O surgimento de companhias como QuintoAndar, que nasceu como uma plataforma de locação de imóveis, e Loft, de venda, fez o setor imobiliário se dar conta de que a digitalização era um imperativo para manter a competitividade.
As imobiliárias tradicionais, focadas no trabalho de corretores e ainda presas a uma burocracia que afastou os clientes mais jovens, acabaram perdendo mercado. Mas não quer dizer que o jogo esteja perdido. E há quem encare isso como oportunidade.
Duas empresas de tecnologia especializadas em soluções para o setor imobiliário, a Superlógica e a Arbo, decidiram unir forças, em uma fusão, para ajudar as imobiliárias tradicionais a reduzir essa distância tecnológica para os unicórnios do mercado.
Do lado da Superlógica, há uma expertise no desenvolvimento de softwares para imobiliárias que atuam com locação e para empresas que administram condomínios. Já a Arbo é focada em softwares para quem opera com compra e venda.
"Vamos estar melhor posicionados para criar uma plataforma única para habitação, integrando todos os players do mercado imobiliário e condominial", afirma Carlos Cêra, CEO da Superlógica, ao NeoFeed. "A Arbo era a perna que faltava."
Enquanto as imobiliárias digitais apostam na desintermediação, a Superlógica e a Arbo querem se valer do capital humano que as imobiliárias já têm nas cidades para crescer de forma rápida.
"O cliente proprietário, por exemplo, precisa de um apoio, assim como um paciente, quando tem uma dor, precisa de um médico", afirma o CEO e fundador da Arbo, Manoel Gonçalves, um ex-corretor de imóveis.
"Nós estamos 'vestindo' as imobiliárias com a tecnologia, então podemos crescer mais rápido. Não fazemos expansão bairro a bairro, ou cidade por cidade, como fazem as imobiliárias digitais", afirma Cêra.
As duas marcas, vale dizer, seguirão separadas. Um novo aplicativo que ambas vão criar juntas ainda está em fase de testes e só deve ser lançado no segundo semestre de 2022. Será um produto oferecido pela Superlógica.
A companhia, fundada em 2001 por Cêra, começou no mercado de condomínios. Hoje, atende cerca de 100 mil clientes nesse segmento e tem 50% de participação.
Após ter recebido um aporte de R$ 300 milhões, feito em dezembro de 2019 pelo Warburg Pincus, fundo norte-americano de private equity, se fundiu, em julho deste ano, à sua principal concorrente em São Paulo, a Ahreas.
Por meio da tecnologia que a Superlógica oferece, as administradoras têm um sistema online para fazer cobranças de boletos, permitir pagamentos e até mesmo disponibilizar serviços bancários básicos aos condôminos, como conta digital e crédito. Segundo Cêra, 60% dos clientes de condomínios usam o “banco” da Superlógica.
Por ter percebido que as imobiliárias têm uma necessidade similar à dos condomínios - receber pagamentos dos consumidores finais de maneira recorrente - a Superlógica também entrou no mercado de locação. Hoje, soma cerca de 600 mil contratos em sua plataforma.
No ano passado, todo o negócio da companhia transacionou R$ 14,6 bilhões. Em 2021, o faturamento deve ser de cerca de R$ 200 milhões, prevê a empresa.
A Arbo, por sua vez, tem 10% de penetração nas imobiliárias e afirma ter 170 mil imóveis à venda em sua plataforma. Em 2020, recebeu aporte de R$ 20 milhões em rodada liderada pela Domo Invest, que tem entre seus sócios Rodrigo Borges, um dos fundadores do Buscapé
As duas também vão se complementar no modelo de receita. A Superlógica, até então, cobrava apenas uma mensalidade dos clientes que usavam a sua plataforma white-label. Já a Arbo, além de cobrar um valor por mês, também oferece ao cliente a possibilidade de repassar uma taxa em cima de cada transação feita na plataforma.
A Arbo, a depender da necessidade do cliente, também pode assumir alguns riscos de investimento. Por exemplo, se a imobiliária não tem expertise para investir em marketing na internet, a companhia de Gonçalves se compromete a assumir essa função, desde que também ganhe quando a venda é efetuada.
A nova plataforma que as duas marcas vão lançar terá todos esses modelos disponíveis. E a ideia é que a receita advinda das transações cresça em relevância. Na própria Arbo, já representa 55%. “O modelo tradicional tem uma margem menor, mas gera uma faturamento sete vezes maior”, afirma Gonçalves.
A principal inspiração para as duas empresas é a chinesa Beike. "A Beike é focada no transacional, atendendo as imobiliárias, e tem 50% do mercado nacional. Lá fora, está ficando mais difícil para as imobiliárias digitais", diz Gonçalves.
Com a fusão, as duas companhias agora estão conectadas a 4,4 mil imobiliárias, em cerca de 300 cidades. O QuintoAndar, por exemplo, está em 49 municípios. "Antes, estávamos adicionando 150 novas imobiliárias por mês. Agora, vamos dobrar, para ter 300 novas imobiliárias por mês", estima Cêra.
A Superlógica e Arbo, embora estejam confiantes em ser um motor de crescimento para as imobiliárias, não são as únicas que estão explorando esse mercado. No segmento de soluções de softwares para imobiliárias, há ainda nomes como Imobzi, Construtor de Vendas e inGaia.
Esta última, inclusive, recebeu um aporte de R$ 95,2 milhões da Jive Investments, em anúncio feito em agosto. A inGaia, fundada há 20 anos, tem 25% no mercado de provedores de tecnologia para o comércio e locação de imóveis usados. A empresa também atua com ferramentas de gestão para condomínios e corretores.
Há, também, as plataformas digitais que apostam no capital humano. A EmCasa, por exemplo, de compra e venda de imóveis, tem feito um esforço para treinar e contratar corretores, por apostar em um modelo de assessoria, onde o profissional ajuda o cliente em todas as fases da transação do imóvel.