescimento de receita com a expansão da Temu nos mercados globais. No fim do último trimestre, Pinduoduo já representava 9,4% da carteira, sendo a sexta maior posição do fundo.
Com mais de 50% do portfólio alocado em empresas chinesas, as apostas de Burry nos EUA estão concentradas no setor de saúde, que deve se beneficiar do envelhecimento populacional. Suas principais posições são na Molina Healthcare, com 9,4% do portfólio, e na HCA Healthcare, com 5,8%.
Desde março de 2023, a Scion Asset teve retorno de 47,4% contra 51% do S&P 500, segundo dados da plataforma Whalewisdom. Somente no quarto trimestre, o desempenho foi de 21,27% contra 2% do principal índice de Nova York. Essa vantagem do Scion em relação ao benchmark deve aumentar ainda mais neste trimestre, com a forte valorização das empresas chinesas.