Fundada em 2009, em Porto Alegre, a doc9 nasceu como um marketplace jurídico. Mas adicionou novas camadas e tecnologias ao seu modelo a partir da pandemia. Entre elas, a gestão de certificados digitais. Agora, está recebendo uma validação para essa sua tese mais ampla.

Quem está dando essa chancela é a Headline. Liderada no Brasil por Romero Rodrigues, fundador do Buscapé e dono de um longo histórico em venture capital, a gestora americana acaba de assinar um cheque de R$ 35 milhões para a lawtech, em informação antecipada com exclusividade ao NeoFeed.

“Sempre fui um ferrenho crítico de captar por captar. Mas vimos uma janela para potencializar nosso crescimento com capital externo”, diz Klaus Riffel, fundador e CEO da doc9, ao NeoFeed. “E a Headline era quem tinha mais encaixe, em termos de cultura, sinergias e abertura de portas.”

Até então, a startup havia captado uma rodada de R$ 3 milhões, no fim de 2022. Já sob a ótica da Headline, esse é o 13º investimento do fundo Headline 3, captado em parceria com a XP Asset e cujos recursos somaram R$ 916 milhões. O plano é reunir de 20 a 25 startups nesse portfólio.

“Estamos com 2 anos e meio e 13 empresas investidas, além de outras três em estágio final de diligência”, diz Gabriel Alves, sócio da Headline, que invest R$ 10 milhões e R$ 50 milhões nesse fundo. “E temos ainda cerca de 45% de dry powder para montar esse portfólio e para folllow ons.”

No caso da doc9, Alves ressalta que cultura, estilo de gestão e a capacidade de reinvenção foram alguns dos fatores que pesaram no investimento. Bem como as oportunidades à frente da operação.

“Normalmente, quando nos apaixonamos pelo projeto, não precisamos trazer sócios para a rodada. Se cabe no nosso bolso, fazemos sozinhos”, afirma Alves. “E a doc9 está atuando em um mercado que é um oceano azul. E é só uma questão de tempo para que eles sejam referência nesse espaço.”

O modelo que seduziu a gestora começou a ser criado em 2009. E inclui um marketplace que, no caso de processos com um volume substancial de audiências, em diferentes cidades e tribunais, conecta escritórios de advocacia e empresas a advogados correspondentes em cada praça incluída nas ações.

O produto era o motor da doc9, que chegou a atender mais de mil clientes – entre eles, Itaú, Ambev, Claro e escritórios como Pinheiro Neto e Mattos Filho. Mas, com a chegada da pandemia, em 2020, e a interrupção do judiciário nos meses seguintes, a startup viu sua receita ir praticamente a zero.

Superados os impactos iniciais, a empresa reconstruiu, pouco a pouco, essa oferta. Entretanto, em paralelo, entendeu que era hora de ampliar seu escopo. E, após mais de um ano de squads e testes, o veredito foi unânime. A escolha recaiu sobre a Whom, plataforma de gestão de certificados digitais.

Desenvolvida na trilha da expansão do uso dos certificados digitais, a plataforma permite, entre outros recursos, que um escritório de advocacia forneça concessões de uso desses certificados baseadas em filtros como o acesso restrito aos tribunais relativos a um determinado caso.

“Tudo o que for feito vai ficar rastreado em um log. E, dentro de cada sistema em que o usuário foi autorizado a navegar, ainda é possível estabelecer o que se pode ou não fazer”, diz Riffel. “Se ele tentar acessar outras áreas, por exemplo, a plataforma bloqueia e emite um alerta para o dono do certificado."

Lançado no início de 2023, em pouco tempo, o Whom ultrapassou as projeções da doc9 e tornou-se o carro-chefe da empresa. “Queríamos chegar a 100 clientes em dois anos. E fizemos isso em quatro meses”, diz Riffel.

Hoje, a plataforma tem um tíquete médio de R$ 2,8 mil a R$ 3 mil e mais de 800 clientes. Mas essa base já vai muito além dos escritórios de advocacia, ao incluir nomes como Petrobras, Ambev e Três Corações. E é justamente esse o “oceano azul” onde a startup vê oportunidades para nadar de braçada.

“Eles se adaptaram rapidamente e incorporaram um negócio mais rentável e amplamente escalável”, diz Alves, da Headline. “O Whom nasceu para o mercado jurídico, mas tem entrada, de fato, em qualquer empresa que faça uso do certificado digital.”

Alguns números traduzem esse potencial. Em 2024, o Brasil registrou um total de 10,5 milhões de certificados digitais emitidos. Para esse ano, a projeção é superar 13 milhões. Com essa conta, a doc9 enxerga um mercado endereçável de R$ 3 bilhões.

Já no que diz respeito ao marketplace, onde a startup mantém hoje cerca de 1,5 mil clientes e 5 mil advogados correspondentes cadastrados, o mercado potencial estimado gira entre R$ 1,6 bilhão e R$ 1,8 bilhão.

IA jurídica

De olho em vendas cruzadas nessas duas frentes e na oportunidade de ir além do setor jurídico, a startup já definiu os destinos da rodada. “O foco será a aceleração do portfólio atual e a ampliação das nossas ofertas”, diz Riffel. “E isso vai demandar mais investimentos na área comercial e em marketing.”

Em termos de novidades, o que há de mais recente é a Which, como a doc9 batizou sua plataforma de “inteligência artificial jurídica”, que acaba de ser lançada e combina modelos de mercado com dados jurídicos compilados pela lawtech para agilizar e aprimorar os processos de escritórios e áreas jurídicas.

Entre outras funções, a plataforma fornece consultas aprofundadas de processos e jurisprudências, além de análises jurídicas. E já tem uma ferramenta em desenvolvimento para a criar peças processuais e documentos jurídicos.

“Outro diferencial é que nós vamos criar um data lake específico para cada cliente”, afirma Riffel. Segundo o CEO, a tendência é que, quanto mais a plataforma alimentar essa base de conhecimento, mais personalizados e específicos serão os documentos criados e as respostas dadas pelo modelo.

“A ideia é criar mais produtos, seja dentro de casa ou em parcerias com startups de menor porte”, afirma. “Nosso plano é consolidar um portfólio que atenda a dor completa dos escritórios e departamentos jurídicos das empresas de uma forma geral.”