Desde que assumiu o cargo de CEO da GM, em 2014, a executiva Mary Barra vem redefinindo as prioridades da montadora. A principal delas é o foco nos carros elétricos – a meta é abandonar a produção de veículos movidos a combustíveis fósseis até 2035.
Mas não é só na tomada que a GM está se ligando. Criada em 2018 como uma espécie de incubadora de startups, a divisão de inovação da GM vem desenvolvendo uma série de iniciativas em outros setores do mercado, nas quais seus executivos dizem ter identificado US$ 1,3 trilhão de oportunidades.
"Esse é apenas o começo para a próxima geração da General Motors", afirmou Barra, em uma teleconferência com analistas. "Estamos seguindo com nosso plano de transformar a companhia e liderar o setor rumo ao futuro."
A montadora americana já lançou cerca de 20 iniciativas diferentes, incluindo uma unidade de defesa militar, a expansão da marca de tecnologia OnBrand para a área de seguros e dispositivos de segurança e logística. Outras áreas relacionadas à sustentabilidade, como a reciclagem de baterias de veículos para o uso como geradores de energia, também estão sendo estudadas.
A GM estuda ainda o mercado de mobilidade aérea. Trata-se de um conceito totalmente futurista que ainda parece pertencer exclusivamente às histórias de ficção científica, com projetos de carros voadores, um mercado que pode atingir mais de US$ 1 trilhão até a metade da próxima década.
Na estratégia da companhia, essas áreas são complementares à produção de carros elétricos, um mercado que pode chegar a US$ 8 trilhões no futuro.
Nesse setor, a GM tem uma startup dedicada apenas aos veículos autônomos, a Cruise. Avaliada em US$ 30 bilhões, a empresa já recebeu investimentos de gigantes como Microsoft e Walmart, interessados tanto no potencial dos próprios carros quanto nos dados que eles serão capazes de gerar.
Além da produção de veículos elétricos de uso pessoal, a montadora tem projetos de VANs de transporte. As primeiras 500 unidades do modelo EV600, que chegará ao mercado no final deste ano, já foram compradas pela FedEx.
Analistas indicam que com as novas verticais a GM pode competir com muitas das startups que têm aderido à onda das companhias de cheque em branco, os SPACs (special purpose acquisition company), como forma de abrir o capital de maneira mais rápida e menos burocrática.
Entre as startpus de veículos elétricos que aderiram aos SPACs está a Nikola, que desenvolve caminhões e caminhonetes, empresa com a qual GM fez uma parceria. Em junho de 2020, ela fez uma joint venture com a VectoIQ Acquisition Corp. Com isso, captou US$ 700 milhões.
Também em 2020, a Spartan Energy Acquisition, um SPAC, fez uma joint venture com a californiana Fisker, chamada "Apple do setor automotivo". A startup captou US$ 1,1 bilhão e foi avaliada US$ 2,9 bilhões.
"A GM tem tecnologia interna suficiente para competir contra a onda de SPACs, e as novas verticais podem ser separadas e monetizadas com o tempo", afirmou o analista John Murphy, do Bank of America Global Research em uma nota a acionistas, de acordo com o site da CNBC.
Mercado em transformação
A GM não é a única que está se afastando dos veículos tradicionais, movidos a gasolina, diesel e etanol. Nos Estados Unidos, a Tesla ainda é a empresa mais forte do setor, avaliada em US$ 630 bilhões, mas está longe de ser a única. Outras montadoras, entre nomes mais tradicionais, como a Ford, e startups, como a Rivian, também têm acelerado o desenvolvimento de carros elétricos.
Até grandes empresas de tecnologia estão em busca de uma fatia desse mercado. A Apple vem tentando encontrar um parceiro para lançar seus veículos há algum, por enquanto sem sucesso. Na China, outro importante mercado, a fabricante de smartphones Xiaomi anunciou um investimento de US$ 10 bilhões na produção de carros elétricos.
Até agora, o mercado tem reagido bem a estratégia da montadora americana. As ações da GM, avaliada em US$ 84 bilhões, subiram cerca de 180% desde maio do ano passado.
Nem todos, no entanto, estão plenamente convencidos. Em sua carta anual enviada a acionistas da Berkshire Hathaway, o investidor Warren Buffett mostrou que no cenário de veículos elétricos sua principal aposta está na China. A gestora mostrou que é dona de 8,2% na BYD, mais do que os 3,7% que detém da General Motors.