O balanço da Viveo tem um grande número que chama a atenção pela sua grandeza: R$ 1 bilhão de prejuízo não caixa no quatro trimestre de 2024. O montante faz parte do ajuste final de todo o processo de reestruturação que a companhia passou ao longo do ano passado.
Desse total, R$ 390 milhões são provisões tributárias para o Difal (a diferença de impostos durante a compra ou venda de mercadorias entre estados), com impacto no caixa de pouco menos de 10% desse montante. Outras provisões, baixas e ajustes usuais somam R$ 283,5 milhões, além de R$ 348,3 milhões referentes a acertos de M&As e conciliações. Na última linha do balanço, o prejuízo ajustado no quarto trimestre foi de R$ 50,2 milhões.
“O quarto trimestre encerra os ajustes todos do passado e entramos em 2025 no modo de execução desse plano de virada para a trajetória de crescimento da companhia”, diz Leonardo Byrro, CEO da Viveo, ao NeoFeed.
“Limpamos o passado no nosso balanço e não teremos novos ajustes daqui pra frente”, complementa.
Para entrar nesse novo ciclo, a Viveo deixou de consumir caixa. Se em 2023 a queima foi de R$ 893 milhões de caixa operacional, a empresa tem uma geração positiva de R$ 206 milhões em 2024.
O quarto trimestre marca, também, uma redução significativa nas despesas gerais e administrativas em comparação com o mesmo período do ano anterior. Houve uma queda de 12,5%, para R$ 198 milhões, nesse custo, ante R$ 227 milhões.
A Viveo começou a reequacionar o ciclo do capital de giro. O ciclo de caixa da companhia, que chegou a ser de 29 dias no quarto trimestre de 2022, subiu para 63 dias no mesmo período do ano seguinte e, passados 12 meses, caiu para 52 dias no último trimestre do ano passado.
Essa adequação começou a ser feita pelos estoques e pelo contas a pagar. Historicamente, a companhia sempre teve o estoque financiado pelo contas a pagar, algo que entrou em desequilíbrio a partir do fim de 2023 com a integração toda das 18 empresas dos M&As.
“Estamos chegando no patamar de número ideal. A perna que ainda está acima do que queremos levar é a de contas a receber”, diz Byrro.
“E a ideia é que até o meio do ano de 2025 estaremos no patamar que gostaríamos de estar”, complementa.
A receita líquida no último trimestre de 2024 foi de R$ 2,9 bilhões, um aumento de 1,1% em relação ao mesmo período do ano anterior. E o retorno sobre o capital investido (ROIC) chegando a 10,9%.
A expectativa é que esse indicador continue crescendo trimestre a trimestre. Três pontos são chave para essa continuidade: o crescimento de negócios com maior margem, a redução das despesas (que já teve início no quarto trimestre) e será maior neste ano e o reenquadramento do capital de giro.
“O ROIC vai continuar melhorando ao longo dos trimestres, mas a gente já viu uma evolução”, diz o CEO da Viveo.
Entre as quatro verticais de negócio da empresa (hospitais e clínicas; vacinas e laboratórios; varejo; e serviços), o maior crescimento foi o de vacinas e laboratórios, com uma expansão de 24,4% no ano.
“Vamos mostrar trimestre a trimestre evoluções sequenciais. 2025 é de execução. Não é um ano de plano ou de achar oportunidades. Sabemos o que temos de fazer da porta para dentro e para fora”, diz Byrro.
Credores e alavancagem
O balanço da Viveo também mostrou que a alavancagem chegou a 4,28 vezes a relação dívida líquida sobre o Ebitda ajustado.
Esse indicador está acima dos covenants de 3,5% com os credores, mas no fim do ano passado a Viveo e os debenturistas acertaram um waiver de 12 meses da dívida.
O acordo foi assinado na sexta-feira, 21 de março, com o acerto dos compromissos e reforços de garantias da Viveo para os credores, como a empresa não pagar proventos em 2025, limitar os gastos com capex a R$ 175 milhões e manter-se com o registro na CVM.
Além disso, ficou acordada a condição para um M&A da Cremer, marca de produtos de primeiros socorros, cirurgia, tratamento, higiene e proteção, que foi adquirida pela Viveo em 2017 por R$ 500 milhões.
O NeoFeed revelou que a Viveo mandatou o Itaú BBA para sondar o interesse do mercado pela Cremer, que está na vertical de negócios de varejo do grupo.
Na B3, a ação VVEO3, acumula queda de 24,9% em 2025. Em 12 meses, o papel recua 76,6%. O valor de mercado da companhia é de R$ 487,5 milhões.