No site de relações com investidores do grupo Iguatemi, uma apresentação mostra como a empresa, com participação em 14 shoppings, dois outlets e três torres comerciais, pretende crescer nos próximos anos. Um dos pontos ressaltados pelo grupo passa pelo adensamento do entorno dos shoppings com projetos multiuso.
“A combinação dos usos é muito mais interessante. Pega o JK Iguatemi, ele tem o shopping, mais quatro torres, teatro. Acredito muito na concepção de uso misto”, diz Carlos Jereissati Filho, CEO do grupo Iguatemi, ao NeoFeed. Em breve, por ali, surgirá uma torre residencial em parceria com a JFL Living.
Em Campinas, no Galleria Shopping, o grupo anunciou a construção de uma torre residencial de 18 andares em parceria com a Luggo, startup do grupo MRV&Co. Ela terá 226 unidades de 31 metros quadrados a 46 metros quadrados. Mas, se depender dos planos do Iguatemi, outras unidades surgirão ao redor de seus empreendimentos.
Em São José do Rio Preto e em Sorocaba, onde o grupo conta com shoppings, também serão erguidas torres residenciais. E, em São Paulo, mais uma deverá sair do papel. O NeoFeed apurou que o Iguatemi estuda levantar uma torre residencial ao lado do shopping Market Place, no bairro do Morumbi.
Seriam apartamentos entre 40 metros quadrados e 90 metros quadrados, todos para alugar. Perguntado sobre isso, Jereissati não confirma, mas diz que o Iguatemi está avaliando oportunidades em São Paulo. “Os projetos de uso misto são uma tendência mundial”, diz Alberto Serrentino, sócio-fundador da consultoria Varese Retail.
Os planos começam a sair do papel agora que o grupo, avaliado na bolsa em R$ 6,6 bilhões, consegue enxergar o horizonte com mais clareza, depois de um ano de 2020 em que o setor todo sofreu com os efeitos da pandemia, um abre e fecha que machucou muito o comércio e os principais centros de compras do País. Os resultados do segundo trimestre já dão o tom de como o mercado está observando.
As vendas totais atingiram R$ 2,7 bilhões, um crescimento de 354,4% em relação ao segundo trimestre do ano passado, mas 16,6% a menos do que no segundo trimestre de 2019, quando os shoppings estavam em pleno funcionamento. A receita bruta alcançou R$ 228,2 milhões, 42,6% a mais do que em 2020 e 6,6% maior do que o segundo trimestre de 2019. A receita líquida, por sua vez, foi de R$ 170,3 milhões, 5,8% maior do que no mesmo período de 2020 e 9,3% menor do que em 2019.
“Acreditamos que os resultados da Iguatemi reforçam que a recuperação dos shoppings é uma realidade. Com uma aceleração do ritmo de vacinação no Brasil, esperamos que as restrições sejam amenizadas (todos os shoppings ainda têm algum tipo de restrição) e as vendas se recuperem ainda mais”, escreveram os analistas do BTG Pactual, Gustavo Cambauva e Elvis Credendio.
Os analistas de mercado acreditam que os resultados só não foram mais fortes porque setores como os de alimentação e entretenimento, muito presentes nos shoppings, ainda têm sofrido com algum tipo de restrição por conta da pandemia. Mas, aos poucos, com o avanço da vacinação no País, devem voltar a patamares de 2019.
Outro ponto que é crucial para a retomada dos shoppings é que muitas fronteiras ainda estão fechadas para os brasileiros. No caso do Iguatemi, focado principalmente no público de alta renda, isso faz toda a diferença. “Os brasileiros estão ‘presos’ no Brasil e isso tem feito o consumo represado sair aqui”, diz Jereissati Filho.
“No nosso caso, especificamente no das vendas de grifes internacionais, brinco que tivemos vários Natais durante o ano. Os brasileiros não estão comprando fora. As compras em joalherias voltaram forte, alimentação também voltou com muita força, mostrando que as pessoas estavam cansadas de ficar em casa”, diz o empresário.
A pandemia também serviu como um teste de fogo para o Iguatemi 365, marketplace do grupo que, segundo Jereissati Filho, vem dobrando os resultados. “Recentemente chegamos na região Norte, podendo oferecer o sonho Iguatemi no Brasil todo, levando as principais marcas internacionais”, diz o executivo.
Com mais de 400 grifes vendidas no ambiente digital, algumas delas internacionais que nem lojas têm no Brasil, o 365 se prepara para testar um modelo que pode fazer com que o marketplace ganhe ainda mais tração. Em outubro, o 365 terá uma loja pop-up de 400 metros quadrados no shopping Iguatemi.
Ali, os produtos vendidos no marketplace estarão em exposição para que os clientes possam vê-los e experimentá-los no mundo físico. Mas as vendas continuarão acontecendo apenas online. Trata-se de uma estratégia muito parecida com a adotada pela Amaro, que tem lojas físicas para que os produtos sejam visualizados, mas todas as vendas são digitais.
“Dependendo do resultado, poderemos abrir em outros pontos e não só em shoppings do Iguatemi”, diz Jereissati Filho. Além de ser o cartão de visita do grupo no mundo digital, o executivo afirma que o Iguatemi 365 também pode ajudar a empresa numa provável onda de M&As.
“Há oportunidades quando se olha para o futuro e para a combinação entre o físico e o digital. Os malls isolados não vão conseguir fazer isso. É bem possível que os empreendedores mais antenados queiram estar casados com empresas que tenham essa possibilidade”, afirma Jereissati Filho. E prossegue. “É uma combinação sem volta.”
Entre os mercados que o grupo está mirando numa possível onda de M&A com outros shoppings, estão Rio de Janeiro, Brasília, Rio Grande do Sul e Paraná. “Não há nenhum marketplace premium como o nosso. Quem vende Dolce & Gabbana, Zegna, Tiffany, Polo Ralph Lauren e as marcas menores bacanas, somos nós”, diz Jereissati Filho. Mas não é um mar tão calmo como ele parecer pintar.
Outros grupos nacionais têm se movimentado para ganhar espaço no terreno digital. “O 365 é um negócio independente do shopping e eles estão tentando criar um marketplace de luxo, usando o prestígio e relacionamento para capturar sellers. Mas aí competem com a JHSF”, diz Serrentino, da Varese Retail. O Multiplan, por sua vez, tem investido pesado no Delivery Center, para integrar o físico e o online.
Todas essas movimentações acontecem em meio a uma reestruturação societária proposta pelo grupo Iguatemi. Ela deve unir a Iguatemi e a sua holding controladora, o grupo Jereissati, em uma só companhia. A proposta, que prevê a incorporação das ações do grupo Iguatemi pelo Jereissati, deverá ser votada pelos acionistas minoritários em setembro.
A mudança também inclui a saída de Carlos Jereissati Filho do cargo de CEO da empresa, sendo substituído, a partir de 1 de janeiro de 2022, pela executiva Cristina Betts, atual CFO do grupo Iguatemi. “Estou há duas décadas no comando. Temos de saber entrar e sair no tempo certo”, diz Jereissati Filho. “Ganhamos mais governança para a família e daremos maior evolução para o grupo.”