Após dois trimestres amargos, com queda em indicadores como receita e lucro, a companhia M. Dias Branco, dona de marcas como Piraquê, Adria, Vitarella e Jasmine, voltou a ter um balanço com resultados acima do consenso dos analistas.

No segundo trimestre, a empresa registrou receita líquida de R$ 2,72 bilhões, alta de 3,6% sobre o reportado na mesma base de 2024. No período, o lucro líquido foi de R$ 216,4 milhões, 14% acima do registrado no segundo trimestre de 2024, e 211,8% superior em relação aos R$ 69,4 milhões registrados no primeiro trimestre deste ano.

Mas há desafios pela frente. O principal deles é recuperar o crescimento do volume dos produtos vendidos pela companhia, além de ampliar a presença em regiões onde as marcas da M. Dias Branco estão abaixo da média de 30% de penetração, como o Sudeste. Entre abril e junho, a empresa comercializou o equivalente a 457,3 mil toneladas.

O número é 9,8% inferior ao segundo trimestre de 2024, que foi inflado por causa de um problema no sistema nos primeiros meses do ano passado. Por outro lado, representa um aumento de 16% sobre o total vendido entre janeiro e março deste ano, somando biscoitos, cookies, farinhas e massas.

“Entregamos agora resultados melhores do que o do ano passado. Mas ainda tem muita coisa para fazer, com espaço para ficar melhor. De qualquer forma, os números representam essa virada”, diz Fabio Cefaly, diretor de novos negócios e relações com investidores da M. Dias Branco, ao NeoFeed.

A volta dos indicadores para cima, na avaliação do executivo, já é resultado na mudança na cultura de vendas da companhia, com a centralização da área em uma única diretoria, e a presença maior da empresa nos pontos de venda no Brasil.

“Há uma agenda de execução bem grande acontecendo na empresa. Estamos crescendo o volume em regiões onde já somos bem fortes e abrindo frentes de crescimento onde estamos com menos participação. Há muitas oportunidades de buscar clientes novos. Não há uma bala de prata e sim uma série de ações para isso”, afirma o executivo.

O conceito, segundo Cefaly, foi implementar uma filosofia de pertencimento envolvendo todos os setores da empresa. Uma das iniciativas foi levar profissionais de outras áreas para conhecer de perto os pontos de vendas e entender a realidade desta etapa final do negócio.

“Tem o time que vende e o time que ajuda a vender. O que a gente precisa é que todos nós estejamos olhando para o consumidor, com o objetivo claro de entregar resultado.”

Uma linha do balanço que segue em alta diz respeito à capacidade financeira da empresa. A exemplo do trimestre passado, a empresa reportou alavancagem negativa de 0,1%, o que mostra que a companhia tem mais recursos em caixa do que o volume de dívida. A posição de caixa ao fim do trimestre foi de R$ 2,1 bilhões, e R$ 328 milhões de caixa líquido.

Preço médio mais alto

Outro ponto importante que justifica a alta da receita e do lucro foi o crescimento do preço médio, que registrou aumento de 14,8% sobre o segundo trimestre de 2024, e elevação de 6,4% em comparação aos primeiros três meses de 2025.

“Esse aumento de preço médio vai ser muito bem recebido pelo mercado, porque além do efeito dos aumentos no primeiro trimestre, há o efeito mix positivo, em que todos os setores acumularam esse crescimento”, afirma.

Além da alta nos preços em todos os segmentos, o outro lado positivo é que subiram mais daqueles que têm valor mais alto, como os biscoitos. “O preço médio aumenta porque estou vendendo produtos com maior valor agregado. Mas precisa ter volume. Estamos nesse caminho.”

Com mais receita a partir de um preço médio maior, o Ebitda da M. Dias Branco registrou R$ 344,9 milhões, crescimento de 2,4% sobre o segundo trimestre de 2024 e 114,4% acima do reportado no primeiro trimestre deste ano. A margem Ebitda do período foi de 12,7%.

Em despesas, o cenário foi de queda. No segundo trimestre, o volume de gastos nas áreas de vendas, administrativas e gerais alcançou R$ 565,3 milhões, redução de 9% sobre a mesma base do ano anterior. “O Ebitda cresceu porque a gente vendeu mais e gastou menos. Esse é o resumo.”

Entre as ações para redução de custos, a empresa conseguiu agilizar a logística de entrega, em alguns casos até evitando a passagem pelos centros de distribuição. Outra iniciativa foi evitar alugar áreas de armazenagem para focar mais nos espaços próprios da empresa.

Isso garantiu recursos para os investimentos. O capex dos primeiros seis meses foi de R$ 141,7 milhões, 25,4% a mais do que o primeiro semestre de 2024. A maior parte foi aportada em tecnologia e na eficiência dos parques fabris.

Nesse pacote, a empresa implementou um modelo de assistente de inteligência artificial, chamado Manu, para apoiar o time de vendas. Com essa tecnologia, eles passam a ter, de uma forma mais clara, análises sobre a rentabilidade comercial, com insights sobres os desempenhos de cada região.

“O vendedor passa a ter a informação de forma rápida, e ele agora pode ver ou ouvir os destaques financeiros, com vídeos criados pela IA. O processo que levava dias para ser feito hoje leva 24 horas”, afirma Cefaly.

Na B3, as ações da M. Dias Branco registram valorização de 22,54% no acumulado de 2025. A companhia está avaliada em R$ 8,16 bilhões.