Em um trimestre marcado pela consolidação do cenário de alta da taxa de juros e pelo primeiro ano da implementação da “taxa das blusinhas”, a Lojas Renner registrou crescimento de 18,5% na receita líquida no período de abril a junho, com R$ 3,65 bilhões, e um aumento de 28,4% no lucro líquido da companhia, alcançando R$ 404,5 milhões.

As três marcas da companhia tiveram um desempenho financeiro positivo no segundo trimestre. Enquanto a Renner registrou alta de 18,8%, a Camicado cresceu 8,1%, e a Youcom, 21,7%. Sobre as mesmas lojas, a elevação nas vendas chegou 17,3%.

Ainda que tenha aumentado o volume das despesas, a Renner alcançou no trimestre uma posição de caixa de R$ 1,8 bilhão, o que garante o horizonte de investimentos previstos para o segundo semestre. Nos primeiros seis meses, o capex foi de R$ 227,5 milhões. Até dezembro, a perspectiva é de chegar a R$ 850 milhões.

“Essa evolução dá uma tranquilidade para a companhia. Hoje, a Renner não tem alavancagem financeira, o que nos dá uma posição privilegiada no varejo e nos dá flexibilidade no nosso plano de investimentos”, diz Fábio Faccio, CEO da Renner, em entrevista ao NeoFeed.

“Tivemos um volume importante do crescimento de vendas, com uma média que representa o dobro do mercado, ganho de lucro bruto, diluição de despesas e redução do ciclo financeiro em 12 dias, o que libera uma boa geração de caixa livre”, afirma o executivo.

Nos primeiros seis meses do ano, a companhia abriu seis novas lojas, sendo quatro da Youcom e duas da Renner (uma delas no segundo trimestre). De julho até agora, já foram mais três unidades. O plano é chegar ao fim do ano com um volume de 30 a 37 novas lojas (15 a 20 da Renner, 15 da Youcom, e de uma a duas da Camicado).

A maior parte de abertura dessas lojas está concentrada no quarto trimestre. Além dos investimentos em aberturas, que nos primeiros seis meses do ano foram de R$ 18 milhões, a Renner aportou até aqui R$ 99,8 milhões em remodelação de instalações, R$ 101,9 milhões em sistemas de e equipamentos de tecnologia, e R$ 7,7 milhões em logística. Em 2025, 64 lojas serão reformadas.

“Como parte do nosso crescimento vem de lojas novas, a tendência é que isso deva trazer esse aumento de vendas. E uma parte significativa também vem a partir da remodelação de lojas, que ficam mais modernas e acabam performando melhor do que as outras”, explica o CEO.

O canal online da companhia também representou uma alta expressiva, com um GMV (volume bruto de mercadoria) digital de R$ 734,4 milhões, elevação de 20,7% sobre o que foi reportado no mesmo período de 2024 (R$ 608,4 milhões). A penetração do e-commerce na receita cresceu 0,3 ponto percentual, alcançando 15,1%,

Segundo o executivo, o crescimento da rentabilidade em todas as unidades é resultado de um ciclo de investimentos dos últimos três anos, que envolveu integração de setores, incluindo os canais físico e online. Com o plano organizacional da separação efetiva das unidades, aprovado em maio pelo conselho de administração, a tendência é de melhorar a eficiência e aumentar ainda mais o volume de vendas.

“Isso já traz uma captura maior de valor no resultado. No caso da reestruturação, que é mais recente, a gente tem uma expectativa de uma melhoria um pouco mais à frente. Em um horizonte mais longo, nossa expectativa é de melhoria de performance e crescimento contínuo”, afirma Faccio.

“O avanço do nosso modelo operacional nos permite a melhora da rentabilidade na margem bruta e a geração de alavancagem operacional, onde as despesas registram um crescimento menor do que a receita. E alcançamos isso mais uma vez”, diz Daniel dos Santos, CFO da Renner. O crescimento da margem bruta operacional foi de 0,8 ponto percentual.

Juros nas alturas

Para o CEO da companhia, ainda que o Comitê de Política Monetária (Copom) tenha dado uma sinalização de queda da Selic, a partir da manutenção da taxa de 15% ao ano na última reunião, no fim de julho, o cenário macroeconômico ainda representa um grande desafio para as companhias do setor.

“O patamar ainda é muito elevado e isso é um ponto negativo para a economia. Taxas menores contribuem mais para o País. No nosso negócio, o impacto é menor, porque não temos dívida, mas pressiona o consumidor. A taxa precisa baixar”, diz.

Outro ponto importante, na avaliação de Faccio, é o que ele chama de cenário injusto de competitividade em relação às plataformas asiáticas, que ainda que tenham passado a ser taxadas, a partir da implementação da Remessa Conforme, ainda pagam alíquotas menores do que as varejistas nacionais estabelecidas.

“Temos oito trimestres seguidos de crescimento e investindo na nossa competitividade. Estamos preparados para enfrentar qualquer player em qualquer situação. E crescemos mesmo quando essas plataformas não pagavam nenhum imposto”, afirma.

“É necessário lembrar que alcançamos esse desempenho mesmo pagando o dobro dessas plataformas. O que a gente busca é uma isonomia tributária, com mais justiça. Ou as empresas nacionais deveriam ter redução dos impostos, ou que as demais pagassem pelo menos o mesmo que a gente. Falta esse passo ainda”, diz Faccio.

Na B3, as ações da Lojas Renner registram valorização de 50,3% no acumulado de 2025. O market cap da companhia varejista é de R$ 19,15 bilhões.