A busca por uma vacina para a Covid-19 está movimentando governos, empresas, organizações e investimentos em todo o mundo. Entre tantos esforços, ainda é impossível estimar de onde e quando virá uma solução. Mas nesse cenário, um ator em especial não está poupando recursos para chegar à frente nessa corrida.
Os Estados Unidos já anunciaram um aporte total de US$ 2,2 bilhões para o financiamento de iniciativas desse porte. Para efeito de comparação, a União Europeia, até a semana passada, havia destinado € 140 milhões (US$ 153 milhões) para projetos com essa finalidade.
O recurso europeu não considera os eventuais aportes realizados, individualmente, por cada país do bloco. Mas dá uma medida da disposição do governo do presidente americano Donald Trump.
O volume de recursos anunciado pelos Estados Unidos passa por projetos das americanas Johnson & Johnson, de U$ 500 milhões, e Moderna, de US$ 483 milhões. Além de suas fronteiras, o país também direcionou R$ 30 milhões à farmacêutica francesa Sanofi.
Na quinta-feira, 21 de maio, a AstraZeneca engordou essa conta. O Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (HHS, na sigla em inglês) anunciou que o país irá destinar até US$ 1,2 bilhão para apoiar a vacina que a farmacêutica britânica está desenvolvendo em parceria com a Universidade de Oxford. O projeto também conta com recursos do governo do Reino Unido.
Em um modelo de parceria público-privada, o pacote bilionário americano será aportado por meio da Autoridade Biomédica de Pesquisa e Desenvolvimento Avançado (BARDA, na sigla em inglês). Segundo a HHS, o acordo envolve a colaboração para oferecer ao menos 300 milhões de dose da vacina.
Com a previsão das primeiras entregas a partir de outubro deste ano, a vacina em questão entrará na fase 3 de estudos clínicos a partir de junho, com a participação de aproximadamente 30 mil voluntários nos Estados Unidos.
O acordo com a AstraZeneca envolve a colaboração para o acesso a pelo menos 300 milhões de doses da vacina
“O governo Trump está fazendo grandes investimentos no desenvolvimento e fabricação de vacinas promissoras muito antes de serem aprovadas, para que uma vacina bem-sucedida chegue ao povo americano sem que um dia seja desperdiçado”, disse Alex Azar, secretário da HHS, em comunicado.
Até o momento, uma das candidatas mais promissoras para atender ao desejo americano é a Moderna. Na segunda-feira, 18 de maio, a empresa sediada em Cambridge, Massachusetts, divulgou que obteve resultados positivos nos primeiros testes realizados com 45 voluntários.
Além dos quatro projetos de vacinas, os Estados Unidos, por meio da BARDA, estão financiando outras iniciativas, entre elas, sete tipos de tratamento e 17 testes de diagnóstico para o novo coronavírus.
Contra o tempo
Todos os movimentos de Trump e seus pares em busca de uma droga contra a Covid-19 estão reunidos sob uma operação batizada de “Warp Speed”.
Inspirada no Projeto Manhattan, programa de pesquisa que desenvolveu a bomba atômica na Segunda Guerra Mundial, a iniciativa tenta reduzir o tempo de produção de uma vacina e tem como meta obter 100 milhões de doses até o fim do ano.
Anunciada oficialmente há uma semana, a operação está sob o comando de Moncef Slaoui, ex-executivo da farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK). Para apoiar esses esforços, o congresso americano destinou um total de US$ 9,5 bilhões.
Com esse volume de recursos e os financiamentos divulgados até o momento, os Estados Unidos vêm alimentando uma preocupação crescente sobre uma eventual preferência no acesso às doses de uma vacina bem-sucedida.
Para apoiar os esforços em busca de uma vacina, o congresso americano destinou um total de US$ 9,5 bilhões à operação "Warp Speed"
Essa questão veio à tona na quarta-feira, 13 de maio, quando Paul Hudson, CEO da Sanofi, disse à agência Bloomberg que o país seria o primeiro na fila quando a farmacêutica desenvolvesse sua vacina.
Depois de gerar irritação no governo francês, no dia seguinte, Serge Weinberg, presidente do Conselho de Administração da companhia procurou acalmar os ânimos, desmentindo o executivo.
Ao mesmo tempo, já há indícios que a guerra travada entre os Estados Unidos e a China será replicada nesse campo. Na semana passada, o FBI e a Agência de Segurança em Infraestrutura e Cibersegurança (CISA, na sigla em inglês) divulgaram um comunicado alertando que hackers e pesquisadores, apoiados por Pequim, estariam promovendo ataques para roubar dados de estudos americanos relacionados à Covid-19, incluindo as pesquisas sobre vacinas.
A resposta não tardou. Zhao Lijan, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, afirmou em coletiva de imprensa que, a julgar pelo histórico, os Estados Unidos realizaram as maiores operações de roubo da internet.
“A China está na vanguarda da investigação sobre vacinas e tratamentos para a Covid-19”, afirmou Lijan. “Portanto, possui mais motivos do que qualquer um para suspeitar do roubo de informações.”
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