Poucas bebidas estão tão ligadas a comemorações como os espumantes, um símbolo de festas e celebrações. E, em 2020, não há muito o que comemorar com a pandemia do novo coronavírus. A importação caiu 17% até setembro deste ano, segundo dados da Ideal Consulting.
Mas, na contramão dessa tendência, a filial brasileira do grupo Henkell Freixenet não tem do que reclamar. A empresa registra um aumento de 50% nas vendas neste período de Covid.
Em 2019, a companhia de origem espanhola que foi comprada pelo grupo alemão Henkell em 2018, vendeu 700 mil garrafas no mercado brasileiro. Neste ano, a previsão é de 1,2 milhão de garrafas.
O segredo da empresa? A decisão de focar as vendas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. “Concentramos nossos esforços em regiões que já têm o hábito de consumir espumantes o ano inteiro”, afirma Fabiano Ruiz, diretor-executivo da Henkell Freixenet no Brasil, ao NeoFeed.
Nos nove primeiros meses de 2020, as vendas nos três estados do Sul do Brasil representaram 51% do total comercializado pela subsidiária brasileira. No mesmo período do ano passado, eram 39%. Na ponta do lápis, a previsão é que o faturamento passe de R$ 28 milhões para R$ 42 milhões.
O bom desempenho da Henkell Freixenet reflete também outras estratégias. Com a pandemia, a filial brasileira contou com o apoio da matriz para bancar a defasagem cambial (a desvalorização média do real em relação ao euro está em 45%), evitando grandes reajustes de preço para o consumidor neste período.
O foco nos estados do Sul foi também uma decisão para sair da “armadilha” dos espumantes, que têm mais de 80% de suas vendas concentradas nos meses de outubro, novembro e dezembro. A estratégia da Henkell Freixenet foi ajudada por um fator fora de seu controle. Com o fechamento das fronteiras, o brasileiro deixou de comprar produtos nos vizinhos Paraguai e Uruguai, assim como em Duty Free.
O resultado, diz Felipe Galtaroça, CEO da Ideal Consulting, é que a Henkell Freixenet está ganhando participação de mercado entre as marcas importadas no mercado brasileiro. Em 2019, os espumantes do grupo representavam 14% do total de espumantes comercializados pelas empresas distribuidoras, categoria que não inclui os supermercados e os e-commerce. Em 2020, a fatia do grupo saltou para 30% deste total.
A Henkell Freixenet focou também na diversificação de seu portfólio. Um exemplo é que a marca de vinhos I Heart, ilustrada com um coração, vai começar a ser elaborada no Chile para os rótulos que virão para o Brasil.
Atualmente, essas garrafas são elaboradas na Espanha e importadas pela Alemanha. A ideia é ter um produto de entrada de linha para concorrer com outros rótulos chilenos, país que lidera a importação de vinhos para o Brasil, com cerca de 50% do total.
No início de 2019, a filial brasileira contava com 30 itens em seu portfólio. Destes, 90% eram espumantes. Neste ano, são 65 itens, dos quais 70% são espumantes. “Trouxemos produtos do nosso portfólio que não eram importados para o Brasil”, diz Ruiz.
Para 2021, a meta é chegar a 100 itens e reduzir ainda mais a fatia dos espumante. Entre os produtos estão outras marcas de vinho, mas também licores e gin.
Isso, no entanto, não significa abandonar os espumantes. Ao contrário. Líder desta bebida na Espanha, com os cavas Freixenet; na Itália, com o prosecco Mionetto; e na Alemanha, com os espumantes Henkell, a empresa não descarta elaborar espumantes no Brasil.
No passado, quando era apenas Freixenet, a empresa chegou a ter uma parceria com a brasileira Miolo, que durou dois anos, para ter o seu espumante brasileiro. Mas, por questões de custo, optou por elaborar o vinho na Argentina. A ideia está de volta ao radar para brindar esse ano que tinha tudo para ser esquecido.