Na última semana de agosto, Carlos Martins, CEO da Roche Diagnóstica no Brasil, desembarcou na Capital Federal com a missão de convencer o alto escalão do Ministério da Saúde a implementar no Sistema Único de Saúde (SUS) a mesma transformação que vem ocorrendo nos laboratórios de análises clínicas dos hospitais de elite.

Em sua pasta, Martins levou os números dos avanços que a divisão de soluções para diagnóstico laboratorial da gigante de saúde Roche tem atingido Einstein Hospital Israelita, considerado o melhor hospital da América Latina e 22º melhor do mundo segundo rankings internacionais.

“O Einstein é como se fosse um tubo de ensaio para depois escalar no SUS”, diz Martins, em entrevista ao NeoFeed. Nos últimos 20 anos, o hospital brasileiro tem sido pioneiro em receber os principais avanços desenvolvidos pela empresa suíça.

Há cerca de dois meses, a Roche Diagnóstica implementou uma tecnologia proprietária chamada Navify (junção das palavras navegação e verificação, em inglês) que está reescrevendo as regras do diagnóstico médico.

Pode parecer exagero, mas essa tecnologia entrega ganho de produtividade em um laboratório, ou seja, a redução de tempo para o resultado de um exame. Para pacientes com suspeita de câncer de mama, por exemplo, essa diferença de tempo pode significar a fronteira entre a cura e a progressão da doença.

“Com 30 segundos e um clique, nossa inteligência artificial compara milhões de lâminas e aponta com mais de 99% de assertividade”, diz o CEO da Roche Diagnóstica. “A IA não substitui o patologista. Ela acelera o diagnóstico e dá mais segurança ao médico na hora de laudar.”

O sistema Navify é a plataforma de IA que tem a capacidade de reduzir filas e acelerar diagnósticos. O Einstein, por exemplo, conseguiu diminuir o tempo de resposta dos exames laboratoriais. Para um paciente que chega ao pronto-socorro com dor no peito, essa economia de 40 a 45 minutos pode ser a diferença entre a vida e a morte.

Há, também, indicadores de maior eficiência operacional e redução de desperdícios com gestão de estoque. De acordo com pesquisa da Roche, a plataforma faz a quantidade de testes repetidos dentro do laboratório cair 85% e os custos com reagentes diminuem 34%. Em termos de gestão de suprimentos, as rupturas de estoque caem 93%, enquanto as perdas de insumos por variação diminuem 74%.

Outros grupos de saúde também estão recebendo novas tecnologias da empresa suíça. No Hospital Sírio Libanês, por exemplo, foram investidos pouco mais de R$ 100 milhões para implementar um sistema de transporte automatizado para amostras, eliminando tempos de espera que podem ser cruciais em casos críticos como pacientes em UTIs. No Grupo Fleury, Sabin e outros grandes laboratórios há soluções similares.

No Brasil, a Roche Diagnóstica alcançou um faturamento superior a R$ 1 bilhão em 2024, um crescimento de 14% em relação ao ano anterior. A projeção para este ano é atingir entre R$ 1,6 bilhão e R$ 1,8 bilhão. E para 2026, a perspectiva é superar R$ 2 bilhões de receita no País.

Globalmente, a divisão tem receita próxima a R$ 160 bilhões. E o investimento em pesquisa e desenvolvimento se aproxima de R$ 100 bilhões por ano.

Do topo para a base da pirâmide

Martins mantém uma agenda ativa em Brasília para acelerar a incorporação de novas tecnologias diagnósticas no sistema público de saúde. Um exemplo é o investimento de cerca de R$ 135 milhões da Roche em parceria com o Ministério da Saúde para equipar 82 laboratórios em todo o País voltados ao monitoramento de HIV e hepatites - projeto concluído em apenas três meses e que já permite gerar dados cruciais para ações de saúde pública.

Essa incorporação do teste para diagnóstico do câncer de colo uterino causado pelo papilomavírus humano (HPV) é um processo que levou cinco anos para ser concretizado, mas que pode salvar vidas de milhares de mulheres brasileiras - a cada 90 minutos morre uma mulher com essa doença no País.

“70% das decisões clínicas tomadas sobre pacientes vêm do laboratório. Nosso impacto começa lá”, diz o executivo.

Para 2026, a empresa planeja lançar uma nova tecnologia de sequenciamento genômico capaz de processar sete genomas em uma hora – um salto quântico considerando que o primeiro genoma humano sequenciado levou oito anos para ser concluído.