Walter Schalka, presidente da Suzano, maior produtora de celulose de eucalipto do mundo, é dos raros executivos que se enquadram no papel dos CEOs ativistas, aqueles que encampam uma causa e não ficam em cima do muro.
Na opinião dele, tanto executivos como empresários têm um papel fundamental nas mazelas, na desigualdade e na situação atual do País, que se agravou com a chegada do coronavírus. Que papel seria esse? A omissão nos últimos anos.
“Achávamos que os executivos e os empresários tinham como responsabilidade melhorar a eficiência de suas próprias empresas, mas esquecemos que precisamos olhar também a eficiência da sociedade como um todo”, diz Schalka ao NeoFeed.
Na entrevista que segue, Schalka discorre sobre os mais variados assuntos. De meio-ambiente à economia, de educação à política, de gestão ao mercado de papel e celulose no mundo. O executivo também fala sobre a doação de 1 milhão de máscaras e o suporte para a fabricação de respiradores da Magnamed.
No comando da empresa, uma gigante, resultado da união da Suzano com a Fibria, que anotou uma receita de R$ 18,9 bilhões em 2019, e tem uma capacidade de produção de 10,9 milhões de toneladas de celulose e 1,4 milhão de toneladas de papel, ele teme que a crise leve o Brasil para uma depressão econômica.
Ele avalia também o cenário global e a desconexão das bolsas com a economia real. “Vamos ter uma recessão global expressiva. O que está acontecendo nesse momento é uma injeção de liquidez tão brutal no mundo que, obviamente, está beneficiando o mercado financeiro. Mas o mercado real ainda está longe de reagir de maneira adequada”, diz. Acompanhe:
O que mudou no mercado de celulose depois da pandemia?
O mercado de celulose tem diversas utilizações e queremos expandir para outras áreas em que não vínhamos atuando. Mas os principais mercados em que a celulose atende hoje no mundo são os mercados de tissue (usado na fabricação de papéis higiênico, lenço de papel e papel toalha), de printing and writing e de papéis decorativos. E cada um está tendo um comportamento muito diferente na pré e na pós-pandemia.
Como estão se comportando?
O mercado de tissue teve um crescimento muito expressivo num primeiro momento, mas agora volta para um patamar ligeiramente acima do passado. Estimo que vamos ter um crescimento estrutural de 3% na demanda de tissue global por questões sanitárias. O mercado de printing and writing vai ter uma queda e não conseguimos ter visibilidade ainda se é só uma queda conjuntural ou se é estrutural. O aumento do home office, a redução das pessoas nos escritórios, a redução do turismo também leva a uma redução de consumo. O mercado de livros e cadernos volta depois da pandemia, mas houve uma queda. No mercado europeu, a queda da demanda foi de 37% em maio deste ano em relação a maio do ano passado.
A Suzano é uma empresa que exporta mais de 90% da produção. Em quais mercados a empresa sentiu mais?
A China já voltou ao normal e representa 50% do volume. A Europa caiu e vem num processo de recuperação. Nos Estados Unidos, ainda está no pico de consumo na parte de tissue. O conjunto da obra é que os nossos volumes não estão se alterando de forma significativa. Tivemos um bom primeiro trimestre, batemos recorde de venda histórico em celulose e no segundo trimestre continuamos em ritmo normal de faturamento. Já no mercado de papel interno teve uma queda expressiva e o que estamos fazendo é reduzindo a produção, deixando de produzir papel e secando celulose e exportando mais celulose. O mercado de bens e consumo, que ainda é muito pequeno para nós, está operando a plena capacidade.
“Acho que teremos uma retração global expressiva. Acho que nem recessão será, será uma depressão e mais acelerada no Brasil”
Qual é a sua análise sobre a economia global?
Vamos ter uma dispersão bastante grande em diversos setores na economia. Acho que teremos uma retração global expressiva. Acho que nem recessão será, será uma depressão e mais acelerada no Brasil. Alguns setores serão muito afetados e outros até serão beneficiados. Setor de alimentos, por exemplo, está crescendo. No nosso caso, o mercado de tissue é uma commodity de consumo, esse mercado não imagino sendo afetado e, por questões sanitárias, esse consumo tende a aumentar mais um pouquinho. Os setores de serviços, de vestuário, automobilístico serão muito afetados.
Você é um empresário muito ligado às questões econômicas e sociais do País e participa até de um movimento chamado Muda Brasil. Qual é a sua opinião sobre o momento que estamos vivendo ambiental?
Defendo uma tese de que o Brasil tem uma oportunidade significativa na questão ambiental global. O Brasil é um ator muito relevante na questão ambiental dada a existência das nossas florestas. E deveríamos aproveitar isso para criar valor para muitos brasileiros. Temos de combater o desmatamento ilegal na Amazônia que hoje representa, em números de diversas fontes, entre 97% e 99% dos desmatamentos na Amazônia. Temos de combater isso fortemente. E fico muito feliz que o general Mourão, que assumiu o Conselho da Amazônia, também declarou isso. Espero que medidas efetivas sejam tomadas nessa direção. Mas o Brasil poderia fazer muito mais do que isso.
O que deveria fazer?
Deveria defender trabalhar em créditos de carbono. E eu já explicitei isso para diversas pessoas porque eu acredito que essa é a solução estrutural para o problema da Amazônia e do Brasil. Se o País tiver um sistema de créditos de carbono efetivo, o Brasil vai acabar monetizando essa manutenção das florestas. O Brasil só tem um problema de carbono porque tem as queimadas na Amazônia, que são em benefício de pouquíssimas pessoas, alguns poucos madeireiros, grileiros. O País, a sociedade, não se beneficia disso. Se o Brasil combater o desmatamento ilegal e monetizar os créditos de carbono, o País pode gerar, em estimativas que fiz, cerca de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões por ano. Poderia usar isso para o benefício das populações da Amazônia e do Brasil como um todo. Com esse dinheiro, poderíamos ter um instrumento de proteção muito efetiva para evitar o desmatamento, seria bom para o mundo e seria bom para o Brasil.
Mas a imagem do País nesta questão não está boa no exterior. A preocupação dos investidores estrangeiros com a questão ambiental é grande...
Reconheço que há esse problema de imagem do Brasil no exterior, converso com as pessoas e vejo isso. Tenho conclamado o governo brasileiro a assumir uma responsabilidade de proteção da Amazônia. E é uma proteção baseada numa lei existente, não precisa mudar a lei, é só combater a ilegalidade. Ao fazermos isso, vamos voltar a recuperar a credibilidade. Deixo aqui uma mensagem para o governo brasileiro, em especial para o vice-presidente Mourão, que, pelo menos, verbalmente tem colocado de uma forma muito positiva isso, que essa pode ser uma ação muito relevante para a recuperação da credibilidade do Brasil no exterior.
“O Brasil precisa entender qual é o seu papel no mercado global”
Como melhorar a imagem se o ministro do meio-ambiente (Ricardo Salles) diz, em uma reunião ministerial, para o governo aproveitar que a imprensa está falando só de Covid-19 e afrouxar regras e “passar a boiada? Isso não preocupa?
Preocupa, atrapalha e é desnecessário. O Brasil precisa entender qual é o seu papel no mercado global. O Brasil é um país muito relevante na economia global, tem laços de relacionamento com muitos parceiros comerciais do mundo. O Brasil é muito dependente da exportação, dependente da exportação do agro. O agro moderno do Brasil tem feito uma cadeia de rastreabilidade muito adequada. Infelizmente ainda tem o agro depredador e temos de combater esse agro mais antigo, que é um agro expansionista desnecessário. Com as áreas que o Brasil já tem aberta, com ganhos de produtividade, o País poderia aumentar a produção global. Esse discurso de que o Brasil precisa aumentar a área de produção de alimentos não é verdadeiro. Ele é justificador para a situação atual. Na realidade, o Brasil precisa aumentar a produtividade não só operacional, mas também logística porque perdemos muito no transporte das áreas de produção até os portos.
Políticos europeus já estão pressionando para que o acordo entre Mercosul e União Europeia não saia. Você enxerga risco de não sair?
Vejo risco sim. Já vimos duas ações, uma da Áustria e outra da Holanda com posições contrárias. Se não fizermos nada, isso pode se disseminar e colocar o acordo em risco.
Muitos analistas dizem que a preocupação dos europeus é econômica. O quanto você acha que tem de preocupação ambiental e de protecionismo por parte dos europeus?
Costumo falar que, onde tem essas questões de duas ou três hipóteses, todas elas são válidas. Existe, sim, esse protecionismo europeu e também existe a questão ambiental. Em relação ao protecionismo europeu, temos de estar preparados para mostrar que isso é inaceitável. Se eles querem ter um acordo de livre comércio, não pode ter protecionismo em áreas específicas de atuação. Isso, quero deixar muito claro, não afeta a Suzano, mas afeta o Brasil e eu, como brasileiro, estou dizendo que precisamos trabalhar nisso. Mas precisamos também dar o exemplo ambiental. Precisamos deixar uma justificativa na questão ambiental para que, até os protecionistas, consigam se colocar atrás dela e não colocar o acordo em risco.
A Suzano já sofreu por conta da questão ambiental?
É o oposto. Por sermos referência, as pessoas sabem que precisam apoiar não só a Suzano, mas todas as empresas que são referência na questão ambiental. Temos sido procurados por investidores e elogiados pelos clientes pelas ações que a Suzano tem tomado. Até agora não tivemos nenhum lado negativo da história. Mas temos de olhar não só pela Suzano e sim pelo Brasil.
Quais são as ações da Suzano nesse sentido?
No começo do ano, anunciamos três grandes metas muito ambiciosas para a próxima década. A primeira grande meta é retirar 10 milhões de toneladas de plástico repondo por celulose. Estamos abrindo o espectro de atuação da Suzano para entrar em mercados como o têxtil. O têxtil é um mercado de fibras sintéticas através de derivados de petróleo, estamos substituindo por fibras naturais através da celulose. A segunda meta é de retirar 40 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera. Só para colocar em perspectiva, muitas empresas anunciam planos para ser carbono zero daqui 20 anos, 30 anos. A Suzano já é carbono negativo e quer mais. O terceiro ponto é que queremos retirar 200 mil pessoas da pobreza. Estamos trabalhando iniciativas tanto de renda como de educação nas comunidades onde atuamos para retirar essas pessoas da pobreza. Entendemos que esse é o nosso papel perante a sociedade.
Falando em sociedade, você acha que o Brasil vai mudar do jeito que as coisas estão caminhando? Com radicalismo, com a polarização, com ações que beiram o autoritarismo?
Começamos esse Fla x Flu antes da eleição, na época do impeachment, e eu esperava que pós-eleição acabasse essa questão de polarização no País e que tivéssemos uma agenda de construção e solução para o Brasil. Infelizmente, não estamos nisso. Temos de buscar união de todos os brasileiros para endereçar problemas profundos que temos nesse momento. Já vínhamos numa economia fragilizada, precisamos de um processo de recuperação econômica porque o nível de desemprego elevado que já tínhamos agora se agrava.
“A perda do orgulho humano, de as pessoas não trabalharem, é muito perigosa para a sociedade como um todo, precisamos gerar empregos”
O que te preocupa?
A perda do orgulho humano, de as pessoas não trabalharem, é muito perigosa para a sociedade como um todo, precisamos gerar empregos. Precisamos endereçar a questão do meio-ambiente, temos um problema crônico e endêmico de muitos anos, que não começou agora, da qualidade da educação. Temos múltiplos problemas, de saneamento, de habitação, de infraestrutura. Precisamos da união dos brasileiros para resolver isso. Esse negócio de ficar apontando o dedo para um ou para ou outro de quem é o culpado não resolve nada. Não há nenhum país do mundo que tenha saído de um nível de desenvolvimento baixo para um nível de desenvolvimento elevado sem a educação. E temos uma oportunidade ímpar nesse momento.
Por quê?
A pandemia trouxe poucas coisas boas, mas uma coisa boa que trouxe foi a capacidade da digitalização acontecer com maior velocidade. Então, vamos usar a digitalização como instrumento de transformação no Brasil e acelerar a questão da qualidade do ensino no Brasil. Trabalho em um grupo chamado Parceiros da Educação, que apoia escolas públicas, e eu adoto, na pessoa física, uma escola pública há mais de oito anos. Aprendi que a digitalização mudou a história da escola.
De que maneira?
Imagina uma aula de fração dada por um excelente professor de matemática, com informações digitais e num quadro muito bonito. Passa essa aula para as crianças e o professor que está na sala passa a ser um monitor para resolver as dúvidas que estão lá. Mas toda a didática já foi dada por um professor hiperqualificado. Aí, as crianças vão para um processo de gamificação, aprender a fazer fração em joguinhos, passando de fases. A criança começa a errar e, por inteligência artificial, volta para parte da aula que ela está errando e ela vai se desenvolvendo. Parece que isso é outro mundo, mas isso está acontecendo no Brasil, na escola onde atuo, em Diadema (SP). Estou dizendo isso porque o Brasil precisa resolver as questões estruturais. Precisamos sair dessa polarização política e trabalhar a solução efetiva dos problemas.
Como gestor, olhando a situação atual do País, você tem esperança de que resolveremos esses problemas todos?
Temos um ambiente mais difícil. As pessoas perguntam para mim se eu sou otimista, mas eu digo que sou reformista. Precisamos reformar o Brasil. Não adianta querer ser otimista ingênuo e achar que as coisas vão acontecer per se. Se não procurarmos as lideranças do Brasil, o Congresso, o poder Executivo, o Judiciário, e falar que é necessário fazer as transformações vamos ficar sempre patinando e achando um culpado pelo problema. Mas precisamos fazer isso acontecer. O ambiente, eu reconheço, está mais difícil.
Pensando no que você disse de encontrar um único caminho e trazendo para a empresa, a Suzano já conseguiu absorver a Fibria e já se pode dizer que é uma única empresa?
Quando fizemos a fusão com a Fibria, a primeira coisa que fizemos foi trabalhar com a questão da cultura. Normalmente, uma empresa se sobrepõe a cultura da outra e não quisemos isso, nem a cultura A e nem a B. Queríamos uma terceira cultura. Então sentamos e escrevemos qual seria a jornada cultural que gostaríamos de ter. Eram direcionadores baseados em três pilares importantes. O primeiro é “gente que inspira e transforma”, o segundo é “criar e compartilhar valor com todas as partes da sociedade” e o terceiro é “só é bom para nós se for bom para todo mundo”. Tenho orgulho em falar que evoluiu muito essa jornada cultural de 14 de janeiro do ano passado até hoje e a pandemia ajudou muito a acelerar esse processo, a colocar todo mundo junto nesse processo de fazer as coisas acontecerem. Mas cultura é algo que não termina nunca.
“Falamos que entregaríamos sinergias entre R$ 800 milhões e R$ 900 milhões ao ano de economia. Estamos levando esse número para cima, entre R$ 1,1 bilhão e R$ 1,2 bilhão de economia”
E a questão das sinergias, a companhia conseguiu atingir o que havia prometido?
Falamos que entregaríamos sinergias entre R$ 800 milhões e R$ 900 milhões ao ano de economia. Estamos levando esse número para cima, entre R$ 1,1 bilhão e R$ 1,2 bilhão de economia. Nesse ano, vamos atingir 90% disso. Além disso, tem um terceiro ponto, que era unificar processos e sistemas, o que foi feito em janeiro desse ano. Nos três pilares, a empresa foi bastante bem nesse ano. Mas sempre digo que uma coisa é filme e uma coisa é foto. O filme da Suzano é muito bom e continua sendo bom na evolução, mas a foto não é. Se eu me sentar e começar a fazer o jogo dos sete erros, vou achar vários erros na Suzano. Tenho a tranquilidade e humildade de dizer que não dá para falar que a empresa é perfeita e nem que será perfeita. Ela só tem que ser melhor a cada dia.
Hoje, as empresas têm cada vez mais buscado a inovação e a sustentabilidade. A Suzano tem levado à frente os projetos alternativos como os de bioóleo, lignina, entre outros?
Temos um projeto de lignina, outro de tecido através da celulose para o mercado têxtil, o bioóleo também está em discussão. Tem um mundo muito grande de possibilidades e alternativas com a utilização da celulose. Esses projetos de outras aplicações da celulose ou da lignina devem representar 10% dos negócios da companhia em até 5 anos.
Muita gente tem falado que o mundo vai mudar depois do coronavírus. Você acha que vai mudar ou vai passar, as pessoas vão esquecer e vida que segue?
Vou ser transparente. Não sei responder essa pergunta. Vou dar pequenos pitacos do que acredito que pode acontecer. Vai mudar, sim, algumas das relações. Algumas indústrias serão mais afetadas no curto prazo, como setor de serviços e turismo. Mas acho que a questão humana foi pouco alterada. Teve uma primeira sensibilidade na questão da saúde e acho que, a partir do momento em que tivermos a vacina ou o protocolo de tratamento adequado, as pessoas voltarão a ter uma vida diferenciada. Vai implicar em algumas questões naturais em algumas indústrias? Vai. Vai crescer o home office, mas as pessoas estarão menos interessadas em ter veículos próprios, estarão mais interessadas de ter atividades ao ar livre. É muito difícil estabelecer o que será a vida humana depois disso. Vejo uma alteração de geopolítica global muito relevante que vai acontecer a partir daí.
“O que está acontecendo nesse momento é uma injeção de liquidez tão brutal no mundo que, obviamente, está beneficiando o mercado financeiro. Mas o mercado real ainda está longe de reagir de maneira adequada”
Que alteração você vê?
As pessoas vão entender que não podem ser dependentes apenas de regiões específicas produtoras do mundo. Tomo mundo fala muito de globalização, mas quando chegou o “vamos ver”, todo mundo se fechou nos seus próprios países. É só ver o que aconteceu na Europa, eles fecharam as fronteiras entre os países do continente. Vamos ter uma recessão global expressiva. Muita gente tem falado que os mercados estão se recuperando, mas é uma desconexão total entre mercado financeiro e mercado real. O que está acontecendo nesse momento é uma injeção de liquidez tão brutal no mundo que, obviamente, está beneficiando o mercado financeiro. Mas o mercado real ainda está longe de reagir de maneira adequada.
Na sua opinião, qual será o resultado disso?
Os países ficarão muito mais endividados porque, na realidade, estão emitindo dinheiro e dívidas sem contrapartidas da sociedade. Tenho dito para a minha equipe ‘vamos nos preparar para o pior e trabalhar pelo melhor’. Não dá para acharmos que vamos ter uma situação tranquila tendo tantos problemas estruturais na sociedade. E o pior problema de todos é a desigualdade de oportunidades e de renda no mundo e no Brasil. Precisamos reinventar o capitalismo. Da forma como vem acontecendo, e que se agravou na crise, quem é rico fica mais rico ou menos pobre, e quem é mais pobre fica mais vulnerável.
Como reinventar o capitalismo?
Vamos ter de prover para as pessoas as condições mínimas de sobrevivência, que são as questões de habitação, alimentação e saúde. Por aumento de eficiência da sociedade e dos governos, teremos de prover isso para as pessoas. Não dá para as pessoas terem um padrão de vida abaixo do mínimo necessário da qualidade de vida adequada.
No discurso, você está certo. Mas como concretizar isso? Como tornar esse discurso uma realidade?
No Brasil, especificamente, é ter um ganho brutal de produtividade no setor público. O setor público no Brasil é ineficiente e ele representa 40% da economia brasileira. Por hipótese, poderíamos ganhar 20% de produtividade. Isso dá uns 10% do PIB e aplicar na população mais humilde. Aplicar em habitação, em saneamento, em infraestrutura, em educação, em condições necessárias para levar a população para outro patamar. Isso não vai acontecer no dia um, mas pode vir a acontecer. Não podemos gerar esse ganho de produtividade e entregar para a classe mais abastada da sociedade, precisamos entregar para a classe mais humilde.
E a iniciativa privada, onde entra nisso?
A iniciativa privada tem que ter mais voz. Minha percepção é que uma das razões pela situação que temos é a omissão da iniciativa privada durante os últimos anos. Achávamos que os executivos e os empresários tinham como responsabilidade melhorar a eficiência de suas próprias empresas, mas esquecemos que precisamos olhar também a eficiência da sociedade como um todo. É nossa responsabilidade levantar voz, trabalhar e apoiar para que isso aconteça.