Aos 16 anos, Fernando Melzer é um típico jovem de sua idade que torce para o Grêmio, de Porto Alegre, cidade onde sua família tem raízes, apesar de viver em São Paulo.

Estudante da St. Paul’s, uma das principais escolas privadas de São Paulo, Fernando poderia se comportar como boa parte dos jovens de sua idade, passando horas no celular, trocando mensagens em WhatsApp, jogando videogame com os amigos ou praticando algum tipo de esporte.

O WhatsApp, é verdade, faz parte do dia a dia do jovem. Mas por outra razão. Fernando, que é filho do empresário Eduardo Melzer, da EB Capital, usa o aplicativo de mensagens do Facebook para se comunicar com dezenas de pessoas de escolas públicas e privadas espalhadas pelo Brasil.

O motivo? Ele é um dos idealizadores do Inspire Up, um movimento que começou a ser criado em fevereiro deste ano e que já conta com mais de 100 escolas de todo o Brasil. São alunos de escolas privadas como o Colégio Santa Luiza e Colégio Farias Brito, ambos de Fortaleza, e o Pan American, de Porto Alegre, ou públicas de São Paulo, como a de Capão Redondo.

“Nessa pandemia, resolvi não ficar reclamando, mas sim fazer alguma coisa para ajudar minha geração”, disse Fernando, ao NeoFeed. “Senti por muito tempo bastante gente da minha idade sem esperança e sem inspiração. Foi aí que resolvi me mexer.”

Na quarta-feira, 16 de junho, o Inspire Up, cujo lema é pessoas inspiram pessoas, fez seu primeiro evento online e reuniu para uma conversa o fundador da organização não governamental Gerando Falcões, Edu Lyra; a empresária Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza; e o publicitário Nizan Guanaes, da N Ideias.

“O Fernando mostra muito uma geração que está chegando com vontade e coragem de arregaçar as mangas”, afirma Lira, ao NeoFeed. “Estamos numa travessia social que não importa quanto dinheiro alguém tenha, ou se você vive na periferia ou no condomínio. A única forma é colaborar, senão a coisa degringola.”

Edu Lyra, da Gerando Falcões

A empresária Luiza Helena Trajano, durante o evento online, também elogiou a iniciativa de Fernando. “Como eu fico feliz em ver jovens se preocupando com o Brasil e com esse câncer que é a desigualdade social”, disse ela. Guanaes, vestido com a camisa da seleção brasileira paralímpica, completou. “Vocês precisam ressignificar essa camisa”, afirmou ele.

As palavras de elogio, é claro, podem encher o ego de qualquer um. Mas, no caso de Fernando, ele quer partir para a ação. Neste evento, ele anunciou uma parceria com a Gerando Falcões. A ideia foi criar uma gincana para conseguir doações de cestas básicas para a entidade, que tem a campanha “Corona no Paredão. Fome não.”

A meta é arrecadar 6 mil cestas – cada uma delas custa R$ 50. Vencerá a escola que conseguir mais cestas básicas. “Vamos derrubar um dos principais problemas que eu vejo que é o combate à fome”, diz Fernando.

Mais do que mobilizar os jovens, Fernando também quer dar voz para eles. E mostrar exemplos de garotos, como ele próprio, que estão fazendo a diferença e podem inspirar outras pessoas – de qualquer idade.

É o caso de Rogério Gonçalves, de Sidrolândia (MS), de 15 anos, que ficou conhecido como o menino da lâmpada. Morador de um acampamento do Movimento dos Sem Terra (MST), Gonçalves, quando tinha 13 anos, juntou placas fotovoltaicas e pilhas, itens que achou no lixo, e conseguiu uma forma de iluminar os barracos.

“Eu gosto de mexer e fazer projetos com sucatas”, disse Gonçalves, que participou do evento online do Inspire Up. “Eu consegui uma placa de 3 volts e uma bateria de 3 volts. Pensei que se juntasse o sistema, poderia fazer luz. Fui montando, montando e teve uma hora que deu certo.”

A solução do garoto ajudou a iluminar barracos, que usavam velas para não ficar na escuridão - além de ser um perigo aos moradores. Questionado sobre o que o motiva, ele respondeu: “Não desista. Você tem de batalhar e ir atrás. Porque se você não insistir, não resolve.”

Rogério Gonçalves, o menino da lâmpada

O novo projeto do menino da lâmpada é construir um buggy movido a energia solar. No momento, ele tenta arrecadar fundos para conseguir fazer um protótipo (depois que apareceu no evento do Inpire Up, sua campanha de arrecadação deu um salto, passando de R$ 200 para R$ 4 mil). Mas o grande sonho de Rodrigues é ter um santuário de proteção animal. “Não tenho nenhum terreno ainda, mas vou conseguir”, diz Gonçalves.

Além do menino da lâmpada, diversos jovens puderam expor suas ideias e projetos. Um deles foi o Mãos na Massa, de alunos de São Paulo, que ajuda na construção de casas para pessoas com deficiência. Outro, de Porto Alegre, foi o Jovem News, um jornal online que traz notícias para o público jovem.

De Fortaleza, a ideia apresentada foi o projeto Raiz Quadrada, que dá aulas para alunos de escolas públicas. E, por fim, no Rio de Janeiro, os jovens conheceram o trabalho de voluntariado para a Casa de Apoio à Criança com Câncer Santa Teresa, que apoia as crianças portadoras de Neoplasia. “Queremos inspirar, transformar e mostrar”, afirma Fernando.

O próximo evento do Inspire Up acontece nesta segunda-feira, 21 de junho, a partir das 18h30, no YouTube do movimento. Os convidados são o fundador da XP, Guilherme Benchimol, e o apresentador de tevê Luciano Huck. E, como não podia faltar, o encontro trará mais histórias de jovens empreendedores e inspiradores.

Dessa vez, a conversa será com Abel Rodrigues, um jovem ativista que está à frente do Fridays for Future Brasil, um movimento em busca de justiça climática e socioambiental. Ele também lançou o SOS Amazônia que busca doações para ajudar no enfrentamento da Covid-19 nas comunidades amazônicas.

Com essa “rebeldia”, Fernando, assim como seus convidados, inspirará ainda muitos outros jovens. Assim como o menino da lâmpada, pode ser um farol para tirar o Brasil da escuridão.

Para saber mais, acesse a página do Inspire Up no Instagram.