Depois de oficializar a passagem de bastão em seu comando – com Gustavo de Lima Furtado substituindo, em abril, o ex-CEO Pedro Zemel -, o grupo SBF tem pela frente o desafio de cumprir duas corridas, em paralelo.
De um lado, após o foco em reduzir sua alavancagem no decorrer de 2023 e 2024, a dona da Centauro e da Fisia (representante exclusiva da Nike no Brasil) entende que ganhou fôlego para iniciar um novo plano estratégico de investimentos, com foco na retomada do seu crescimento.
Em contrapartida, no curto prazo, a varejista de artigos esportivos precisa lidar com os impactos desse ritmo de crescimento do capex em seu balanço. E o equilíbrio entre esses dois percursos foi justamente um dos pontos abordados pelo novo CEO em call com analistas nesta terça-feira, 12 de agosto.
“Desde o início do plano, imaginamos que o segundo e o terceiro trimestre de 2025 seriam de transição”, disse Furtado. “E que começaríamos a capturar, de fato, o resultado a partir do último trimestre e, principalmente, em 2026, que é um ano com um calendário esportivo bastante relevante.”
Diante dessa agenda, que inclui a Copa do Mundo, entre outras datas importantes para a operação, o executivo acrescentou: “Queremos chegar lá com a operação ajustada e bem dimensionada. E com todas as iniciativas já executadas para capturarmos essas oportunidades.”
O CEO ressaltou alguns passos já dados nessa direção, na rede da Centauro. Em busca de um sortimento mais amplo e mais assertivo, o grupo reforçou sua área comercial e nomeou diretores dedicados para categorias-chave, como calçados, vestuário e futebol, além de artes marciais e basquete.
Em outra frente, de olho em um atendimento mais técnico e personalizado, a varejista ampliou o quadro de funcionários nas lojas, contratando, em média, quatro vendedores por unidade. E criou uma estrutura regional de recursos humanos, além de nomear um diretor de marcas próprias e licenças.
“Foi importante sermos conservadores durante a nossa desalavancagem”, disse Furtado. “Mas fizemos um diagnóstico e entendemos que havia uma oportunidade de ampliar o quadro em lojas de alta, mas também de baixa potência, que estavam subdimensionadas. E fomos bastante assertivos.”
O novo plano estratégico também envolveu o reforço da área de engenharia e arquitetura. E esse será um dos principais destinos dos recursos aplicados na Centauro a partir desse segundo semestre, seja em benfeitorias, como fachada e iluminação, ou em reformas mais amplas em seu parque de lojas.
“Em termos de opex, é claro que sempre tem um ajuste fino, mas o grosso do investimento está feito. É muito mais a manutenção disso”, afirmou o CEO. “Mas vamos ter uma aceleração no capex a partir desse segundo semestre com uma velocidade maior nessas reformas.”
Nesse ponto, ele ressaltou que as reformas não irão seguir o mesmo roteiro de refits anteriores, nos quais a rede converteu totalmente lojas antigas em um formato mais moderno, batizado internamente de G5. E cujo custo, em média, era de R$ 4 mil por metro quadrado.
“Faremos reformas mais pontuais, focando a característica individual de cada loja. E a ideia é que o custo por refit de loja seja menor”, explicou. “E, nesse caso, o foco será muito mais em lojas de geração mais antiga. E esse plano vai se dar nos próximos dois anos e meio.”
Já em relação a aberturas de unidades, o executivo observou que, após dois anos mais conservadores, o grupo vê uma oportunidade grande de voltar a acelerar também a partir de 2026. Em especial, na inauguração de lojas da Nike.
Na Fisia, que responde pela operação da marca americana, outras prioridades, já em curso, passam pela redução no volume de remarcações de preços em canais próprios e a retomada no canal de atacado, que já deu sinais de melhora no trimestre, com um crescimento de 4,4% sobre igual período de 2024.
Em contrapartida, os investimentos feitos afetaram outras linhas do balanço. O aumento do quadro de funcionários, por exemplo, das lojas às diretorias, foi o principal fator apontado para o crescimento de 11,7% nas despesas com vendas, para R$ 606,4 milhões.
“Estamos tentando subsidiar esses investimentos com uma maior eficiência nas despesas corporativas”, disse José Luís Magalhães Salazar, CFO do grupo. “Mas esse impacto é temporário. Vamos começar a ter os benefícios dessa receita quando todas essas iniciativas estiverem consolidadas.”
Nessa linha, a empresa destacou a queda de 14,9% nas despesas gerais e administrativas, para R$ 117,3 milhões, o que atribuiu a um menor provisionamento de remuneração variável no período. Essas despesas representaram 6,5% da receita líquida, queda de 1,5 ponto percentual em base anual.
Pouco inspirador
Em outros indicadores, o lucro líquido teve queda de 79,7%, para R$ 46,4 milhões. Já o lucro líquido ajustado cresceu 19,1%, para R$ 87,1 milhões, impulsionado, principalmente, pela adoção de incentivos fiscais em lojas físicas da Fisia, com a distribuição de produtos a partir do CD próprio em Extrema (MG).
A receita líquida, por sua vez, cresceu 6,1%, para R$ 1,81 bilhão, enquanto a margem bruta recuou 0,7 ponto percentual, para 49,1%. O Ebitda ajustado teve queda de 1,9%, para R$ 242,7 milhões e a margem Ebitda ajustada ficou em 13,4%, uma retração de 1 ponto percentual.
No trimestre, a dívida líquida de R$ 506,1 milhões representou uma queda, em base anual, de 33,1%. Já a alavancagem ficou em 0,68 vez, contra 1,06 vez no mesmo intervalo do ano passado.
Em relatório, o BTG Pactual classificou o balanço como “pouco inspirador”, ao ressaltar a receita líquida fraca, a lucratividade pressionada e a pior geração de fluxo de caixa livre no período, diante da implantação do novo plano.
“Embora a perspectiva de vendas no curto prazo permaneça moderada, esperamos uma melhora gradual no desempenho da receita após as iniciativas da empresa para impulsionar as vendas por metro quadrado, o que deve contribuir gradualmente para a lucratividade, principalmente em 2026”, apontou o banco, com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 16 para a ação.
Os papéis do grupo registravam alta de 2,71% por volta das 13h35, cotados a R$ 10,99. No ano, as ações têm uma valorização de 2,5%, dando à empresa um valor de mercado de R$ 2,5 bilhões.