A adoção de inteligência artificial (IA) no iFood tem produzido resultados expressivos tanto no dia a dia da companhia, como em seu balanço financeiro.
Segundo Thiago Cardoso, diretor de dados e inteligência artificial, mais de 30% do Ebitda do iFood já é impactado diretamente por soluções de IA, com aumento de receita pelo ganho de produtividade e redução de prejuízo por fraudes.
A incorporação de IA na empresa ganhou fôlego a partir de 2019, com a aquisição da Hekima, fundada por Cardoso, e hoje se traduz em mais de 150 modelos ativos nas mais diversas áreas do iFood.
“Desde 2019, nosso time cresceu de 30 para 300 pessoas. São dez vezes mais profissionais dedicados a construir soluções com inteligência artificial, que hoje estão presentes em quase todas as jornadas dentro do app”, diz Cardoso, ao Revolução IA, programa do NeoFeed que tem o apoio da Magalu Cloud.
Apesar do hype da IA generativa, a maioria das soluções no iFood ainda tem base na IA tradicional. Um exemplo é o caso das ferramentas para prevenção de fraudes. Em 2020, o iFood enfrentou um pico de prejuízo estimado em R$ 20 milhões por mês por conta de transações fraudulentas.
A implementação de um modelo tradicional de machine learning permitiu não apenas detectar, mas também aprender com os padrões criminosos, reduzindo o problema. Com isso, a taxa de fraude caiu para menos de 0,1%, e a taxa de aprovação de pedidos aumentou, gerando impacto direto no resultado.
“A nossa ideia é explorar quais são os novos produtos que conseguimos construir com essa tecnologia à disposição. Por exemplo, temos experimentado com novas formas de fazer pedidos. Posso simplesmente pedir os ingredientes de um bolo de cenoura, e o aplicativo gera para mim essa lista”, afirma Cardoso.
Outro exemplo de uso é na incorporação da conversa de voz para pedidos em restaurantes, aproveitando o comportamento típico do consumidor brasileiro — hoje, o Brasil é o país que mais envia áudios no WhatsApp, segundo a Meta.
A tecnologia incorporada no Anota Aí, comprado pelo iFood em 2022, reduziu as barreiras de entrada para públicos com menor letramento digital e permitiu que a ferramenta ganhasse escala.
"Conseguimos até ver qual foi o impacto no Anota Aí: em 2022 eles estavam fazendo 3 milhões de pedidos por mês. Hoje, eles fazem 3 milhões de pedidos em três dias", afirma Cardoso.
Eficiência operacional e logística
Mais um ganho visível da incorporação massiva de IA está na eficiência logística — área central para o modelo de negócios da empresa. O iFood passou a prever com precisão o tempo de preparo dos pratos e a estimar o melhor momento para enviar o entregador ao restaurante. “Hoje, realizamos mais de 24 bilhões de predições por mês com modelos tradicionais”, diz Cardoso.
Além disso, com a ajuda de IA, a empresa passou a permitir que restaurantes escaneiem uma foto do cardápio físico para preencher automaticamente os dados na plataforma, o que reduziu em mais de 60% o tempo gasto nessa etapa. O resultado foi um aumento no número de estabelecimentos que completam a adesão.
Os executivos do iFood têm impulsionado um movimento cultural em torno da IA, promovendo hackathons internos com o objetivo de eliminar barreiras burocráticas para que qualquer funcionário possa criar, testar e escalar soluções com a tecnologia.
Para Cardoso, a IA não é mais um diferencial, mas a base sobre a qual se constrói eficiência, inovação e inclusão. Por isso, recomenda que as companhias que estão no início de processo de adoção comecem a partir de um problema específico.
“Vemos vários casos de empresas começando a implementar inteligência artificial e dando errado. E um dos motivos é que elas tentam começar pelo primeiro passo. Mas a melhor forma de começar é lá no fim, começando pelo problema. É ali que você vai conseguir ver o resultado daquela ação.”