O comércio eletrônico brasileiro está entrando em uma nova corrida: qual será a empresa que fará a entrega mais rápida ao consumidor? Nessa disputa, o Magazine iniciou um teste em 45 lojas para fazer entregas em até um hora, informou Frederico Trajano, CEO da varejista, ao NeoFeed.

“Esse ano, estamos focando em entregas em 1 hora. Já temos 45 lojas fazendo isso”, diz Trajano. “Então, vamos seguir aumentando o nível de serviço. Na China, você tem entrega em 20 minutos.”

Sem fornecer detalhes, Trajano disse que o objetivo é crescer significativamente esse número ao longo de 2021. Hoje, o Magazine Luiza conta com mais de 1,3 mil lojas.

No primeiro trimestre deste ano, 51% dos pedidos feitos no site do Magazine Luiza foram entregues em até 24 horas. Em dois dias, esse percentual foi de 70%. Esse dado não leva em conta a venda dos sellers de seu marketplace.

“Vamos ampliar a malha física: mais unidades logísticas e mais lojas que funcionam como mini-CDs. E vamos ativar essa malha não só para o 1P (vendas próprias), mas também para o 3P (marketplace). É um investimento que vai beneficiar as duas operações”, afirma Trajano.

Atualmente, a operação de logística do Magazine Luiza conta com 8 mil motoristas, 103 unidades logísticas, 23 centros de distribuição e 80 estações cross docking e de hubs de última milha.

Os rivais do Magazine Luiza estão também trabalhando para fazer entregas cada vez mais rápidas. O Universo Americanas, que conta com a plataforma logística Let's, fez 44% das entregas em até 24 horas. Hoje, 14% dos pedidos são entregues em até 3 horas, segundo balanço de primeiro trimestre. A Via (ex-Via Varejo), dona das marcas Casas Bahia e Ponto, já faz 42% das entregas em 24 horas. Em dois dias, o percentual sobe para 65%.

A melhoria do nível de serviço da área de logística é um dos principais projetos, ao longo de 2021, do Magazine Luiza, cujas vendas totais atingiram R$ 12,5 bilhões no primeiro trimestre deste ano, um crescimento de 63%. O lucro líquido ajustado foi de R$ 81 milhões, saindo de um prejuízo de R$ 8 milhões no mesmo período do ano passado.

As vendas online, por sua vez, saltaram 114%, atingindo R$ 8,8 bilhões, 70% do total. Esse é o quarto trimestre consecutivo em que a operação online dobra de tamanho. Nas lojas físicas, o avanço foi de 4%, um resultado surpreendente, considerando-se que ficaram mais tempo fechadas no primeiro trimestre de 2021 do que há um ano.

Nesta entrevista, Trajano fala sobre os planos para a área logística, comenta sobre a estratégia de aquisições e aborda os planos da área financeira. O Magazine Luiza reportou também ter 3 milhões de contas digitais e que, em três semanas, o seu cartão de crédito conquistou uma base de 100 mil clientes. Confira os principais trechos:

O Magazine Luiza evoluiu bastante na parte logística das vendas próprias (1P). O foco em 2021 é levar esse nível de serviço para os sellers do marketplace (3P)?
Vamos melhorar a nossa logística tanto para o 1P como para o 3P. Esse ano, estamos focando em entregas em 1 hora. Já temos 45 lojas fazendo isso. Então, vamos seguir aumentando o nível de serviço. Na China, você tem entrega em 20 minutos. Mas, mesmo a operação 1P, tem de evoluir muito. E na operação 3P, queremos melhorar. E não vamos crescer o 3P em detrimento do 1P. Quero crescer o GMV total da companhia. Mas hoje, de fato, o nível de serviço de 1P é muito melhor do que o de 3P. A ideia é pegar tudo aquilo que tenho para o 1P e disponibilizar para o 3P. Mas vou seguir melhorando e investindo no um 1P.

O que será feito?
Vamos ampliar a malha física: mais unidades logísticas e mais lojas que funcionam como mini-CDs (Centros de Distribuição). E vamos ativar essa malha não só para o 1P, mas também para o 3P. É um investimento que vai beneficiar as duas operações. Mas o 3P vai melhorar relativamente mais, porque vem de uma base muito ruim, que são os Correios. Hoje, 40% dos sellers utilizam a nossa malha própria. E queremos aumentar muito esse número e reduzir os prazos dos nossos clientes que compram dos sellers.

Você espera que o serviço de logística para os sellers seja semelhante ao das entregas das vendas próprias ao longo de 2021?
O 1P vai continuar com um nível de serviço melhor e essa construção para equalizar o 3P vai demorar alguns anos ainda.

Você comentou que 45 lojas estão fazendo entregas em 1 hora. É um projeto-piloto?
Sim, é um piloto. Vamos crescer significativamente esse número.

A questão logística vai ser essencial na briga do comércio eletrônico em 2021?
Ela sempre foi. Se você olhar o nosso primeiro trimestre, uma das razões pelas quais nós crescemos acima do mercado com rentabilidade foi por ter uma operação logística mais rápida e mais eficiente do que o mercado. Senão, você teria de crescer com investimentos não sustentáveis em marketing ou em margem. Ela já é um diferencial grande. E vai seguir sendo. Quem não tem uma logística boa, uma entrega rápida, tem de anabolizar o seu crescimento, tem de crescer com muito prejuízo. Logística é um diferencial, mas não é o único. Você tem toda a parte de novos serviços, novas categorias, uma experiência de compra legal e de pós-venda boa. Mas, sem dúvida, logística é um fator de diferenciação importante.

Desde o ano passado, o Magazine Luiza fez diversas aquisições em áreas como varejo alimentício, delivery, moda e beleza, logística, serviços financeiros e ads (publicidade). Há outra área que o Magalu está avaliando entrar?
Já delineamos todas. Quisemos deixar claro que essa estratégia de ecossistema digital multicanal vai endereçar essas avenidas de crescimento. Continuamos querendo crescer bastante e digitalizar o varejo brasileiro. Estamos mirando categorias que são pouco penetradas, como moda e beleza; alimentos e bebidas; bens de consumo; e comida preparada, que não deixa de ser um varejo. E acredito que tem um pedaço adjacente, que é o de retail tech. Podemos explorar esse mercado via take rate ou vendendo serviços de tecnologia para pequenos varejistas. E, finalmente, temos grande avenidas de monetização dessas áreas que são o ads (publicidade) e a fintech. Num mundo, você cresce, ganha relevância e frequência. E, no outro, você consegue monetizar com ads e a parte de fintech. É uma operação equilibrada, rentável e sustentável. Não vamos fugir muito dessas oportunidades. Vamos seguir com essa disciplina de investir, tanto organicamente quanto inorganicamente, para explorar essas avenidas de crescimento.

Você comentou, em outras entrevistas, que o mercado iria se surpreender com as aquisições que o Magazine Luiza iria fazer. E, de fato, você comprou desde empresas de delivery até canais de conteúdo no YouTube, como o Jovem Nerd. A agenda de M&A segue forte? O mercado ainda vai se surpreender com as próximas aquisições?
Sim, seguimos com uma agenda de M&A forte. Vamos continuar adicionando empresas interessantes. Agora, como já foram feitas 16 aquisições, o mercado já entende que a empresa tem uma estratégia de ecossistema, que ela é mais horizontal do que verticalizada em uma categoria única. Eu vejo que vai ter proporcionalmente menos surpresa. Vamos seguir comprando ativos que não são óbvios para os investidores, para a concorrência e para os formadores de opinião.

Todas as empresas de varejo querem ter hoje uma fintech para chamar de sua. O Magazine Luiza comprou a Hub. O que se pode esperar da Hub quando a compra for aprovada pelo Banco Central?
Primeiro, temos uma operação de fintech pré-Hub. São 3 milhões de contas do Magalu Pay; são R$ 2,7 bilhões de TPV do Magalu Pagamentos; temos os sellers antecipando recebíveis através do Magalu Pagamentos; temos uma das maiores financeiras independentes do mercado que é a LuizaCred, com 5,5 milhões de cartões ativos e com um carteira de crédito de R$ 13 bilhões. Já somos uma empresa com uma participação muito forte em financiamento ao consumo. O que estamos criando agora são ferramentas digitais e plataformas digitas para explorar esse mundo de financiamento ao consumo e ao pequeno varejo. E a Hub vai ser a plataforma e a espinha dorsal dessa estratégia. Tanto é uma processadora, como é também uma empresa autorizada pelo Banco Central e tem o arcabouço legal e regulatório adequado para explorar esse ambiente de fintech. Eram duas coisas que não tínhamos. Tínhamos a plataforma, mas que não era uma IP (Instituição de Pagamento) regulada. E também não tínhamos a tecnologia. Agora, vamos ter o ‘core’ bancário.

Quais são os serviços que vocês podem prestar e que antes não conseguiam prestar?
Podemos ter FIDC, empréstimo na conta digital. Vamos ser uma conta digital completa.

Vocês dão guidance de quantas contas digitais e quantos cartões pretendem ter ao longo de 2021?
Nós não damos guidance de nada. O nosso número ainda é baixo. Começamos em julho e já temos 3 milhões de contas digitais. A beleza do nosso modelo é que é uma conta totalmente integrada ao superapp. Os clientes que têm a conta no app do Magalu habilitam, em poucos segundos, a conta na nossa fintech. Esse é o nosso grande diferencial. E agora temos o PIX e o cartão de crédito, que nasce totalmente integrado com a conta digital. Todo o cashback do cartão vai voltar para a conta dele. Estamos criando features adicionais para aumentar a utilização, os depósitos e o TPV dessa conta.