Frequentemente cobrada no mercado financeiro por operar no prejuízo desde a sua fundação há oito anos, o Nubank agora pode, finalmente, dizer que está no azul.
Pela primeira vez, a maior fintech do Brasil registrou lucro líquido, ao anotar ganhos de R$ 76 milhões no primeiro semestre, um resultado que vale só para a operação no Brasil, sem considerar as atividades no exterior, no México e na Colômbia. Na primeira metade do ano passado, a instituição havia apresentado prejuízo de R$ 95 milhões.
O “timing” para a virada no balanço acontece no momento em que o Nubank está se preparando para abrir capital em Nova York. Com a operação no azul, a fintech consegue compor uma tese de investimento mais robusta.
Não que isso seja condição necessária para atrair investidores. Em junho, na mais recente rodada de aportes, o Nubank recebeu US$ 500 milhões da Berkshire Hathaway, a gestora do badalado investidor Warren Buffett. Na época, a fintech foi avaliada em US$ 30 bilhões.
Para chegar ao lucro, o Nubank conseguiu fazer com que seus clientes usassem mais o aplicativo, aumentando a receita com as intermediações financeiras. Enquanto a receita cresceu 91% no primeiro semestre, para R$ 4 bilhões, o número de clientes saltou em ritmo menor, a 60%, para 41 milhões.
Além disso, o resultado da operação de intermediação financeira teve expansão de 98% no primeiro semestre deste ano, para R$ 1,8 bilhão. Enquanto isso, a margem subiu de 45% na primeira metade do ano passado para 47% nos primeiros seis meses de 2021.
"O nosso chamado 'volume de compras' cresceu ainda mais. Os clientes têm usado o Nubank cada vez mais em suas transações com os nossos cartões”, afirma o CFO do Nubank, Guilherme Lago, em post no blog da instituição. Foram R$ 92 bilhões movimentados no período, alta de 105% em relação à primeira metade de 2020.
A chegada ao lucro representa uma previsão cumprida. No ano passado, após registrar a sua primeira queda expressiva no prejuízo, de 32%, para R$ 95 milhões no primeiro semestre, o então CFO do Nubank, Marcelo Kopel, afirmou que a empresa estava caminhando para tingir o balanço de azul em 2021, em razão de uma dinâmica mais favorável no mix de clientes.
Conforme ele disse à época, os clientes mais antigos do Nubank estavam “amadurecendo” e passando a gerar mais transações. Embora os novos usuários continuem chegando, aqueles que estão há mais tempo passam a representar uma fatia maior do bolo, melhorando os números.
Agora no lucro, o Nubank deixou de dizer que estava no prejuízo “por escolha”. Até então, a empresa argumentava que operava no vermelho porque o negócio crescia com velocidade e demandava mais investimentos.
A expansão do número de clientes, de fato, desacelerou. No primeiro semestre do ano passado, o Nubank havia mais do que dobrado a base, para 26 milhões, de 11 milhões no primeiro semestre de 2019.
O lucro, porém, ainda não derrubou totalmente a cautela que ainda existe no mercado financeiro quanto à fintech.
Um profissional ouvido pelo NeoFeed alertou que os números são referentes somente à operação no Brasil e lembrou que o Nubank incorporou em 2021 a plataforma de investimentos Easynvest, que opera em um modelo que cobra taxas. “Tem que esperar o filing do IPO ficar público. Aí teremos uma visão completa”, diz essa fonte.
Segundo o Nubank, o resultado positivo, por enquanto, não será distribuído a acionistas. "Ele ficará na empresa para ser reinvestido em novos produtos e serviços inovadores para os nossos clientes no país", afirma Lago.