No início de 2020, a Ambev deu o pontapé em uma reestruturação comandada pelo novo CEO Jean Jereissati Neto, na tentativa de recuperar a confiança perdida junto aos investidores. A pandemia tornou a busca por essa virada ainda mais desafiadora.

Um ano depois, no entanto, a Ambev dá sinais de que parte dessa missão foi cumprida. Ao menos é o que indica um relatório divulgado nesta terça-feira pela XP que, depois de iniciar a cobertura da companhia há sete meses, está atualizando o preço-alvo da ação de 17,15 para R$ 20.

Alguns fatores e entregas da Ambev no período sustentam essa atualização. O primeiro deles, classificado pelos analistas da XP como o mais surpreendente, é o crescimento do volume de cervejas da Ambev no Brasil em 2020, mesmo diante de um ambiente macroeconômico mais crítico.

No período, no País, o grupo alcançou um volume de 111,2 milhões de hectolitros, o que representou um crescimento de 4,2% sobre 2019. Considerando a operação global, o avanço foi de 1,4%, para 165,7 milhões de hectolitros.

“Os preços médios também nos surpreenderam positivamente, sobretudo devido à estratégia de diversificação do portfólio da AmBev, aumentando a relevância de marcas de maior valor agregado”, escreveram os analistas Leonardo Alencar e Larissa Pérez.

Nessa área, a dupla destacou lançamentos envolvendo marcas já conhecidas, como a Brahma Duplo Malte, que já figura entre as cinco mais vendidas do grupo. Além do fato de a empresa ter trazido para o País marcas internacionais consagradas como Becks, Michelob Ultra e Modelo.

“Vale lembrar que esse aumento de preços foi feito em cima de uma base de volume crescente, o que também enxergamos com bons olhos”, afirmaram os analistas, sobre o aumento de 13% no preço médio das cervejas do grupo em 2020.

Um terceiro elemento destacado foi o aumento da eficiência operacional que caiu, segundo os analistas, “como uma cerveja gelada em uma tarde quente”. Aqui, eles frisaram o papel exercido por dois componentes, em particular.

O primeiro foi o Zé Delivery, aplicativo de entregas para consumidores que chegou a um volume de 14 milhões de pedidos no primeiro trimestre de 2021. Em segundo lugar, a BEES, plataforma B2B voltada a bares e restaurantes.

“Em um primeiro momento, os dois aplicativos podem soar apenas com novos canais digitais que podem facilitar a comercialização. Entretanto, na nossa visão, ambos podem mudar completamente o jogo”, ressaltaram os analistas.

Nessa direção, eles citaram a necessidade de a Ambev intensificar o trabalho em termos de estratégias de precificação, descontos inteligentes e o investimento em algoritmos para recomendação do portfólio. Frentes que ajudariam a trazer mais volume e, ao mesmo tempo, preços mais altos.

O relatório traz, no entanto, alguns pontos de atenção que seguem no caminho da empresa. Entre esses possíveis obstáculos estão a pressão de custos e a compressão de margens, em virtude de fatores como a desvalorização do real e a manutenção dos preços da commodities em alta.

“Em 2021, enxergamos mais uma queda de margem, para 52,3% no consolidado do ano, e acreditamos que ainda passaremos por alguns anos de margens mais baixas antes da empresa retomar o nível de 2019”, pontuaram os analistas.

A análise inclui ainda a necessidade de bares e restaurantes reabrirem, para que as margens voltem a crescer. Nesse ponto específico, a XP alerta que, além de muitos estabelecimentos estarem funcionando parcialmente, o País vive a perspectiva de uma terceira onda da Covid-19.

“Entendemos que, assim que a vacinação acelerar e bares e restaurantes voltarem a funcionar normalmente, deveremos ver uma melhora nas margens da AmBev, uma vez que as embalagens vendidas nesses canais são significativamente mais lucrativas para a empresa do que aquelas vendidas nos supermercados”, diz o relatório.

Como fator positivo nesse cenário, os analistas destacaram o fato de a Ambev ter operações em outros países, muitos dos quais, já têm um ritmo de vacinação mais acelerado e com perspectivas mais otimistas de volta à normalidade.

As ações da Ambev estavam sendo negociadas com alta de 4,12%, a R$ 18,69, por volta das 14h20. Avaliada em R$ 294 bilhões, a empresa acumula uma valorização de 14,6% em suas ações neste ano, levando-se em consideração o preço do fechamento do pregão da segunda-feira, 31 de maio.