Quando a Bolsa passou a receber uma enxurrada de novos investidores pessoas físicas, entre 2018 e 2019, não faltou quem dissesse que eles iriam embora na primeira grande crise que aparecesse. Afinal de contas, tratava-se de um público sem tanta educação financeira e pouco acostumado às turbulências do mercado de ações.
Não demorou para que a tese se mostrasse errada. O que se viu, durante a pandemia, foi uma demonstração de resiliência e apetite desse investidor. Tanto que o número de contas com CPFs cadastrados, que já havia saltado de 800 mil para 2,4 milhões entre 2018 e abril de 2020, chegou à marca de 3,8 milhões em agosto de 2021, de acordo com dados da B3.
A RPS Capital, uma gestora que tem R$ 3 bilhões sob gestão e administrava apenas fortunas de family offices, percebeu, então, que era o momento de olhar para esse público.
“Sendo bem sincero, tínhamos um pouco de preconceito com o investidor pessoa física, porque o Brasil é um país economicamente instável”, afirma Paolo Di Sora, sócio e Chief Investment Officer (CIO) da RPS, ao NeoFeed. “Mas eles se mostraram mais resilientes do que achávamos”.
A gestora resolveu se articular para incluir o seu principal fundo - o Total Return, um multimercado com foco maior em ações - nas principais plataformas de investimentos voltadas para o varejo, como XP, BTG Pactual e Guide, para citar algumas.
Disponível desde julho, o fundo fez a proporção de pessoas físicas sair de zero para 8% do total de recursos administrados pela RPS. “E a nossa meta é chegar a 25% no médio prazo”, diz Di Sora, que já tem 3,5 mil CPFs entre seus clientes.
Segundo o gestor, o fundo disponível para o varejo é exatamente o mesmo que é oferecido às famílias atendidas pela RPS. A casa, fundada em 2013, soma 36 family offices, uma rede construída pelos sócios Di Sora e Daniel Vaz, após os dois terem trabalhado por anos com as fortunas da família Safra e de Abilio Diniz.
Na visão de Di Sora, uma das principais razões que levaram à resiliência do investidor pessoa física está no esforço de educação financeira que tem sido feito pelo mercado. “O investidor está sendo educado todos os dias e está ganhando maturidade, com mais exposição a investimentos alternativos”, afirma.
Ele próprio tem procurado explorar as ferramentas de conteúdo, para atrair cada vez mais o público do varejo. “Temos feito podcasts, publicado cartas mensais e até estamos aumentando o nosso time comercial, contratando mais quatro profissionais, para ajudar nesse trabalho de comunicação”, diz Di Sora.
Embora o fundo seja o mesmo para todos os perfis de clientes, a RPS precisou fazer algumas adaptações para atingir a pessoa física que investe por meio dessas plataformas de varejo, como diminuir a aplicação inicial e aumentar a liquidez.
Se antes o investidor precisava aplicar pelo menos R$ 50 mil para entrar no Total Return, no varejo o mínimo passou a ser de R$ 500. Além disso, o prazo para resgate será reduzido de 90 para 30 dias. Só falta bater o martelo em assembleia de cotistas que será convocada nos próximos dias pela RPS, em fato relevante.
Em 2021, o Total Return acumula alta de 10,6%, cinco vezes mais que o CDI, que teve valorização de 2,1%. Desde quando o fundo foi lançado, em 2013, o avanço é de 236%, mais de duas vezes o CDI, que teve aumento de 98,4%.
Por ter demorado a distribuir seus fundos ao varejo, a RPS chega em um mercado que já conta com centenas de assets. Só na XP, a maior plataforma do País, são mais de 200 gestoras, com mais de 600 fundos disponíveis. Na do BTG, outra das principais, são mais de 170 assets, com mais de 700 fundos.
A RPS, porém, não acredita que tenha chegado atrasada. “Entendemos que é um movimento de longo prazo. Não viemos para surfar uma onda. A sofisticação para investir veio para ficar no Brasil”, afirmou Di Sora.