Quando lançado, em 1982, Tron — Uma Odisséia Eletrônica não foi uma sensação de bilheteria ou mesmo uma unanimidade entre os críticos. Mas nada impediu o impacto cultural e tecnológico do filme de ficção científica sobre um programador de computadores e inventor de videogames que acaba preso no ciberespaço.
Tron foi uma das primeiras produções a retratar o mundo virtual nas telas, tema que ficou popular em filmes de sci-fi a partir dos anos 1990, como Matrix (1999). Um dos primeiros títulos hollywoodianos a usar amplamente efeitos especiais criados por computadores, Tron ainda abriu caminho para a ascensão da computação gráfica no cinema, instigando toda uma geração de diretores e de artistas digitais.
Tudo isso só aumenta a expectativa em torno de Tron Ares, o terceiro filme da franquia, com estreia agendada para outubro nos cinemas do mundo. “É inacreditável pensar que rodamos o original há mais de 40 anos. Na época, nós não podíamos imaginar o legado que estávamos construindo”, afirmou o ator Jeff Bridges, protagonista do primeiro Tron, escalado para retomar o personagem Kevin Flynn no novo longa-metragem.
“E o timing para trazer a franquia de volta é perfeito, com a tecnologia e a inteligência artificial cada vez mais presentes nas nossas vidas hoje. Era mesmo a hora de revisitarmos esse universo extraordinário”, completou, em evento realizado no Honda Center, em Anaheim, na Califórnia, que teve cobertura do NeoFeed.
Mas, como ele contou, agora, é “o mundo virtual que vem nos visitar”, adiantando que a nova história propõe um caminho inverso. Ares, um programa digital sofisticado, se materializa na pele do ator Jared Leto e atravessa a fronteira entre o virtual e o real, promovendo uma “colisão de mundos”, como anuncia o trailer.
A bordo de uma motocicleta de luz neon (veículo de design futurista recorrente na franquia), Ares chega para executar uma missão perigosa. “Ele é um programa do MCP (sigla de "Master Control Program", a IA sinistra do filme original) que busca fazer do mundo real o seu mundo permanente”, contou Jared Leto, também presente no evento. Aparentemente, seu personagem seguirá a linha de Pinóquio, no desejo de se tornar humano.
Escrito por Jesse Wigutow e dirigido por Joachim Rønning, novatos na franquia, Tron Ares apresenta o encontro como o primeiro contato da humanidade com seres de IA. Como a temática continua fascinando gerações, o novo roteiro retoma as questões mais comuns relacionadas à tecnologia, como a possibilidade de uma forma de consciência artificial, além de explorar novos caminhos.
Vale lembrar que o computador ainda não estava amplamente inserido na vida cotidiana na época do primeiro filme — escrito e dirigido por Steven Lisberger. Daí também o brilhantismo do roteiro em pisar em território pouco explorado com a trama de Flynn.
Ao hackear o sistema de uma empresa corrupta, para provar que teve o seu trabalho roubado pelo ex-chefe, o gênio da informática acaba digitalizado e enviado ao mundo virtual, onde passa a interagir com os programas da MCP.
Em 2010, quando o segundo filme da franquia, Tron — O Legado, chegou aos cinemas, os tempos já eram outros, com a sociedade muito mais familiarizada com a noção do espaço virtual.
Na história escrita por Adam Horowitz e Edward Kitsis e dirigida por Joseph Kosinski, Sam (interpretado por Garret Hedlund), filho de Flynn, desaparecido há 20 anos, também é transportado para o reino digital. Neste caso, porém, a arena eletrônica foi desenhada por seu pai, sem que Flynn pudesse imaginar que a "criatura" se viraria contra o criador.
Nos dois primeiros filmes, um dos maiores medos da humanidade diante do avanço da IA, como a ideia de que a tecnologia possa assumir o controle ou passar a influenciar mais efetivamente o mundo real, é explorado.
O tema ainda permeia a terceira aventura, mas com a promessa de ir mais longe: com a linha mais tênue entre os mundos real e digital no novo roteiro, os personagens devem questionar a natureza da própria realidade.
Atualmente, a franquia Tron acumula mais de US$ 450 milhões ao redor do globo, com o primeiro filme só tendo arrecadado cerca de US$ 50 milhões desse montante.
Embora a bilheteria tenha decepcionado a Disney na época, a obra inspirou diversos videogames (incluindo um fliperama), livros, histórias em quadrinhos, a série de animação Tron: A Resistência (2012) e até uma montanha-russa — lançada inicialmente como uma atração do parque do estúdio em Shanghai.
Uma curiosidade sobre o original é o fato de a produção ter sido “desqualificada” pela Academia para entrar na briga pelo Oscar de Melhores Efeitos Visuais do ano. Sim, na época, o uso inovador de CGI foi totalmente menosprezado, já que Hollywood incentivava os efeitos mais práticos. Imagem gerada por computador era considerada “trapaça”.